Solução em Dose Dupla
A solidariedade pode funcionar hoje em dia como uma estratégia mercadológica capaz de beneficiar tanto quem doa quanto quem recebe. O velho esquema de bater de porta em porta para pedir auxílio deve ser substituído por uma ação dinâmica que permita a concretização de parcerias rentáveis entre empresas e entidades. Com um pouco mais de agressividade por parte das instituições, é possível convencer muitos dirigentes de que o engajamento em campanhas beneficentes faz bem não apenas à imagem do negócio mas também à função social, que precisa ser desempenhada pela classe empresarial. Bom para quem participa e melhor ainda para as milhares de pessoas que vivem marginalizadas, sejam crianças, doentes ou idosos. Basta ver o exemplo de Luiz Gonzaga Soares, mais conhecido como Catarino. Proprietário de quatro salões de cabeleireiro em São Paulo, um deles localizado no Shopping Morumbi - Tel.: (11) 5507-3197 -, ele ficou sensibilizado com o contato que teve com a Associação de Apoio às Crianças com Câncer (AACC) e decidiu dar a sua colaboração. Em depoimento exclusivo, o empreendedor catarinense conta os resultados dessa iniciativa e promete não parar por aí.
PONTO DE PARTIDA
"A idéia de levantar fundos para a AACC surgiu no ano passado, quando estive no Clube Paineiras incumbido da tarefa de pentear mais de setenta artistas que estavam lá justamente para participar de um desfile ao lado das crianças doentes, com a finalidade de arrecadar dinheiro para a associação. Fiquei com vontade de colaborar também, de fazer alguma coisa nesse sentido. Foi então que conversei com alguns cabeleireiros para que viessem cortar cabelo no meu salão, trazendo seus clientes. No dia 29 de novembro, fizemos a promoção, atendemos cerca de 350 pessoas e conseguimos arrecadar R$ 4.650,00, que foram integralmente doados à instituição, mediante a vistoria da sua própria fiscalização. Descobrimos uma maneira de ajudar e pretendemos agora promover todos os anos dias especiais para contribuir com diversas entidades filantrópicas que cuidam de menores ou de idosos. Nesses dias, vendemos um corte de cabelo por R$ 25,00 e um penteado ou tintura por R$ 40,00 e não tiramos nada. Tanto os profissionais quanto o dono abrem mão de tudo em favor dessa causa. Não é difícil promover isso, pois todos acham a idéia ótima, embora ainda faltem mecanismos de aproximação efetivos entre as empresas e as entidades."
NOVA IMAGEM
"Esse tipo de iniciativa é divulgada na televisão, nos jornais, nas revistas, e o negócio acaba promovendo-se. Com isso, nossa clientela aumentou cerca de 20%, graças às pessoas que se mostraram interessadas em cooperar, porque acharam o trabalho muito bonito. Os clientes cativos aprovaram e, se não puderam comparecer pessoalmente, mandaram alguém da família ou indicaram o salão para um amigo. Nós acreditamos que, quando todos estiverem acostumados com essa promoção, o movimento vai dobrar. Essa é uma boa alternativa para que as empresas de todo o Brasil possam ajudar menores carentes, mas, além disso, a lei deveria permitir que todo empresário adotasse uma criança desamparada e desse a ela a oportunidade de estudar durante um período do dia e aprender uma profissão no restante do tempo. Se isso fosse possível, nós tiraríamos 2 milhões de crianças da rua sem precisar da Febem ou de qualquer outra instituição dessa natureza. Isso é a maior injustiça que existe, querer ajudar um menor, dando a ele um futuro digno por meio de uma profissão e a legislação proibir."
APROXIMAÇÃO
"As entidades que cuidam de crianças ou idosos carentes deveriam investir mais na aproximação com o setor empresarial, divulgando seu trabalho, mostrando um filme e marcando uma data para conversar. Falta um pouco de agressividade dessas instituições, pois não adianta apenas arrecadar o dinheiro de uma empresa. É preciso criar uma forma de mostrar os resultados, para que todos possam acompanhar a evolução dos benefícios. Nesse sentido, é muito melhor e mais produtivo fazer parcerias que possam render um valor significativo em vez de pedir pequenas quantias de loja em loja. Pela nossa iniciativa, deu para sentir que os empresários estão bastante receptivos a esse tipo de trabalho. O que falta é aproximar todo mundo."
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