A Opção do Turismo Ecológico
Apesar do seu contínuo crescimento nos últimos anos, mesmo com a valorização do Real, que tornou muito caro o Brasil para os estrangeiros, o segmento do ecoturismo, preferido deles, ainda tem enorme potencial para ser mais bem aproveitado, se as empresas obtivessem apoio e créditos oficiais para poder melhorar a qualidade dos serviços e expandir a operação. Essas operadoras de turismo, na maioria pequenas empresas, nunca conseguiram furar o bloqueio do sistema financeiro e pôr a mão nos recursos que estariam disponíveis para capitalizar o segmento do ecoturismo - "prioridade do governo" -, segundo alardeou, há mais de dois anos, o BNDES, em ruidosa campanha promovida na mídia nacional. Enquanto para as grandes empresas tudo é facilitado, incluindo crédito farto, as pequenas operadoras têm de empreender todos os esforços para crescer e, assim mesmo, só muito lentamente. Muitas vezes, sua luta é para apenas sobreviver... Essa queixa foi feita em depoimento exclusivo, por Denise Mendonça e Álvaro Machado, sócios-diretores da Ecotrip Operadora de Turismo Ltda. - Tel.: (11) 284-5434 -, empresa paulistana criada há doze anos para atuar basicamente com turismo ecológico.
SATISFAÇÃO TOTAL DO TURISTA
"Nossa preocupação é a satisfação pessoal dos clientes, com viagens que agradavam. Nosso propósito será mais relacionado ao 'ego', e não ao 'eco' (de ecoturismo), de oferecer um turismo diferenciado. A Ecotrip surgiu de forma curiosa. O Álvaro, engenheiro florestal, e eu, que sou jornalista, fomos morar em Alta Floresta, quase no limite da Amazônia Legal de Mato Grosso. Ele foi executar trabalhos de reflorestamento ligados ao Ibama, e eu, que não gosto de ficar parada, passei a escrever no jornal local e a prestar assessoria a quem aparecesse: supermercado, empresa compradora de ouro (então abundante na região) etc. Quando retornamos a São Paulo, após deixarmos Alta Floresta, onde já entrava em decadência a exploração do ouro, dois irmãos suíços, proprietários dos alojamentos de selva mais antigos da Amazônia, que lá havíamos conhecido, propuseram-nos a abertura, em São Paulo, de representação de seus hotéis. Criamos a Amazontrip Representações e passamos a vender só Amazônia. Fomos procurados por outros alojamentos de selva da região, enquanto os clientes começavam a solicitar novos produtos."
EXPANSÃO DO ECOTURISMO
"Sentimos a necessidade do mercado e fomos ampliando cada vez mais o leque. Pusemo-nos a viajar, a especializar-nos. No final de 1989, percebemos a importância de ter uma operadora, pois já estávamos realizando operações informalmente, legalizamos a situação, abrindo a Ecotrip, e tornamo-nos mais ou menos a operadora oficial das agências de colônias nacionais, porque trabalhamos intensamente com os estrangeiros proprietários daqueles alojamentos. Somos, hoje, uma operadora de ecoturismo total - que envolve o turismo de aventura e o ecológico -, muito diferente do turismo de veraneio, de fim de semana. A busca da aventura (canoying, descida de corredeiras em caiaques, rafting, descida de cachoeiras em cordas etc.) é preferida, principalmente, por jovens empresários, que precisam eliminar o estresse provocado pela vida sedentária e a pressão profissional."
AJUDAR A "INTERPRETAR" A NATUREZA
"Já no ecológico, o turista gosta de 'interpretar' o ambiente: por exemplo, ao visitar a Ilha do Cardoso, no Litoral Sul paulista, onde há montanhas, mangues, Mata Atlântica, comunidade caiçara, ela procura saber como tudo se formou e os porquês... Cabe à operadora, nessa situação, por intermédio do guia ecológico, facilitar-lhe a 'inquirição' da natureza e saber a razão da existência de tudo o que ali chama a atenção do visitante, até mesmo daquela comunidade caiçara, completamente diferente do pescador habitual de todo o litoral brasileiro... O brasileiro também está podendo programar, pelo menos para uma viagem anual, para conhecer o próprio país. Embora o mercado nacional de turismo ainda esteja engatinhando, pode-se bem imaginar quanto cresce globalmente, pois somente a Amazônia, que é um destino longo, caro, em termos de transporte aéreo obrigatório, está recebendo cerca de 40% dos turistas brasileiros, em comparação com apenas 1%, há nove anos."
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