Informática Adoça Gerenciamento
Sobram motivos
para desconfiar da informática. Nos anos 80, ela era emergente, rara,
desconhecida e com pouca diversidade. Era a época em que as pessoas não
distinguiam software de hardware. "Basta jogar os dois no chão",
diziam os engenheiros. "O que faz barulho é hardware." Nos
anos 90, motivos opostos mantêm a mesma resistência: o excesso de
ofertas e a falta de uniformidade de equipamentos e programas ainda afastam
muita gente do computador.
A pedagoga Líria Satomi Tamura era uma dessas pessoas. Até
o início do ano passado, nem sabia mexer num micro, mas o crescimento
da sua Lyrical Cakes - tel.: (011) 289-2385 -, uma confeitaria especializada
em doces leves - com pouco açúcar e ingredientes naturais - que
ela fundou há quatro anos, pressionou sua má vontade. Não
teve outra alternativa senão sentar em frente ao teclado e sair pesquisando
programas adequados às suas necessidades.
Líria passou por todas as fases conhecidas pelos microempresários:
os duros tempos iniciais, em que a dedicação exclusiva ao negócio
ameaça virar paranóia, o vislumbre dos furos existentes no esquema,
a busca de fornecedores honestos, a luta por um lugar no mercado e, finalmente,
a perspectiva de crescer e desenvolver-se.
No depoimento a seguir, ela fala dessa trajetória, apoiada no seu bem-sucedido
esforço de informatização.
MEU NEGÓCIO É FAZER NEGÓCIO
"Sempre fui apaixonada por doces. Quando criança, minha mãe
convidava as amigas para tomar um chá em casa e ela ficava encarregada
dos salgados. Os docinhos eram comigo. Ela tem um antiquário, mas, como
dona-de-casa, sempre estava atrás de livros de receitas para fazer experiências
culinárias. Minha vocação vem desse ambiente.
Quando visitei o Japão pela primeira vez, aos 18 anos, fiquei fascinada
pelos doces de lá e cheguei a sugerir para meu pai abrir uma confeitaria
no Brasil. Depois que me formei em pedagogia e estudei um ano de especialização
educacional no Japão, resolvi voltar e montar meu próprio negócio.
Cheguei até a vender antiguidades, mas não me entusiasmava por
esse ramo. Comecei, então, usando a garagem para fabricar os doces e
acabei tomando conta do resto da casa.
Hoje, tenho três pessoas na cozinha, quatro no balcão e mais uma
secretária. Trabalhamos com um novo conceito de confeitaria, que vem
da cultura japonesa, da minha família, que é produzir doces leves,
usando frutas frescas, chocolate de verdade (meio amargo, nunca ao leite), chantilly
honesto, evitando todo tipo de imitação ou misturas. Fazemos,
também, uma versão mais leve de doces, como o sacher, que é
uma torta européia, tradicional, à base de chocolate com damasco.
Como tenho preço competitivo e os insumos são mais caros, a margem
de lucro acaba sendo menor."
RECEITAS NO MICRO "A vida do empresário
é difícil, mas não é ruim quando você gosta
do seu trabalho. Não tenho preconceito de trabalhar no fim de semana.
Faço de tudo aqui, desde trabalho de confeiteira até mesmo de
balconista ou faxineira. Mas, nos primeiros dois anos de empresa, eu era exagerada,
neurótica de tanto trabalhar, e não sabia como administrar o tempo.
Minha vida era uma bagunça, pois trabalhava demais e não rendia.
Consegui organizar-me e, hoje, me sinto bem mais saudável. Procurei o
SEBRAE/SP para aprender a mexer em microcomputador. É preciso aprender
coisas que realmente ajudem. Muitas vezes, fiz cursos que não soube aplicar
aqui dentro, que não faziam parte da minha realidade. Para me informatizar,
descobri que o curso, também, não correspondia às minhas
expectativas, pois eu dividia um equipamento com outro aluno. Então,
através do SEBRAE/SP, comecei a receber aulas na minha empresa.
Aprendi a mexer no editor de textos, a fazer planilhas de custos, a etiquetar,
fazer fluxo de caixa, relatórios do mês, relatórios de vendas,
todas as entradas e saídas etc. Depois de muito pesquisar, encontrei
um programa ideal para confeitarias e padarias. Hoje, faço até
ranking de produtos - nosso campeão é a salada de frutas
-, podemos detectar a perda de cada produto, quanto sobra e precisa repor.
No meu fluxo de caixa, eu coloco tudo o que eu gasto em matéria-prima,
bebida, embalagem, manutenção pessoal, telefone, aluguel, limpeza.
Formatei as receitas e coloco tudo no micro."
UMA LOJA PARA CONFEITARIAS
"Tinha muita resistência à tecnologia. Sinto mais prazer em
estar na cozinha, criando um novo produto, trabalhando com o pessoal lá
embaixo, do que ficar em frente do computador, tentando resolver as coisas.
É preciso disciplina: todas as manhãs devemos ligar o equipamento,
pedir para ninguém interromper, atualizar os dados, fechar o caixa. Outro
problema são os programas pirateados e os computadores velhos e obsoletos.
É melhor comprar um micro novo e programas de última geração.
Para enfrentar a sazonalidade - no verão, as vendas de doces caem
-, estamos lançando um rocambole exclusivo, diferente. Até
vendo sorvete aqui, mas não sei fazer. Outra medida foi reformar a cozinha,
ampliando a capacidade de produção. E também estou partindo
para outro negócio, junto com um sócio: A Baker Importação
e Exportação, que é uma loja especializada em acessórios
para confeitarias."
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