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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 37 (17/12/1992)

A Sobrevivência em Banho-Maria

Crise é uma boa época para conhecer melhor o mercado e enxergar soluções que façam a empresa manter-se e, futuramente, crescer. Essa lição de sobrevivência está sendo aplicada pelo ex-funcionário público Amaragy S. Ferreira e seu filho e sócio, Fernando Draetta Ferreira - Te.: (11) 3207-5870. Proprietários da Luá Equipamentos para Hotéis e Restaurantes Ltda., especializada em réchauds - conjunto formado por fogareiros e recipientes em aço inox, alumínio e cerâmica, que mantém a temperatura dos alimentos -, eles apostaram tudo na segmentação de um setor com grande potencial de crescimento.
Amaragy deixou uma tranqüila carreira no serviço público federal - no qual se sentia "infeliz" - para dedicar-se a uma vida empresarial cheia de desafios, que acabou desembocando nesse empreendimento, hoje com um faturamento anual de US$ 500 mil e apenas vinte funcionários. "A Luá encontrou um nicho de mercado trabalhando através da especialização e da terceirização", diz o empresário. "Produzimos alguns itens, mas também utilizamos a capacidade industrial de fornecedores que se encarregam do restante das peças dos nossos réchauds."
Neste depoimento exclusivo, pai e filho contam os detalhes de um trabalho que toma conta dos feriados, fins de semana e uma média de catorze horas por dia. "É uma vida dura, que nos obriga a conviver diariamente com o risco", diz Fernando, ex-funcionário de uma grande empresa que foi obrigada a demitir em massa com o Plano Collor. Convidado pelo pai, "enquanto não encontrasse outro emprego", Fernando virou um sócio dedicado - e preocupado: "Em 1992, apenas conseguimos manter-nos", diz. "Mas nossa intenção é, em 1993, começar a exportar e, naturalmente, crescer."

COMIDA POR QUILO, UMA TENDÊNCIA SALVADORA
"O número de restaurantes caseiros está crescendo, principalmente porque surgiu a necessidade de as pessoas fazerem alguma coisa para poder sobreviver. O que nos beneficia diretamente é que, nessa tendência, o sistema preferido é o self-service. Ele oferece numerosas vantagens e exige menos mão-de-obra e mais qualidade, pois o cliente decide olhando diretamente para a comida.
O sistema self-service é um dos motivos do nosso otimismo em relação ao crescimento da empresa: o mercado oferece uma grande avenida para trafegar, com uma demanda excelente dos nossos equipamentos. Além disso, eles são modulares, servem tanto para pequenos restaurantes quanto para grandes cozinhas industriais."

A CRISE É BENÉFICA
"Não gostamos de falar em crise. É um termo negativo, pesado, que dá a idéia de que tudo está cada vez pior. Numa situação difícil, sempre existe uma alternativa. Apesar dos problemas, hoje nós temos possibilidades que não tínhamos nos anos passados. Entendemos melhor o mercado, temos uma visão mais abrangente e descobrimos caminhos que não enxergávamos antes. Ora, se a crise me dá meios de olhar mais longe, ela me ajuda, é benéfica, não me fecha as portas.
Em 1992, o custo financeiro e os impostos levaram todo o lucro. Conseguimos apenas manter a estrutura da empresa, ter um faturamento para pagar os fixos e não mandar ninguém embora, apesar da dificuldade de honrar a folha de pagamento sem cortar nada. Estamos ainda aprendendo muito e poderemos superar os problemas."

O EMPRESÁRIO TAMBÉM É POVO
"Ainda não tivemos tempo de participar mais da vida do País, mas isso virá com o tempo, quando aprimorarmos nosso conhecimento. Costuma-se falar em grandes empresários e gigantescas corporações, mas quem dá mais empregos são os pequenos e médios empreendedores. Existe, ainda, um problema cultural no Brasil, onde a participação popular infelizmente não é muito significativa.
As grandes empresas costumam proporcionar garantias para seus funcionários, que não são obrigados a conviver com o risco. Isso é feito em função de multiplicar o rendimento, mas o que acaba acontecendo, muitas vezes, é que as pessoas se acomodam. Aqui, cada um tem dez funções, e nosso papel como proprietários é, neste momento complicado, apagar incêndios. Mas isso não nos impede de tentar saídas como a exportação: já fizemos vários contatos internacionais, principalmente nas feiras em que participamos, e existem perspectivas tanto na América Latina quanto no Primeiro Mundo."

SERVIÇO ESPECIALIZADO NOS TORNA MAIS ÁGEIS E EFICIENTES - "Aprofundamos o segmento de fogareiros, enquanto nossa concorrência faz, além dos réchauds, uma linha completa de aço inox, fogões industriais, baixelas, bandejas, ferramentas e um maquinário enorme. Especializamo-nos num item que tem uma boa demanda no mercado, por isso, a produção da Luá ocupa uma posição significativa no setor.
Estamos, por enquanto, sedimentando o nosso mercado, com a ajuda dos fornecedores, que, em geral, são de pequeno porte. Cada item corresponde a um fornecedor diferente. Mandamos fazer determinadas peças numa fábrica, mas quem se encarrega do acabamento são profissionais de outra empresa onde fechamos um contrato. Itens específicos que compõem o suporte dos produtos, entre outros detalhes, são beneficiados diretamente por nós.
Oferecemos qualidade de nível internacional, com medidas container gastronorm utilizadas em todo o mundo. A exceção é a nossa linha colonial, de cerâmica, que criamos com medidas próprias e hoje está sendo usada em hotéis e restaurantes cinco estrelas. Mas oferecemos a linha de alumínio, mais popular, o que nos dá grande mobilidade na hora de vender. Nossos maiores trunfos são a versatilidade e a agilidade: podemos adaptar, rapidamente, nossa produção para qualquer tipo de demanda.
Não existe sistema mais barato do que esse. Não exige muitos funcionários, nem galpões próprios para estoques, nem onerosos aluguéis. Temos, normalmente, estoques de produtos para quinze dias, mas os itens da matéria-prima, já beneficiada, estão nas instalações dos próprios fornecedores, que podem fazer a montagem rapidamente, conforme os pedidos."

VIVEMOS EM RISCO PERMANENTE
"Quando chegamos em casa, a família pede para desligar, mas fica impossível. A Luá é uma opção consciente, em busca da realização profissional e financeira. Ela foi fundada em 1984, mas o antigo dono estava um pouco desanimado e tinha outros empreendimentos para tocar. Apostamos nela, e deu certo. Assumimos, em 1988, para fazê-la crescer. Aprimoramos, lançamos produtos novos e começamos a aparecer no mercado.
No início, utilizamos apenas recursos próprios, mas ultimamente fica impossível viver sem as duplicatas. Chega momentos em que a gente diz: não vai dar mais. Mas sempre tem um jeito de sair do sufoco".


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