Home











...



« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 94 (23/01/1994)

Viagens do efeito boomerang

O divertimento puro é uma ilha cercada de problemas por todos os lados. Isolado, diante da maré alta das preocupações, sua repetição torna-se garantia de prazer renovado, o que cria, primeiro, o hábito e, mais tarde, uma ligação profunda que pode até chegar a uma obsessão. A solução, para manter o ritmo de envolvimento sem comprometer a dedicação profissional, é encarar a atividade que nos encanta como uma fonte de renda, única maneira de unir o que costuma ficar dividido: a alegria e a luta pela sobrevivência. Foi o que Carlos Martins Filho fez, quando deixou o cargo de gerente de vendas de uma caderneta de poupança, no início dos anos 80, para se dedicar, integralmente à sua maior paixão. Foi, praticamente, amor à primeira vista. Numa visita casual ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo, ele viu alguém jogando boomerang e quis experimentar. Não teve sorte: o objeto quebrou na primeira largada do estreante. Como não havia nada parecido disponível na praça, ele resolveu ressarcir seu erro, tentando fabricar um. Acabou especializando-se nisso e, de artesão, virou empresário, fundando a Bahadara Boomerangs - www.bahadara.com.br, com uma fábrica capaz de produzir 360 unidades por hora e uma loja exclusiva, inédita no País, situada no bairro de Pinheiros, na capital. A seguir, ele fala sobre a estratégia de transformar um esporte pouco conhecido no Brasil num negócio que dá, sem trocadilho, retorno garantido a quem investe nele.

A NASA BEBEU DESSA FONTE
"O boomerang tem 40 mil anos de história e, entre os aborígenes da Austrália, era encarado não só como arma mas também como esporte. As crianças ganhavam do pai um boomerang leve, para aprender a manuseá-lo. Entre as tribos, havia as competições internas entre os garotos. Hoje, esse esporte está disseminado em todo o mundo, existindo uma série de modalidades e campeonatos importantes, especialmente na Austrália e nos Estados Unidos. Fiquei em segundo lugar no campeonato americano de 1990, mas participei com todas as minhas limitações. Levei apenas um exemplar para as várias provas, contrastando com os competidores do Primeiro Mundo, que tinham uma série de modelos e utilizavam um aparato sofisticado de suporte, como luvas especiais, por exemplo, que não são conhecidas por aqui. O Brasil está despertando e já fui convidado a fazer palestras para especialistas em aerodinâmica. Na Holanda, já existe uma tese sobre o boomerang, já que ele envolve uma tecnologia superelaborada. No Centro Espacial de Washington, por exemplo, existe uma demonstração sobre a eficiência do design do boomerang na fabricação de hélices. Ele é um objeto estranho, que anda para frente e para trás ao mesmo tempo. Para descobrir seus segredos, tive que ler em fontes estrangeiras e praticar muito."

O VINCO OPERA MILAGRES

"Para desenvolver um boomerang ultraleve, especial para crianças, usei papelão e, em cada uma das três pontas, marquei um vinco no meio. Com esse artifício, o objeto funciona e torna-se um sucesso entre a garotada. Patenteei esse invento, pois é um brinde que qualquer empresa pode patrocinar, com um excelente retorno. Num campeonato australiano, investiram US$ 3 mil em mim - o preço da passagem -, mas apareci em várias televisões usando uma camiseta com o símbolo do patrocinador, e isso deu, por baixo, um retorno de US$ 100 mil. Mas, hoje, eu prefiro não ter patrocínio, pois isso limita muito. Prefiro fazer negócios com as empresas interessadas e colocar a promoção no pacote. Hoje, minha maior fonte de renda não é a loja, mas as vendas para grandes redes, como Carrefour. Participo, também, de vários eventos, especialmente em hotéis-fazenda, onde levo mais uma opção de lazer. Faço um trabalho interessante também nas escolas, organizando campeonatos entre as crianças. No verão, coloco o material num furgão e saio fazendo promoções. São as várias formas de gerar negócios que aprendi aos poucos, errando muito no início, já que ganhei dinheiro com boomerang, mas não soube administrar direito. Minhas primeiras vendas aconteceram numa feira do Anhembi, em São Paulo, onde cheguei a fabricar na hora para vender, pois não esperava a demanda que encontrei lá. O problema é que, por motivos familiares, fiquei dois anos fora do circuito, o que esfriou bastante o movimento. Mas encontrei apoio do SEBRAE/SP para participar da recente Feira de Esportes, do Pelé, que alavancou vendas, inclusive no exterior."

QUINZE SEGUNDOS POR UNIDADE
"Vi uma loja especializada na Austrália e resolvi montar esta aqui. Neste espaço, tenho também a fábrica, mas posso mudar para o município do Embu, dependendo do aumento do aluguel. Desenvolvi o ferramental necessário, pois vi algumas máquinas no exterior e adaptei às condições brasileiras. A idéia é montar uma estrutura que permita fabricar 24 horas por dia. Aqui mesmo, a gente corta, lixa e pinta. Leva quinze segundos por unidade e envolve duas pessoas, eu e um colaborador. Além dos tradicionais, existem tipos diferentes, desenvolvidos pelos campeões e por engenheiros especializados em aerodinâmica, como boomerangs que não voltam, que são feitos apenas para atingir grandes distâncias. Outros, que ficam um tempo recorde no ar, e assim por diante. Mas, para popularizar o esporte, é preciso fazer modelos simples, pois não adianta jogar uma Ferrari na mão de quem mal consegue pilotar um fusquinha. Devo muito ao médico Carlos de Campos Pagluichi, que foi quem introduziu o boomerang no Brasil e me iniciou nessa arte. Foi quebrando o boomerang usado por uma aluna dele, no Ibirapuera, que acabei entrando nesse negócio, ajudando a divulgá-lo em todo o Brasil."


« Entrevista Anterior      Próxima Entrevista »
...
Realização:
IMEMO

MANTENEDORES:

CNS

CRA-SP

Orcose Contabilidade e Assessoria

Sianet

Candinho Assessoria Contabil

Hífen Comunicação


Pró-Memória Empresarial© e o Programa de Capacitação, Estratégia e Motivação Empreendedora Sala do Empresário® é uma realização do Instituto da Memória Empresarial (IMEMO) e publicado pela Hífen Comunicação em mais de 08 jornais. Conheça a história do projeto.

Diretor: Dorival Jesus Augusto

Conselho Assessor: Alberto Borges Matias (USP), Alencar Burti, Aparecida Terezinha Falcão, Carlos Sérgio Serra, Dante Matarazzo, Elvio Aliprandi, Irani Cavagnoli, Irineu Thomé, José Serafim Abrantes, Marcos Cobra, Nelson Pinheiro da Cruz, Roberto Faldini e Yvonne Capuano.

Contato: Tel. +55 11 9 9998-2155 – [email protected]

REDAÇÃO
Jornalista Responsável: Nei Carvalho Duclós - MTb. 2.177.865 • Repórter: ;
Revisão: Angelo Sarubbi Neto • Ilustrador: Novo

PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTAS ENTREVISTAS sem permissão escrita e, quando permitida, desde que citada a fonte. Vedada a memorização e/ou recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte da obra em qualquer sistema de processamento de dados. A violação dos Direitos Autorais é punível como crime. Lei nº 6.895 de 17.12.1980 (Cód. Penal) Art. 184 e parágrafos 185 e 186; Lei nº 5.998 de 14.12.1973


Hífen Comunicação
© 1996/2016 - Hífen Comunicação Ltda. - Todos os Direitos Reservados
A marca Sala do Empresário - Programa de Capacitação, Negócios e Estratégia Empresarial
e o direito autoral Pró-Memória Empresarial, são de titularidade de
Hífen Comunicação Editorial e Eventos Ltda.