Limite em Construção
Ao completar 42 anos de atividades ininterruptas na indústria imobiliária, Romeu Chap Chap volta à presidência do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP) - Tel.: (11) 5591-1300 - site: www.secovi-sp.com.br. Em depoimento exclusivo, ele mostra como vai usar a experiência adquirida dentro e fora do País para ajudar a encontrar os limites do crescimento viável do setor da construção civil e imobiliária na economia brasileira.
ANOS INGRATOS
"A década de 90 pode ser considerada como o pior período para a indústria imobiliária dos últimos tempos. Com o confisco da poupança, foi retirada a capacidade aquisitiva da população inteira, o que causou sérios problemas à economia interna, que foram amenizados com a entrada do Real. Depois, começamos a importar crises externas, iniciando pelo México, seguido dos países asiáticos e até da Rússia. Por fim, veio a desvalorização cambial abrupta no início de 1999. Isso tudo foi ainda agravado pela quebra da Encol e pela repercussão negativa do desmoronamento do prédio da construtora de Sérgio Naya, no Rio de Janeiro. Tivemos alguns momentos de euforia com o lançamento dos flats e a explosão dos escritórios, mas tudo feito com dinheiro dos próprios investidores, sem financiamento. Essa conturbação foi péssima para a indústria imobiliária, que precisa de uma constância, de um equilíbrio econômico, pois trata-se de um negócio de longa maturação. Estamos entrando, agora, numa fase um pouco melhor, com o Brasil vencendo a crise, graças à ajuda externa, mas à custa de uma recessão profunda, geradora de altas taxas de desemprego."
PAÍS VENDÁVEL
"Quando se fala que a economia vai crescer 4%, isso significa que está aumentando a oferta de emprego e o capital estrangeiro está apostando no País. Falava-se muito no boom do Leste europeu, e depois se descobriu que aquele pessoal não sabia nada, passaram quase cem anos sem registro de imóveis, sem mercado imobiliário, sem fábricas e sem uma porção de coisas. Já a América Latina apresenta uma estrutura organizada, com um potencial de consumo muito grande, especialmente o Brasil, que se tornou uma mercadoria muito vendável. O mundo percebeu que está tudo por fazer aqui e o País vem-se abrindo desde o governo Collor. Em relação ao mercado imobiliário, é preciso olhar o panorama mundial, ainda mais na era da globalização. Muitas empresas vão nascer e muitas vão desaparecer, principalmente aquelas que ainda não conseguiram acreditar nesses últimos anos que as mudanças vieram para valer, que é preciso aprender a viver sem correção monetária, estudar tudo de novo, saber negociar e compor custos. Vender é muito fácil. O grande desafio da qualidade está em vender concorrendo e ter margem de lucro."
SEM CARTEL
"A indústria imobiliária é a única que não dá para 'cartelizar'. Convivemos com as construtoras mais importantes do Brasil aqui no Secovi, somos todos amigos, mas não dá para combinar nada ou montar esquemas como em outros segmentos. O grande mercado atual são os imóveis de média e de baixa renda, em razão do enorme déficit habitacional do País. Embora haja muita demanda nesse sentido e empresas tradicionais estudando formas de atendê-la adequadamente, está faltando uma política habitacional voltada à baixa renda. A proposta do sindicato nesse sentido é conversar com o governo e com os meios de comunicação que desfrutam de alto prestígio, para que possamos estudar o assunto em conjunto. Ninguém está contra a política do governo, mas precisamos saber até onde podemos ir, ou seja, qual é o limite do crescimento. O Secovi está disponibilizando toda a sua estrutura e os seus esforços para oferecer oportunidades de atualização às empresas do setor, para melhorar a performance em termos empresariais, ou seja, atingir boa prestação de serviço com redução de custo e qualidade de obra. Estamos desempenhando o nosso papel, e as empresas individualmente também, porque estão vendo que, se não fizerem isso, morrem, não têm volta."
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