Bar Popular Também Precisa de Mudança
Depois que os americanos
vieram até aqui mostrar aos brasileiros como se ganha dinheiro vendendo
sanduíche, fica difícil negar a necessidade de mudar radicalmente
a forma de fazer qualquer tipo de negócio. Até mesmo o tradicional
bar que vende pinga e petiscos já está rendendo-se diante das
novidades. Há um motivo para isso: os consumidores, agora, possuem outros
referenciais e pressionam os que ainda se recusam a se modificar.
Foi o que aconteceu com o cearense Raimundo Nonato de Oliveira, dono
do Bar Rancho Nordestino - tel.: (011) 606-7257 -, situado no bairro
da Bela Vista, em São Paulo. Ele precisou investir o que não tinha
para atrair novamente a freguesia, que, a partir de outubro do ano passado,
começou a escassear. Chegou um momento em que ele cansou de assistir
ao declínio do seu Bar do Norte, como é conhecido, e resolveu
agir.
Pediu, então, ajuda ao SEBRAE/SP e foi aconselhado a fazer uma reforma
radical, trocando piso, pintando paredes, colocando toalha nas mesas, investindo
em marketing, entre outras providências.
Hoje, ele está satisfeito com os resultados e sente-se preparado para
o reaquecimento da economia, que espera ocorrer em breve. No depoimento a seguir,
Raimundo prova a importância da criatividade e da ousadia para salvar
um empreendimento.
FREGUÊS VIRA PROPRIETÁRIO "Meus
pais tiveram quinze filhos, e metade veio para São Paulo ganhar a vida.
Comecei numa fábrica de móveis na Vila Ré, mas acabei mudando-me
para o centro da cidade e fui procurar emprego no restaurante Almanara. Falei
que tinha experiência, mas minha carteira de trabalho estava em branco.
Disse que na época era menor de idade, e eles, então, falaram
para eu dar o endereço do restaurante onde eu tinha trabalhado. Falei
que até podia dar, só que ele ficava em Fortaleza, que era para
ninguém ir atrás, pois, se fosse, não ia achar nada mesmo.
Mas consegui a vaga de garçom e fiquei lá um ano e quatro meses.
Saí de lá e arranjei lugar como copeiro numa cantina. Virei dono
de bar porque eu era freguês do Rancho Nordestino, e o antigo dono facilitou
tudo. Era um lugar pertinho de onde eu trabalhava e toda a noite a gente ia
tomar um caldo de mocotó e umas pingas. O dono perguntou se eu queria
comprar, e eu falei que não podia. Ele insistiu, fomos conversar e fechamos
o negócio.
Tinha oito anos de firma, peguei o Fundo de Garantia, vendi uma perua Kombi,
tomei algum emprestado e fiz uma sociedade com o meu irmão. E fui pagando
devagarinho o restante, que consegui quitar em dois anos. É um bar simples,
vende apenas bebidas e petiscos, como carne de sol e jabá, e fica aberto
das cinco e meia da tarde às duas da manhã, durante a semana,
e até as seis da manhã, no fim de semana. Hoje, sou o único
dono e até o ano passado estava satisfeito com o bar."
REFORMAR OU MORRER "Em outubro de 1994, o movimento
caiu. Ou melhor, tinha movimento, o bar ficava até cheio, mas era aquele
pessoal que não consumia. Um dos nossos fregueses antigos notou o problema
e sugeriu-me procurar ajuda no SEBRAE, que poderia entrar com crédito,
orientação e assessoria. Falei que ia pensar no assunto. Num outro
dia, eu estava conversando com uns clientes e um deles, formado em Economia,
falou que, na crise atual, quem não tiver criatividade vai quebrar.
Aí, eu liguei uma coisa com a outra e pensei o seguinte: bom, se eu estou
na crise e não estou conseguindo sair dela, não tenho criatividade
para isso, preciso, então, procurar alguém que tenha. Foi quando
resolvi mesmo procurar o SEBRAE. Pedi uma orientação para ver
o que poderia fazer. O consultor disse que, do jeito que o bar estava, a freguesia
ia escassear cada vez mais. O aspecto do bar estava feio e, como a gente está
lá todo dia, nem percebia.
Ele falou para retirar as garrafas sujas que estavam dependuradas. Eu achava
que pegava bem, pois era coisa antiga, velha, fazia parte da tradição
do bar. Mas ele falou para manter tudo novo, reformar tudo. Mandou trocar o
piso, colocar toalha nas mesas, capa nas cadeiras, trocar a geladeira, que estava
enferrujada. Mas como eu poderia fazer aquilo, se já estava devendo?
Ele falou que era a única saída."
SOLUÇÃO PARA A SEGURANÇA
"Tentei crédito pelo SEBRAE, mas não consegui. Resolvi arriscar
assim mesmo. Pensava que tudo iria sair por R$ 4 mil, acabou saindo por R$ 8
mil. Mas eu já consegui pagar tudo. A reforma acabou atraindo mais fregueses
e também uma clientela diferente, de maior poder aquisitivo.
Fiz mais coisas: coloquei telefone, mandei fazer cartão de apresentação,
pedi um projeto visual, um desenho que coloquei nas cadeiras e nos aventais
dos garçons e contratei uma assessoria de imprensa.
O importante é olhar com a visão do cliente. Aí você
vê os defeitos.
Para sair da crise, é importante também ter estudo. É por
isso que, antes de fazer a reforma, eu retomei os estudos, inclusive para poder
dar uma assistência ao meu filho. Com estudo, a gente sempre acha uma
solução.
Hoje, estou preparado para a virada da economia que, se Deus quiser, não
vai demorar muito. Essa crise já está há bastante tempo
entre nós. O importante é que eu tive o apoio do SEBRAE, que ajuda
o pequeno empresário. Eu precisei e não paguei quase nada."
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