Como a Pequena Empresa Vence
Uma pequena empresa,
com algumas máquinas e um pequeno número de empregados, ainda
terá lugar, hoje, num mercado extremamente competitivo e incerto, dominado
geralmente por indústrias de grande porte e alta tecnologia? A resposta
é afirmativa se ela alicerçar-se num somatório de ousadia,
criatividade, força de vontade, esforço pessoal e, sobretudo,
ética, além, é claro, de técnica, qualidade e responsabilidade.
É o caso da Dérig Indústria e Comércio de Ferramentas
Ltda. - Tel.: (011) 826-7702 - empresa paulistana com cerca de oito anos,
que fabrica ferramentas de vídea (chamado metal duro) para a indústria
em geral.
Conforme relata, em depoimento exclusivo, seu proprietário Dario Avelino
da Silva, que dispunha apenas de uma máquina, inicialmente não
pensava em fabricar ferramentas, mas apenas recuperá-las. "A necessidade
levou-me a aceitar qualquer pedido, inclusive para fabricar ferramentas, e não
parei mais", diz. "Atualmente, não faço mais reafiação.
De vez em quando aparece algum pedido de recuperação que não
recuso, como colaboração ao cliente..."
CONHECIMENTO E FORÇA DE VONTADE
"Sou formado em Matemática, que estudei quando começaram
a chegar ao País as máquinas com Controle Numérico Computadorizado
(CNC). Trabalhava numa empresa inglesa que importava as ferramentas, porque
os fornecedores locais não atendiam os níveis de qualidade exigidos.
Posteriormente, problemas com a importação que, às vezes,
acarretavam a retenção do produto nos portos, resultando em paralisação
temporária da produção, forçaram a empresa a desenvolver
as ferramentas internamente. Esse processo, que acompanhei de perto, contribuiu
para o meu desenvolvimento técnico. Eu operava uma máquina de
usinar ferramentas, com avental branco, com mais dois colegas, numa sala fechada
e com ar condicionado. Se, por exemplo, faltava alguém na máquina
de solda, lá ia eu para operá-la. Certa vez, dispus-me até
a afiar brocas. Dessa maneira, ampliava meus conhecimentos técnicos.
Qualquer equipamento novo despertava-me curiosidade, ia 'fuçar'
catálogos e manuais e procurava aprender, na prática, o seu funcionamento
e sua operação."
VISÃO DE MERCADO E CRIATIVIDADE
"Com essa base nesses conhecimentos e de vivência na operação
dos mais variados tipos de máquinas, além de alguma visão
de mercado e muita força de vontade, eu sabia o que queria: crescer profissionalmente,
ter liberdade para fazer coisas novas e, evidentemente, melhorar financeiramente.
Com a cara e a coragem, montei a empresa, concretizando idéia que tive
aos dezenove anos, quando observei numa oficina que mandavam para o lixo ferramentas
industriais aparentemente já sem serventia, mas que ainda poderiam ser
usadas, bastando reciclá-las. Eram peças caras, que não
se jogam fora, pois poderiam ser recuperadas.
Somente com aquela máquina, comprada a prestação, ninguém
acreditava nas minhas possibilidades de trabalho. Durante o dia, saía
em busca de clientes, chegava em casa às 16 horas, tomava banho, fazia
uma refeição e ia para a empresa trabalhar até meia-noite,
duas, três horas da manhã ou até 'virava' a noite.
Tinha de trabalhar duro, porque pagava prestação equivalente a
duas vezes o salário no antigo emprego. Emagreci 15 quilos. Hoje, a empresa
dispõe de onze máquinas."
QUALIDADE VEIO PARA FICAR
"Para um mercado extremamente exigente quanto à credibilidade, pontualidade
e qualidade, por força de maior conscientização dos consumidores,
que pressionam as indústrias, produzimos ferramentas da melhor qualidade,
pois, se estiverem 'mais ou menos' vão causar problemas ao
cliente e certamente serão devolvidas. Seu lugar, então, deve
ser o lixo. Procuro transmitir esse conceito aos operários, tanto que
nosso índice de devolução é zero. Mesmo quando raramente
acontece, o motivo geralmente é desenho errado que nos forneceram. Também
a matéria-prima que utilizamos - a vídea, fornecida por uma
empresa americana - já está bem testada entre os clientes,
e não há nenhum problema técnico. Por isso, as minhas ferramentas
não são as mais baratas, o preço é compatível
com a qualidade. O mercado está muito mudado, paga muito bem por qualidade
e segurança e tal situação, a meu ver, não tem retorno,
devendo balizar o comportamento das empresas daqui por diante."
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