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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 182 (01/10/1995)

Começar é Romper o Isolamento

É difícil começar alguma coisa no Brasil. A cultura da estagnação assenta-se, fisicamente, na burocracia estatal e na mentalidade de pessoas-chave do mercado, que detêm instrumentos básicos, como o acesso aos financiamentos, por exemplo. Empresário estreante é quem conhece direito todas as nuanças desse problema.
O caso de Daniel Frederico G. Adloff, vendedor que resolveu montar um negócio por conta própria, é típico. A partir de receitas da sua mãe, ele conseguiu criar a Hagade Massas Ltda. - tel.: (0162) 36-8520 -, que comercializa dezoito produtos com a marca Rita's Massas, como é conhecida pelo público em Araraquara, São Paulo.
Foi uma luta lidar com a papelada para regularizar o empreendimento, crescer sem contar com apoio financeiro para comprar equipamentos adequados, passar um grande sufoco com o arrocho do consumo, arcar com as despesas tributárias, quando teve que sair da condição de microempresa, conseguir montar uma equipe de quinze funcionários e treiná-los na cultura de qualidade, entre outras dificuldades.
Ele está de pé, mas faz, no depoimento a seguir, um relato revelador sobre os problemas que afetam as empresas nascentes no País.

UMA PORTINHA PARA O NHOQUE
"A empresa começou em casa, com dona Rita, que é minha mãe, fazendo nhoque para fora. Eu era vendedor, trabalhava viajando e resolvi entrar no mercado de massas. Começamos devagar, abrindo uma portinha pequenina, trabalhando com as receitas da minha avó, que é a única italiana da família, já que o resto é tudo alemão. Essa herança permanece intacta, tanto que, hoje, dona Rita passa aqui só uma vez por mês para checar a qualidade dos produtos.
Eu achava que só vender nhoque era muito pouco e fomos incrementando, fazendo sempre o recheio à nossa maneira. Hoje, vendemos rondele, canelone, massa para lasanha, lasanha pronta, capelete, entre outros produtos, fazendo diferenciação de sabores. Além de Araraquara, vendemos para Rio Claro, São Carlos, Ribeirão Preto, Sertãozinho, Jaboticabal, Monte Alto. Tem gente vindo de São José do Rio Preto, de Campinas e até de Palmeira do Oeste, que fica bem longe, para comprar de nós.
Antes de abrir a empresa, eu trabalhava com material elétrico e cheguei a vender motor de popa. Usei, então, meu instinto de vendedor: colocava tudo dentro de uma caixa de isopor e saía com meu carro, abrindo mercado."

CAIXA QUASE A ZERO
"O que atrapalha as empresas pequenas é a falta de crédito, falta de dinheiro no mercado. Aqui, sempre trabalhamos com o caixa quase a zero. Conseguimos progredir, mas a partir do próprio faturamento da empresa. Hoje, sentimos dificuldades por falta de capital de giro. Consigo dinheiro só a curto prazo, mas isso não resolve. Preciso comprar máquinas, poderia expandir para atender melhor o mercado.
Começamos com uma máquina com capacidade de apenas oito quilos por hora, hoje, já temos uma maior, que produz 45 quilos por hora. Precisávamos de equipamentos, mas não éramos conhecidos. Quando a gente ia fazer algum tipo de cadastro, comentavam: mas a empresa tem só um ano! Éramos sempre barrados por alguma coisa.
Mas as dificuldades começaram antes, na abertura da empresa. Como eu tinha a HD Representações, quis aproveitar a firma já aberta e transferir, mas foi um engano. Os papéis iam para São Paulo e não voltavam nunca. Demoramos uns seis meses para legalizar tudo. Outro problema foi conseguir o alvará para trabalhar com alimentos.
Na implantação do Real, houve um estouro de vendas que eu não podia agüentar. Tive que contratar mais gente, mas as vendas começaram a diminuir a partir de dezembro e fui obrigado a recuar. Essa situação durou até o fim de março. Fiquei esse período todo com a produção em baixa, mas consegui agüentar. Nesse primeiro ano de Real, quantas empresas não quebraram por falta de linhas de crédito e de um apoio maior do governo? Hoje, chego a ter medo de crescer, pois você, estando embaixo, fica mais fácil de controlar. Procuro investir na produção e crescer conforme minha capacidade produtiva, e não de forma aleatória."

ESPERA INÚTIL
"Tivemos problemas em 1994, aguardando o limite da microempresa que o governo estava para soltar e não soltou. Foram sete meses de espera para continuar sendo microempresa, mas, quando chegou o final do ano, o escritório de contabilidade simplesmente me comunicou que o governo não tinha alterado nada. Passei, então, para uma nova situação e tive que recolher um ICM altíssimo, as despesas com tributos praticamente dobraram. Eu não estava preparado para essa mudança, e isso é que provocou uma crise na empresa.
Não escolhi essa nova situação, foi algo imposto. Falam muito em democracia, mas tem muita coisa imposta para a gente. Hoje, eu perco quatro horas e meia por dia lidando com papel, às voltas com muita burocracia desnecessária. Uma solução seria diminuir a carga tributária e instaurar o imposto único, nem que fosse sobre a venda bruta.
O grande apoio que recebi foi do SEBRAE/SP, onde fiz cursos de marketing e de qualidade total. Isso provocou uma radical mudança na empresa, que ficou mais organizada e produtiva. Antes, achávamos que éramos importantes e que nossa massa vinha em primeiro lugar. Depois, descobrimos o contrário: temos é que nos adaptar ao que o cliente precisa."


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