Músico Ganha a Vida comVenda Artística
Quando todas as
portas se fecham e os caminhos que levam à sobrevivência acabam
formando círculos, a solução pode ser encontrada num sonho
antigo, numa vocação deixada para trás, num talento que
sempre foi encarado apenas como hobby. Fazer o que realmente dá prazer
é uma fonte de forças renovadas que acaba criando a solução
antes considerada impossível.
Mas a retomada de um processo interrompido nunca acontece nas mesmas condições
de antigamente, já que a experiência acumulada em outras atividades
acaba sendo somada à nova fase, contribuindo para viabilizar uma decisão
que parecia utópica. Quem decide, depois de muito tempo, voltar a lidar
com arte, por exemplo, precisa que o pragmatismo substitua a antiga ingenuidade.
A experiência de Roberto Bittencourt, tecladista de São
Carlos, São Paulo, de 43 anos, bate com essa tendência.
Ele foi um garoto de banda, como muitos outros, e chegou até a tentar
ser empresário artístico, quando estava na faixa dos 20 anos,
mas esbarrou na falta de conhecimento para peitar o mercado. Virou bancário,
representante comercial, teve sociedade numa videolocadora e acabou voltando
às suas origens, desta vez por meio da RB Comércio e Representações
- Tel.: (016) 274-2316 -, que empresaria uma dupla de cantores e uma banda,
formada por ele e pessoas mais jovens.
A seguir, ele conta sua luta e como está conseguindo dar a volta por
cima.
QUEBRADEIRA GERAL
"Fui bancário, durante nove anos, e, entre 1980 e 1989, representante
comercial do setor de implementos agrícolas, trabalhando com empresa
constituída. Consegui sobreviver, ter dois carros, investir na área
de transportes, chegando a ter sociedade com caminhoneiros. Mas, por incrível
que pareça, o mesmo ramo que me deu tudo acabou tendo uma queda tão
grande que eu perdi o que acumulei. Primeiro, foi aquele 'boom' do
setor no Plano Cruzado, uma explosão de vendas, com a procura maior do
que a oferta, em que era fácil vender e difícil entregar. Mas,
infelizmente, veio a ressaca, que gerou uma quebradeira geral em todos os segmentos
e principalmente no setor agrícola. Das três representações
que eu tinha, uma encerrou as atividades e a outra simplesmente quebrou. A terceira
permaneceu, porque não dependia só do mercado agrícola.
Se eu tivesse previsto, teria saído, antes, do ramo. Mas eu insisti,
fui teimoso, pois tudo o que eu tinha conseguido veio desse setor. Fui queimando
todas as minhas reservas - veículos, poupança, telefone,
terrenos - e bancando o jogo. Achava que poderia trabalhar no vermelho
até que o quadro mudasse. Mas, de 1988 a 1990, isso não aconteceu."
UM BAILE DO MERCADO
"Fui músico, antes de ser bancário, e, desde os 16 anos,
tive bandas de bailes. Quando deixei o primeiro emprego no banco, resolvi retomar
essa atividade. Recebi o fundo de garantia e resolvi apostar, confiando que
conhecia o mercado artístico. Espelhei-me em outros empresários,
que faziam sucesso, mas eles eram mais velhos e experientes. Acontece que o
dinheiro foi acabando, não dava para viajar mais e eu só tinha
vendido alguns bailes que levariam meses para dar retorno. Eu conhecia o meio
artístico, mas como músico, não como empresário.
Fui ingênuo. O dinheiro acabou, e fui obrigado a pedir emprestado no banco.
Terminou, assim, minha primeira tentativa.
Quando o ramo agrícola quebrou, tentei outras atividades. Tive sociedade
numa videolocadora e numa distribuidora de leite de soja, mas eram coisas pequenas,
das quais eu não tirava dinheiro suficiente para o sustento. Meu principal
problema era capital, pois estava numa situação financeira difícil,
gerada pela má administração dos nossos governantes. A
corda acaba arrebentando sempre do lado mais fraco, os planos econômicos
não dão certo e quem paga somos nós. No caso da videolocadora,
houve um enxame desse tipo de negócio na época. Era um negócio
bom no começo, mas tornou-se ruim, porque muita gente quis fazer o mesmo
e não existe mercado para todos. Quando havia três locadoras para
uma cidade de 130 mil habitantes, era ótimo. Mas, quando temos 200 mil
habitantes e duzentas videolocadoras, fica difícil. É a conjuntura
nacional que gera esse tipo de situação."
ARTE NÃO É TRATOR "Voltei a trabalhar
com representação, mas em outro segmento, de soldas e acessórios.
E, paralelamente, voltei a trabalhar como músico. Até que eu encontrei
alguns músicos jovens e comecei a empresariar a dupla Emerson & Jeziel
e a Banda Expresso Brasil. Esse segmento artístico é uma loucura.
A primeira preocupação é vender o show. Depois de marcar
a data, começa a correria para chegar lá, de tal forma que você
agrade e possa marcar novas apresentações. Você depende
do elemento humano - os músicos precisam comparecer na hora certa,
ir aos ensaios; há a preocupação em montar o show; é
preciso cuidar da aparelhagem, do transporte, dos figurinos etc. É diferente
do tempo em que eu vendia um produto e sabia que, simplesmente, a fábrica
ia remeter e descarregar o equipamento no pátio daquela concessionária.
Pretendo colocar em prática tudo o que aprendi no SEBRAE/SP, através
de cursos e palestras, especialmente na área de marketing."
|