Resgate do Pioneirismo
Quando se fala sobre o desenvolvimento econômico de um país, é impossível negar a participação de empresários que, mais do que homens de negócio, souberam vislumbrar grandes oportunidades de gerar trabalho e negociar com sua época, exercendo forte liderança sobre toda a sociedade. Nesse sentido, o cenário brasileiro dispõe de exemplos memoráveis de empreendedores que conseguiram construir verdadeiros impérios no decorrer do século XX. Sem dúvida nenhuma, o sucesso empresarial dessas iniciativas pertence a um contexto histórico e econômico diferente do que existe hoje. No entanto, a experiência desses desbravadores de mercado deixa como herança uma fonte de inspiração rica em ideais, ousadia e determinação. Quem resgatou as trajetórias de Nami Jafet, Francisco Matarazzo, Ramos de Azevedo, Jorge Street, Roberto Simonsen, Júlio Mesquita e Leon Feffer, entre outros nomes, usando uma linguagem próxima das epopéias, foi Jacques Marcovitch, ex-reitor da Universidade de São Paulo e atualmente professor da Faculdade de Economia e Administração da USP - www.usp.br. Em depoimento exclusivo, o autor do livro Pioneiros e Empreendedores, lançado no final de 2003, traça o perfil do empreendedor brasileiro e avalia a importância da livre iniciativa para o País.
ORIGENS
"A atividade empresarial brasileira nasceu a partir da produção agrícola que se transforma em atividade empresarial, incluindo as exportações do café e do açúcar. A segunda vertente desse processo evolutivo consiste no fluxo de imigrantes do mundo inteiro que vieram para o Brasil e percebem grandes oportunidades. A partir dessa visão, eles foram criando o segmento têxtil, de celulose e papel, de peças, entre outros, em razão da explosão demográfica do País, buscando atender às demandas de um mercado em crescimento constante. Isso explica porque o Brasil ainda não está muito engajado às exportações. As demandas internas são tantas que o setor produtivo não consegue responder adequadamente. Além disso, as nossas evoluções demográficas e econômicas sempre geraram incertezas. O que diferencia um empreendedor de sucesso é saber lidar com esse aspecto, é aquele dirigente que convive bem com o imponderável. Quem não souber conviver com o imponderável, não é um empresário."
ESPECIFICIDADES
"Em vez de um modelo de administração, o Brasil possui uma série de especificidades. A primeira delas é ter uma gestão empresarial sintonizada às várias culturas pelo fato de nós termos uma identidade pluricultural, o que torna a gestão brasileira muito mais sensível às diversidades. A segunda característica seria a sensibilidade à rapidez das mudanças do meio, por causa da dimensão econômica, cujos ciclos inflacionários exigiram grande capacidade de adaptação. No decorrer do século XX, houve espantosa evolução demográfica. Na primeira metade, passamos de 17 milhões para 60 milhões de habitantes durante um período de 50 anos. Depois, passamos para 90 milhões de brasileiros em 1970 e chegamos em 2000 com 170 milhões, ou seja, num período de 30 anos, incorporamos 80 milhões de habitantes. Daqui a 30 anos, vamos chegar a 230 milhões de pessoas. Não há país desenvolvido nem em construção que está vivendo esse ritmo de crescimento."
NOVO CONCEITO
"Para podermos chegar a um desenvolvimento capaz de reduzir as distâncias entre as camadas sociais precisamos cultivar e difundir o mito positivo do empreendedor. O livro procura recuperar um pouco disso, pois relata a trajetória de pessoas que já deram a sua contribuição e hoje merecem ser lembradas pelo que fizeram para que os jovens possam ver nelas um exemplo inspirador. A livre iniciativa é insubstituível, pois nenhum modelo de desenvolvimento que prescindiu do empreendedorismo privado conseguiu sobreviver. A primeira atitude que as escolas de administração e as entidades de classe devem tomar é desmistificar a palavra mercado, que vem sendo usada com sentido pejorativo nos últimos anos. Temos que recuperar a importância do empresário, do pioneiro, do mercado e da livre iniciativa. Um jovem que não vivencia a adversidade nem a diversidade dificilmente vai tornar-se um empreendedor no futuro."
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