Como Aprender a Partir dos Erros
Todo empresário
precisa aprender a natureza da própria função, para evitar
confusões, desespero, inadimplência e até suicídio.
Um bom mecânico, por exemplo, pode ir à falência se não
souber administrar seu próprio negócio. Isso pode acontecer, especialmente
entre os ex-funcionários, que trazem a cultura do vínculo empregatício
para uma realidade em que imperam outros parâmetros, bem mais sutis e
perigosos do que uma rotina remunerada.
Moisés Dionísio de Paiva, que trabalhou na Cosipa por doze
anos, errou muito antes de firmar-se com sua Paper Indústria e Comércio
de Blocos e Materiais de Construção Ltda. - Tel.: (011) 459-1945
-, de Ribeirão Pires. Seu objetivo era ganhar mais, mas acabou perdendo
casa, carro e até precisou vender negócios, como uma fábrica
de blocos e uma loja no centro da cidade. Hoje, com a empresa consolidada, ele
sabe que poderia evitar os problemas se soubesse renegociar dívidas e
gerenciar melhor seus empreendimentos.
Sua experiência empresarial de oito anos foi anotada em um bloco que funcionou
como uma memória permanente das decisões tomadas, dos cenários
enfrentados, dos erros cometidos e das soluções encontradas. Esse
acervo particular serve como referencial e advertência e mantém
Moisés alerta para as armadilhas do mercado. No depoimento a seguir,
ele faz um inventário desse processo, no qual recapitular cada gesto
significa fazer autocrítica, assumir os erros e, assim, preparar-se direito
para o planejamento, a sobrevivência e o crescimento.
CAPITAL, O PRIMEIRO TOMBO
"Fui inspetor de qualidade na Cosipa e forcei minha saída, pois
minha finalidade era ter um negócio próprio para aumentar os ganhos.
Mas entrei no mercado sem noção, comecei a me afundar e a encontrar
um monte de problemas. Queria montar com um colega uma casa de sucos e lanches,
mas alguém me ofereceu a fábrica de blocos, que já estava
funcionando, só que estava endividada, quase falida. Eu acreditava que
a coisa não seria tão difícil, que era só vender,
ganhar dinheiro e pronto.
Mas passei por um sufoco danado, pois a coisa não é bem assim.
É preciso adaptar-se a todo um processo de administração.
A primeira dificuldade foi a financeira. A gente sempre acha que tem capital
suficiente, mas, na realidade, não tem. Às vezes, até possui
capital, mas, se você não aprende a administrar, ele vai deteriorando-se.
O correto é comprar bem para vender bem, negociar direito, não
comprar coisa fora de hora, evitar desperdício, não cair na conversa
de muito vendedor que trabalha em função dele mesmo e acaba prejudicando.
Você empata capital onde não devia e entra em despesas desnecessárias,
como taxas para a burocracia em geral.
Há chances de erros também na propaganda: se você investe
errado, não há retorno. De repente, você está sem
capital e numa situação difícil."
EXPERIÊNCIA SALVA NEGÓCIOS "O maior
problema do empresário é a falta de conhecimento, de preparo para
as suas funções. Ele precisa aprender mais e procurar todo o tipo
de informação. Na maioria dos negócios fracassados, o empresário
não sabe que ele é um administrador. Independente do tamanho da
empresa, é preciso estar a par de tudo o que acontece no seu setor, como
clientes, vendas, compras, estoque, contabilidade, empregados, impostos, fornecedores,
publicidade, concorrentes, estado de espírito seu ou da empresa, mercado
financeiro etc.
Sem uma boa matéria-prima, por exemplo, o bloco não saía
com qualidade, deixando o cliente insatisfeito. Outro problema é a escolha
certa da mão-de-obra. Às vezes, por amizade ou gratidão,
colocamos uma pessoa para chefiar a equipe. O correto seria colocar um profissional
adequado, capacitado para a função. Isso gerava muitos conflitos.
Fiquei três anos com a fábrica de blocos e atribuo meus problemas
à falha administrativa, falta de flexibilidade, de experiência
e de conhecimento. Fiz tudo errado na época: compra, venda, produção,
produtividade. Hoje, com o que eu sei, a fábrica iria para a frente."
OURO OU MINHOCA?
"Montei uma loja de material de construção no centro da cidade,
mas, por apenas três meses, acumulando dívidas, e resolvi ficar
apenas com a loja na periferia, que atende a vários bairros aqui da região.
Tudo depende do consumidor local, e isso você vai aprendendo aos poucos.
Às vezes, você não dispõe do produto mais consumido
onde você está estabelecido. É aquele negócio: de
repente o cara vende ouro e não ganha dinheiro, o outro vende minhoca
e ganha. Às vezes, o melhor negócio do mundo é o que você
tem nas mãos, mas não sabe fazer a coisa funcionar.
Fui descobrindo as coisas através de cursos como o de contabilidade financeira,
no SEBRAE/SP. Com o tempo, você aprende a conviver com as dificuldades,
inclusive as macroeconômicas. Com as anotações que eu faço,
fui colocando tudo o que eu enfrentei, e isso me serve até hoje. Teve
época em que eu sentia medo quando o dia amanhecia. Hoje, decidi parar
de reclamar e estou planejando, colocando tudo sob controle. Quero gerar emprego
e desenvolvimento. Neste ano, quero recapitalizar-me e, em 1996, agilizar a
publicidade."
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