Tecnologia Começa no Comportamento
Quem acha que não
tem problemas está precisando de ajuda. Esse tipo de postura alimenta
o desconhecimento e pode ser fatal para os negócios. Quando o pior acontece,
não se deve procurar as causas na crise ou no governo, mas internamente,
no comportamento inadequado de quem ainda não aprendeu a enxergar as
próprias deficiências. Mudar esse enfoque tem sido o trabalho do
Programa de Desenvolvimento Tecnológico do SEBRAE, que atua através
de projetos integrados, sensibilizando, orientando e instrumentando todos os
que precisam de apoio.
Muitas vezes o empresário acha que está precisando só de
capital de giro, ou de financiamento para novas máquinas, mas acaba descobrindo
que o furo está nos processos de gestão, na tecnologia empregada,
na concepção do produto ou mesmo na embalagem. Para chegar a essa
conclusão, ele percorre várias etapas em que vai descobrindo as
próprias necessidades e agindo em favor da sua transformação.
O resultado tem sido gratificante: no Estado de São Paulo, 10 mil empresários
foram atendidos em 1992, 40 mil em 1993 e 60 mil no primeiro semestre deste
ano.
Mas o impacto positivo pode ser sentido também nas universidades e nos
centros de pesquisa, que, com esse relacionamento, podem repassar e testar a
tecnologia de maneira permanente, gerando benefícios para a sociedade.
E as grandes empresas também saíram ganhando com a capacitação
dos seus fornecedores - a maioria de micro e pequeno portes -, podendo,
assim, através da terceirização, aumentar a produtividade,
modernizando seus métodos e evitando desperdícios.
A seguir, destacamos os principais aspectos desse trabalho do SEBRAE.
APRENDENDO COM OS CONCORRENTES
A experiência mostra que os clientes do programa se dividem em três
grandes grupos. O primeiro é formado pelos que têm problemas, conseguem
identificá-los, mas não sabem onde buscar socorro. O segundo são
os que também têm problemas, mas não conseguem identificá-los
e, portanto, acham que não precisam de ajuda. E o terceiro são
os que sequer sabem que têm problemas e atribuem seus insucessos a agentes
externos. O objetivo é despertar a consciência das necessidades
e atendê-las para melhorar a competitividade bem como a lucratividade.
O primeiro sintoma de que as coisas não estão correndo bem é
a perda de mercado. O segundo sintoma grave é quando a exigência
de capital de giro começa a crescer. Às vezes, a causa pode ser
simples, como uma embalagem inadequada ou o corte malfeito numa confecção.
Esse tipo de caso é resolvido nas primeiras duas horas de consulta gratuita.
Quanto mais o cliente aprofunda-se na busca de soluções para suas
necessidades, mais sofisticado fica o caminho de acesso à tecnologia.
A sensibilização começa com o Projeto de Qualidade Total,
que mexe com o comportamento das pessoas. Os degraus seguintes são a
informação, o conhecimento e o treinamento. Nos trabalhos de grupo,
muitas vezes a troca de informações entre empresários serve
para queimar etapas e resolver problemas emergentes de maneira ágil.
Além disso, o associativismo e a metodologia do SEBRAE permitem que um
grupo de empresas possa, por exemplo, implantar a ISO-9000 em sete meses a custos
que variam entre US$ 7 mil e US$ 8 mil, o que poderia levar anos a preços
entre US$ 40 e US$ 50 mil.
FIM DOS LUNÁTICOS E DOS IMEDIATISTAS O programa
aproxima as empresas dos centros tecnológicos, como a Universidade de
São Paulo (USP), o Instituto de Pesquisas Energéticas (IPEN),
o Instituto Mauá de Tecnologia, entre outros, que repassam conhecimento
em áreas diversas, inclusive as de vanguarda, como alimentação
dietética, insumos farmacológicos, novos materiais, informática,
mecânica de precisão etc. Traz também tecnologia do exterior,
promovendo a aproximação através de 'joint ventures',
em que empresas estrangeiras de vanguarda repassam tecnologia para parceiros
brasileiros em troca do nosso mercado.
A aproximação universidade-empresa exigiu uma quebra de paradigmas
nos dois lados. O pesquisador via muito o empresário como um imediatista
em busca do lucro, mas o preconceito era recíproco, pois o empresário
muitas vezes via o pesquisador como um lunático. Depois de quebrar as
resistências iniciais, foi possível deslanchar um processo proveitoso
para todos, e essa integração está atingindo as ciências
humanas, como Psicologia e Sociologia, que são especialistas em comportamento.
A universidade começa a descobrir que seu grande nicho de atuação
é nas micro e pequenas empresas, já que as grandes corporações
ou possuem seus próprios centros de pesquisa ou costumam buscar tecnologia
nas universidades do exterior.
SEU PROBLEMA É DINHEIRO? Às vezes, um
financiamento pode apressar uma falência. O importante é que a
visão do empresário não confunda necessidade de capital
com erros estratégicos. É por isso que a busca de recursos está
ligada diretamente ao Programa de Desenvolvimento Tecnológico. É
preciso saber o que é fluxo de caixa, não misturar correção
monetária com juros, discernir entre giro e investimento e assim por
diante. Problemas básicos como esses são muito mais comuns do
que se imagina.
Existem vários canais de parcerias com o SEBRAE na área de financiamento,
como o Banco do Brasil (BB), a Caixa Econômica Federal (CEF) e a Financiadora
de Estudos e Projetos (Finep). O BB trabalha com TR mais 12% ao ano, libera
R$ 20 mil com até um ano de carência e até dois de amortização
e objetiva basicamente novos investimentos em tecnologia e gestão empresarial.
A Finep financia até US$ 100 mil, com prazos de carência até
três anos e sete anos de amortização, e financia desenvolvimento
de novos produtos e processos. E a CEF trabalha com giro, numa faixa de até
R$ 5 mil. O montante liberado tem a ver com o potencial da empresa e sua capacidade
de dar garantias. Esses itens são analisados pelo SEBRAE, que faz a triagem
e passa para a rede bancária projetos com baixíssimo índice
de inadimplência.
Antes de tentar obter financiamentos, o empresário deve optar por um
exercício importante para evitar os erros. Trata-se da confecção
de um Plano de Negócios, que é a definição da estratégia
empresarial. O que você faz? O que precisa fazer? Qual a tecnologia utilizada?
Quais seus canais de comercialização? Qual a filosofia e qual
a história da sua empresa? Esse plano mostra quais as necessidades reais
do empreendimento.
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