Basta à Sobrevivência
De tanto fazer malabarismos para permanecer no mercado, muitos empresários brasileiros acabaram desviando-se da trajetória inicial de conquistar seu espaço para aceitar uma situação na qual apenas é possível sobreviver. Envolvidos nos problemas do dia-a-dia, esses dirigentes esquecem-se de que é preciso avaliar o desempenho empresarial constantemente, com a finalidade de acompanhar e atualizar um planejamento estratégico capaz de levar valor agregado ao produto ou ao serviço oferecido. Para ser competitivo hoje, não basta apenas tocar uma empresa, mas sim percebê-la como um organismo vivo que requer novas concepções da realidade em busca da reinvenção do próprio negócio. A falta dessa visão a partir de um contexto mais amplo pode comprometer de forma decisiva a evolução de uma empresa em termos de gestão, competências e habilidades, levando-a à exclusão a curto prazo. Quem dá o alerta é José Maria Alves Godoi, diretor-executivo do Banco de Negócios do Grupo Solimões - e-mail: [email protected] - Tel.: (11) 3443-7766. Em depoimento exclusivo, ele ressalta como ponto de partida para o alcance da vantagem competitiva o rompimento da rotina de viver de sobreviver.
VISÃO ESTRATÉGICA
"A grande maioria dos empresários vive dentro do ciclo operacional do seu negócio, incluindo fornecedores, clientes e o seu ambiente de produção interna. Quando perguntamos sobre fatores decisivos, como a situação do setor em que atuam, que tipo de ameaça de novos entrantes e/ou de novas tecnologias e produtos o setor-segmento enfrenta como um todo, qual é o poder de negociação dos fornecedores e dos compradores e se existe retaliação da concorrência, eles mostram que não possuem essa avaliação sobre as fontes da sua competitividade, desconhecendo a sua vantagem competitiva. Os pequenos e os médios empresários estão muito envolvidos com a rotina operacional, mas não fazem idéia do que acontece fora das empresas. No máximo, são os clientes que definem o futuro do negócio. A visão estratégica precisa comandar todas as decisões operacionais, uma vez que representa cerca de 50% do tempo de evolução mental e do conhecimento do empresário."
SOLIDÃO GERENCIAL
"Nós detectamos que os pequenos e médios empresários brasileiros decidem tudo solitariamente. Trata-se de um hábito adquirido durante esse pequeno tempo de desenvolvimento industrial no Brasil, no qual não era muito difícil produzir resultados, porque tínhamos uma economia de demanda. Esses empresários detêm a autoridade total dentro dos seus negócios, e isso faz com que a propriedade interfira diretamente na administração, ou seja, eles não sabem fazer a separação entre propriedade e administração, o que leva a empresa a não ter uma orientação gerencial, estratégica e operacional. Os donos hoje estão com mais idade, não se reciclaram, e as empresas estão sofrendo com isso. É até possível que as pessoas físicas se sintam razoavelmente seguras, mas as pessoas jurídicas estão seriamente comprometidas. Por essa razão, as empresas precisam sair mais dos seus guetos, começar a ter uma visão de fora dos seus muros e fazer alianças, porque ninguém vai poder desenvolver todas as competências por si só."
PRIMEIRO PASSO
"Para mudar essa situação, é preciso que haja uma abertura cultural. Os pequenos e médios empresários precisam começar a participar de seminários, de eventos que propiciem a troca de idéias e sejam capazes de despertar algum tipo de provocação mental e estratégica capaz de gerar novo pensamento, além de um processo de reciclagem. O que se passa na mente do empresário é fundamental, pois acreditamos que temos de pôr a mão na massa como se fôssemos todos padeiros. Na realidade, antes fazer isso, temos que saber de onde vem a massa, a qualidade dela, o que vai ser produzido, qual é o melhor método e as matérias-primas envolvidas nesse processo. Entre simplesmente fazer e fazer com um conhecimento previamente estabelecido e estruturado, o resultado é bastante diferente. Nós temos um conceito no Brasil de que as empresas existem para se perpetuar, mas na verdade elas existem para gerar riqueza no seu ambiente e remunerar adequadamente os acionistas e, quando atingem determinado valor no mercado, os recursos devem ser repassados para gerar novos empreendimentos. Isso é que confere dinamismo às empresas e ao País."
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