O Demolidor das Crises
A palavra crise está incorporada ao cotidiano das empresas brasileiras há tantas décadas que acabou servindo de justificativa para qualquer tipo de comportamento. Quando falta dinheiro e os negócios se tornam escassos, a culpa é sempre da crise. Por outro lado, quando há recursos disponíveis, a maioria dos dirigentes empresariais prefere não investir para crescer por causa da crise. Quem perde com essa conduta é a sociedade, pelo aumento das taxas de desemprego, e o País, que tem a sua economia estagnada. É crise gerando mais crise e criando um círculo vicioso que precisa ser rompido. No entanto, os grandes prejudicados são mesmo os empreendedores, que ficam paralisados e desperdiçam oportunidades valiosas de expansão justamente nos momentos em que é possível preparar-se para crescer de forma gradual e econômica, sem perder de vista a dinâmica estrutural do mercado, que oscila entre períodos de retração e de desenvolvimento. Quem soube ver e aproveitar essa oportunidade foi Eloi D'Avila de Oliveira, presidente da Flytour Viagens e Turismo - www.flytour.com.br -, uma rede de agências de viagem que opera em todo o território nacional. Em depoimento exclusivo, ele revela a estratégia de se preparar para expandir enquanto todos aguardam dias melhores.
COMEÇO
"Fugi de casa aos oito anos de idade, engraxei sapatos, vendi pastel e, quando guardava e lavava carros em frente ao Copacabana Palace, com 12 anos de idade, conheci um guia de turismo que me apresentou à Stella Barros e eu fui trabalhar com ela. Fazia o café da manhã, limpava tudo e dormia no sofá da agência. Foi lá que comecei na indústria do turismo. Depois, vim para São Paulo morar com uma irmã que tinha-me criado, e foi então que ingressei na Bradesco Turismo como escriturário, pois já era do banco. Em 1970, fui trabalhar nas Linhas Aéreas Paraguaias e, quatro anos mais tarde, saí para montar a Eloi D'Avila de Oliveira Representações (EDO), que hoje é a Flytour. Na época, havia um oligopólio, e eu sentia que as companhias aéreas não sabiam vender. Por isso, montei a empresa para ser um intermediário entre os agentes de viagem e as companhias aéreas, já que eu tinha aprendido a negociar muito bem nesse mercado."
DISTRIBUIÇÃO
"Em 1974, para ter crédito na Varig, era preciso fornecer dois fiadores e um imóvel. Eu entrei com os imóveis que fui comprando e corri o risco. Valeu a pena, porque atualmente tenho a maior empresa consolidada da América Latina para agentes de viagem. Hoje, 50% do negócio está voltado às empresas. Quem está direcionado ao público direto são as 150 unidades da Flytour, ou seja, a rede Flytour Brasil. Em 1993, criamos uma divisão nossa de franchising com toda a formatação necessária, que já conta com 43 franquias. Como empresário, eu invisto muito em distribuição, esse é o nosso negócio. Somos prestadores de serviço na área de distribuição, ou seja, fazemos logística com os produtos que representamos, sejam hotéis, sejam companhias aéreas. Não temos avião, nem hotel, nem automóvel para fazer transporte, mas prestamos serviços para os donos desses bens."
AÇÃO VISIONÁRIA
"Sempre foi uma estratégia nossa investir na baixa temporada, quando o Brasil está em crise, porque tudo está mais barato, os juros pagos diretamente aos fornecedores são mais baixos e não há necessidade de banco. Eu sou um empreendedor da crise. Nós nos preparamos na crise e, quando o mercado cresce, estamos prontos para atendê-lo. Todo mundo chora na crise e continua chorando depois, quando não pode atender os clientes. Nós preferimos chorar gastando, pois, quando vem a demanda, estamos prontos para atendê-la. O Brasil funciona como um serrote que sobe e desce. Estamo-nos preparando neste momento, porque o serrote estará para cima a partir de maio do próximo ano. O empresário brasileiro é um artista, um negociador que negocia com a sua platéia o tempo todo e não está sozinho, pois interage com o seu público. Por isso, ele deve ser uma pessoa criativa, expansiva, que sabe lidar com o seu lado emocional para administrar conflitos. Como brasileiros, somos bons nisso, só não podemos deixar a arrogância subir à cabeça. Temos que ter visão e ação, sempre com humildade para aprender e ganhar."
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