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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 35 (17/10/1991)

Como Crescer no Meio da Tempestade

Hiperinflação é quando o dinheiro vira pó e todos perdem tudo. Baseado na experiência dos seus parentes alemães, nas décadas de 20 e 40, o diretor-presidente da Chocolates Garoto, Helmut Meyerfreund - falando com exclusividade para esta seção -, faz uma advertência sobre a falta de empenho no Brasil em resolver os problemas da inflação, que poderão aprofundar ainda mais a crise que o País está atravessando.
Mas a Garoto sabe onde está e aonde quer chegar e, por isso, não se impressiona com as dificuldades do País. Em dez anos, o patrimônio líquido cresceu de US$ 10,3 milhões para US$ 73,7 milhões e a empresa passou de um empreendimento "escondido" no município de Vila Velha, Espírito Santo, para uma das principais empresas do setor. Conquistou o mercado nacional e exporta atualmente para 41 países, especialmente Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Hungria e Portugal. A produção é de 6 mil toneladas por mês.
Confessando que segue o seu "feeling", sem planejar muito, Helmut espera investir até 1993, empenhando-se atualmente no aumento da área construída da empresa, que conta, em todo o País, com 60 mil metros quadrados aproximadamente. "Isso é mais do que o País merece", diz, desencantado com as dificuldades burocráticas da exportação e importação de insumos e com a falta das regras do jogo da economia.
Sua receita para o sucesso é o amor ao trabalho - considera-se um 'workholic' - e o apoio aos funcionários, que vai desde financiamentos, seguros-saúde e participação nos lucros até condições excepcionais para o ambiente profissional e de lazer. A seguir, algumas certezas acumuladas em trinta anos na direção da sua empresa.

INVESTIR É MAIS IMPORTANTE DO QUE FAZER PLANOS
"Fundada pelo meu pai em 16 de agosto de 1929, a Garoto começou a fabricar chocolates em 1937. A alta administração da empresa sempre foi familiar, e ela nunca teve um plano estratégico formal, nem uma definição de negócios futuros. Até hoje, não temos um orçamento de marketing e menos ainda um orçamento de médio e longo prazos.
Os planos existentes são de curtíssimo prazo e isolados por diretoria ou por gerências, fincados no trinômio trabalho/qualidade/crescimento, que nos é permitido pela conjugação de visão de oportunidades com a saúde financeira. Para a consecução do que esse trinômio traduz é que houve uma visão de futuro.
Era preciso prover a empresa de profissionais especializados em diversas áreas, de diretores a gerentes, e essa foi uma modificação muito grande num espaço de tempo bastante curto. De 1977 a 1981, nós construímos quatro diretorias e dezesseis gerências, que pularam depois para vinte, sem contar com as gerências regionais de vendas, que hoje são treze.
O sistema de vendas e distribuição também começou a ser alterado radicalmente a partir de 1977. Eliminamos os representantes autônomos e criamos nossos próprios escritórios, além de instituir distribuidores exclusivos. Nosso objetivo, hoje, é dobrar a produção em dez anos."

A ESTRUTURA DO PAÍS ATRAPALHA OS NEGÓCIOS

"Procuramos evoluir tecnologicamente, acompanhando o desenvolvimento de máquinas, equipamentos e processos dos países do Primeiro Mundo. Temos conseguido viabilizar vários negócios, mas a maior dificuldade está exatamente no nosso país. As estruturas montadas de setores que emitem guias, que liberam mercadorias e as estruturas portuárias são inoperantes e ineficientes, não compatíveis com a chamada abertura do País para o mundo.
Através de visitas ao exterior, fazemos contatos permanentes com profissionais do ramo, como tecnólogos em chocolates, técnicos e engenheiros fabricantes de máquinas para o nosso setor. Com isso, visamos aprimorar, cada vez mais, a qualidade de nossos produtos e maior produtividade da fabricação.
Com a abertura das importações, está surgindo uma nova e grande oportunidade. Podemos agora adquirir insumos básicos com preços mais competitivos e em parte com melhor qualidade. Com isso, abre-se mais a porta das exportações, pois teremos produtos e preços melhores."

MAIS DE QUARENTA ANOS DE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS -

"Dispomos de uma política de recursos humanos moderna e apropriada para que nossos 3 mil empregados tenham suas necessidades básicas atendidas. Nosso piso salarial é de US$ 224, e o de salário médio, em torno de US$ 450. Através de pesquisas constantes no mercado, administramos todo um plano de cargos e salários, o que é fundamental para a harmonia interna.
Há mais de quarenta anos praticamos a participação nos lucros, que já é estatutária. Havendo lucro, os empregados terão, no mínimo, uma vez o valor do seu salário, ou, no máximo, 20% do lucro líquido da empresa, rateado proporcionalmente aos salários. Acho que essa é uma das principais receitas do sucesso da nossa empresa, onde a rotatividade é muito baixa.
Administramos 21 benefícios, que foram criados ao longo do tempo por vários motivos, entre eles a deficiência das instituições públicas. Temos convênio médico sem ônus, centro com sete médicos e quatro dentistas, transporte, previdência privada e, por exigência do mercado, medicamentos subsidiados, prêmio por tempo de serviço, seguro de vida e empréstimos. E, para melhorar o relacionamento interno e desenvolver o lado social, uma cooperativa de consumo, outra de empréstimos e um clube social."

CORAGEM PARA ACEITAR RISCOS, DESAFIOS E INCERTEZAS
"Uma das nossas principais estratégias operacionais é o amor ao trabalho. O presidente da Garoto é um 'workholic', seus diretores e funcionários, também. A grande maioria dos funcionários veste a camisa da empresa. Temos respeito aos colaboradores, fornecedores e consumidores. Buscamos sempre a eficiência, a excelência, a qualidade, sendo criativos, mas nunca perdendo a simplicidade.
Evitamos desperdícios e dizemos não ao lucro fácil, à especulação e ao jogo financeiro. Gostaríamos de manter ou melhorar mais ainda a nossa empresa através da informatização, mantê-la enxuta, lucrativa e moderna, como uma empresa do Primeiro Mundo. Sabemos que precisamos procurar recursos fora da empresa, e esta é nossa constante preocupação. Com reinvestimento dos lucros, podemos financiar mais de dois terços das nossas expansões."

NOSSO PROBLEMA MAIOR É A INFLAÇÃO

"Acho que a inflação é a responsável pela violência e a criminalidade do País. Os valores estão cada vez mais deteriorados, a gente não sabe mais o valor de nada, sejam valores financeiros sejam humanos. Defasagem do dólar e aumento de preços têm prejudicado a visão das coisas e o 'feeling' para os custos. Sabemos que a correção dos salários não resolve. A única saída é o governo gastar apenas o que arrecada. Ele tem que parar de imprimir dinheiro."


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