.
Autor:
Dorival Jesus Augusto
Qualificação: Presidente do Imemo - Instituto da Memória Empresarial (www.imemo.com.br)
E-mail: [email protected]
Data:
28/06/06
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

A Conquista dos Espaços

Se existe algo que mudou realmente no Brasil foi a capacidade de os empresários ocuparem os espaços disponíveis do mercado. As demandas não costumam mais ficar por muito tempo sem serem atendidas, pois a motivação empreendedora ganhou impulso nas últimas décadas, graças a uma série de fatores bem conhecidos. O principal deles é que os empresários conseguiram desvincular suas ações das expectativas geradas pela conjuntura.

Não se trata de “esquecer” o que vai pelo país e o mundo, mas apenas o não se deixar abater pelos ciclos que, pelos mais variados motivos, alternam ondas de pessimismo (preço do petróleo, câmbio desfavorável, engessamento burocrático, peso dos impostos) com prognósticos otimistas (investimentos, novas tecnologias, conquista de mercados). Tanto os períodos de espera quanto as reações em cadeia contra a estagnação cada vez mais passam ao largo dos que conseguem realmente capacitação para enfrentar as dificuldades. Isso se deve a uma soma de qualidades, algumas inatas, outras adquiridas, que fazem parte do acervo dos empresários brasileiros. E que merecem análise fora dos lugares comuns que a toda hora aportam nos perfis, nas análises e no noticiário.

É esse o ponto que devemos detectar no mundo dos negócios: a estratégia empresarial depende da percepção que o responsável pelo empreendimento tem das suas chances, da força que consegue imprimir na sua trajetória, dos obstáculos que enfrenta ou contorna. Temos exemplos contundentes desse trabalho de pioneirismo e de consolidação de sonhos e projetos. Basta pegarmos os depoimentos, dados ao programa Sala do Empresário, por parte de quem conseguiu fazer História com essa marca de determinação e reinvenção permanente das oportunidades .

Quando não havia indústria automobilística no país, por exemplo, Abraham Kasinski decidiu nos anos 50 introduzir peças automotivas brasileiras num mercado dominado por marcas estrangeiras. Era difícil convencer o mercado de que podíamos competir? Sem dúvida. Houve problemas na aceitação dos produtos?

Sim. Qual foi a saída? Bem, se os comerciantes não compravam as peças, a solução foi convencer os mecânicos de que a Companhia Fabricadora de Peças
(Cofap) não brincava em serviço. Deu certo, mas não bastou. Foi preciso manter a excelência do trabalho e por isso foi criada uma escola para treinar não apenas os funcionários da fábrica, como seus filhos, garantindo assim a longevidade da nova indústria.

Hoje, com o parque industrial brasileiro consolidado, parece fácil revisitar os desafios e achar que as coisas iriam fatalmente se dirigir a esse desfecho. Mas é preciso lembrar que na hora da decisão, o que conta é o faro do empreendedor, a garra dele e de sua equipe e o vislumbre das tendências do mercado, sempre tão volátil e desafiador. Naquela época, o norte era a indústria americana.
Mas isso mudou, com o milagre japonês a partir dos anos 70. O que fez o empresário? Contratou Edwards Deming, o pai da Qualidade Total, e que tinha sido adotado pelos japoneses que a partir dele conseguiram promover o seu grande salto. A Cofap introduziu os métodos de Deming, que buscam a produtividade igual, programando-se as metas a serem alcançadas.

Essa é a edição número n. 1 da Sala do Empresário, que dá uma idéia clara do nível de realizações empresariais do Brasil, e que hoje faz parte do acervo do Imemo – Instituto de Memória Empresarial (www.imemo.com.br). Notem a riqueza dos detalhes dessa ação empreendedora, que nos remete a outros exemplos, igualmente compensadores.

Pessoas criam empresas a partir de algo que não existe – uma indústria de auto-peças no Brasil, por exemplo – mas temos outras que recebem uma fábrica como herança e a transformam num caso excepcional de sucesso. É o caso de outro entrevistado da Sala, Bruno Caloi, edição n. 54, que pertence à terceira geração de proprietários de fabricantes de bicicletas. É mais um admirável exemplo, com a diferença de que não se deixou levar pelo sucesso das gerações anteriores e encarou seu desafio como se a empresa tivesse nascido no momento em que assumiu o comando. Deu certo, claro.

Criar, preservar, crescer: esses são alguns verbos do nosso assunto, o empresário brasileiro e suas realizações.

.

© 1996/2006 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.