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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 88 (12/12/1993)

O fim da Terra Sem Tecnologia

Revolucionar os métodos é a moderna forma de rezar para a colheita dar certo. No interior do Brasil, a velha resistência contra a modernidade está cedendo a essa verdade evidente, pois quem muda a forma de plantar e cuidar da sua cultura já está usufruindo os resultados e atraindo a admiração da vizinhança. Isso abre as portas para a ciência, que, aos poucos, vai erradicando hábitos seculares, comprovadamente inúteis, diante do rigor da recessão.
Quem está um pouco distanciado da tradição no campo tem mais condições de abrir-se para as novidades. É o caso de Marcos José Ramponi, farmacêutico e sitiante de Espírito Santo do Pinhal, São Paulo, um dos mais entusiasmados participantes do projeto Volta ao Campo, promovido pelo SEBRAE/SP. Mas ele passou por uma série de transformações internas antes de tomar as decisões que mudaram o perfil da sua propriedade, o Sítio Santa Bárbara, de 8 hectares.
Por muito tempo, ele viveu longe da terra. Na adolescência, tinha sido enviado para estudar em Campinas e voltou para Pinhal exatamente no ano em que seu pai faleceu, em 1988. Filho único, defrontou-se com numerosos problemas, entre eles a necessidade de fazer a colheita de 6,4 mil pés de café. Reconhece, hoje, que cometeu uma série de erros estratégicos até colocar a lavoura herdada em ordem e partir também para outros produtos, como milho e feijão.
Paralelamente, Marcos precisou gerenciar sua Naturales Farmácia de Manipulação, que era, antes de envolver-se com o campo, sua principal atividade. No depoimento a seguir, ele conta como consegue equilibrar o artesanato farmacêutico com o agrícola, a cultura anual e a trimestral, com a ajuda providencial, em todos os segmentos, da tecnologia de ponta.

ARRANQUEI O CAFÉ COM RAIZ E TUDO

"Logo que assumi o sítio, descobri que a produtividade de uma parte do café plantado era péssima. Isso era trágico, pois o preço na época estava muito baixo e comprometia o rendimento. Apanhei muito na primeira colheita, utilizando mal a mão-de-obra, entre outros equívocos, por falta de conhecimento. Resolvi, então, aprender tudo de adubação, colheita, controle fitossanitário e consultei especialistas, fiz análise de folha e solo.
Deixei 1,4 mil pés de primeira qualidade e arranquei os outros 5 mil pés, que eram geneticamente improdutivos. As mudas, plantadas dez ou quinze anos antes, tinham sido mal escolhidas e só serviam para cartão postal. Ao mesmo tempo, depois que vi como o pessoal contratado de fora tratava nosso produto na hora de colher, decidi só trabalhar com gente de casa, que mora no sítio. Com eles, posso mudar hábitos antigos, como deixar o café cair no chão e só recolher no dia seguinte. Já estou conseguindo que eles coloquem um pano embaixo da planta.
O mundo, hoje, consome proporcionalmente menos café, e o mercado mundial está superexigente. Entraram outros produtores com café de excelente qualidade, como Colômbia, Costa Rica e África do Sul. Muita gente está erradicando a lavoura para mudar de ramo, mas eu resolvi plantar de novo e vou ter que esperar mais dois anos para poder colher essa safra das novas mudas. É uma cultura complicada, trabalhosa e que você colhe uma vez só por ano."

MEU MILHO ESTAVA TODO ERRADO

"Quando lançaram o projeto Volta ao Campo, em Pinhal, eu cadastrei minha propriedade, pois gosto de estar no meio das inovações. Sou da opinião que, quanto mais agrônomo e veterinário dentro do sítio, melhor. Existem pessoas que se orgulham, dizendo que sabem tudo e evitam os especialistas, mas elas estão sendo obrigadas a mudar de ramo.
Decidi diversificar de maneira correta. Obedeci todas as recomendações: plantar na distância certa, usar sementes de última geração, passar herbicida quatro dias depois do plantio, para evitar a competição do mato. Resultado: a média nacional é 2 mil quilos por hectare, estou esperando colher 8 mil.
Optei, também, por feijão e alfafa. Todas são culturas muito rápidas, de três a quatro meses, que exigem muito da terra. Tem ação pesada das pragas, e você precisa ficar atento a tudo, pois quem não praticar tecnologia de ponta - e isso estou falando em qualquer segmento, tanto do sítio quanto da farmácia - vai dançar. Se não houver produtividade e, em conseqüência, uma boa margem de lucro, não se consegue ir adiante.
Hoje, as pessoas estão dando-se conta da importância disso. O projeto Volta ao Campo já criou 1,6 emprego por propriedade, em um ano de atividades. Tem tanta gente cadastrada que está ficando difícil atender todos. Uma equipe, por exemplo, tem que visitar quatro propriedades num só dia. Muito criador de gado nem fazia silo, que é um processo que moe a planta toda, o milho, por exemplo, deixa fermentar e depois dá para o gado comer. Outros nem cuidavam da vacinação contra a febre aftosa, que é básica.
Hoje, vemos muita diversificação, produtores cuidando de quiabo, hortaliças, coisas que não têm tradição na região, cuidando da ração, da melhora de qualidade na produção leiteira etc. Há, também, mais interesse em irrigação e em outros métodos que há muito tempo estão sendo usados nos outros países. Nossa realidade é tão arcaica que qualquer novidade parece coisa vinda de Marte."

FARMÁCIA AJUDA A FINANCIAR O CAMPO -
"Minha farmácia é pequena, faz quatrocentas fórmulas por mês. Em São Paulo, existem algumas que fazem 150 por dia. É um negócio supertrabalhoso, pois exige especialidade, precisão, marketing diretamente com médicos especialistas, idoneidade, rigor absoluto, dedicação, funcionários treinados, entre outras coisas. Eu faço pessoalmente a manipulação, pois um erro de um micrograma leva o paciente para o hospital.
Até hoje tiro dinheiro da farmácia e invisto no sítio, mas essa situação vai mudar com a nova colheita de café. Cometi um erro no início, quando comprei um carro zero quilômetro na primeira safra. Tive que mudar tudo e tocar os negócios no peito. Com o tempo, vou conseguir fazer capital de giro nos dois empreendimentos e tirar uma parte do lucro, reinvestindo o resto.
A maior dificuldade é encontrar pessoal especializado, que me permita mais tempo para gerenciar meu dia. O ideal é trabalhar na farmácia de manhã e, à tarde, no sítio. A manipulação dos medicamentos está sendo beneficiada pela nova lei que obriga as indústrias a destacar a fórmula e os ingredientes. Isso é um conceito de manipulação que está sendo implantado no mercado, e acho que a nova situação vai favorecer o consumidor, que hoje ainda é vítima dos remédios bonificados, que o balcão da farmácia costuma empurrar.
Precisamos de uma visão nova. Para isso, devemos preparar-nos. Eu vou a tudo que é palestra e conferência e participo de todos os cursos possíveis, para me atualizar e adotar métodos mais eficientes e rendosos."


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