Europeus chegam para fazer negócio
A integração
de mercados extrapola o limitado universo do intercâmbio comercial e abre
um vasto horizonte de parcerias internacionais. A nova ordem mundial está
sendo amparada por programas de cooperação de amplo espectro,
que estabelecem cenários seguros para novos investimentos, transferência
de tecnologia, "joint ventures", aumento da produção
etc. Independentemente do tamanho da empresa, é possível, hoje,
conectar canais que significam sobrevivência, crescimento e saltos de
qualidade. Basta ficar atento ao insumo básico dessa mudança radical:
a informação.
O senhor Michel Cailloüet, conselheiro para a América Latina
junto à Comissão Européia, é uma das pessoas-chave
desse processo. Ele participa do trabalho de aproximação empresarial,
colocando na mesma mesa interesses comuns de europeus e latino-americanos, com
excelentes resultados. Um dos exemplos é sua presença na Europalia'95,
um fórum de integração para o setor agroindustrial realizado
em junho, em São Paulo, com o apoio do SEBRAE/SP - tel.: (011) 279-6877,
ramais 319 e 410.
O potencial dos projetos em andamento exige uma sensibilização
imediata dos empresários brasileiros, que, na maioria, ainda não
acordaram para o fato de que poderão acessar o mercado da União
Européia, formado por 350 milhões de pessoas com elevado nível
de vida. E que mercados emergentes, como o nosso, exercem forte atração
no Primeiro Mundo.
No depoimento a seguir, ele fala sobre as infinitas possibilidades oferecidas
por essa nova realidade.
CAPITAL DE ARRANQUE "Com a entrada da Áustria,
Suécia e Finlândia, a União Européia é formada,
hoje, por quinze países e representa 40% do comércio mundial.
Calculamos que, entre cinco ou seis anos, poderemos estabelecer um acordo de
comércio entre os dois blocos econômicos, União Européia
e Mercosul. Nesse contexto, é importante desenvolver relações
entre nossas sociedades, especialmente no mundo empresarial, e favorecer os
interesses comuns. Para isso, temos instrumentos básicos de aproximação.
Um desses instrumentos possibilita a criação de 'joint ventures',
empresas mistas com participação mínima de 10% do sócio
europeu, que podem envolver tanto capital quanto tecnologia. Isso funciona através
de uma rede de cem bancos e instituições financeiras internacionais,
com nosso apoio nas diferentes fases da criação do empreendimento.
Já foram criadas mais de setenta 'joint ventures' através
desse programa.
Para que ele funcione, é preciso agir com a segurança de que a
proposta é viável, corresponde ao mercado e que a tecnologia pode
ser transferida, a nível fiscal e de capacitação. Por isso,
podemos co-financiar estudos de viabilidade, antes da decisão final.
Além de co-financiar a operação-piloto, podemos, também,
intervir na cobertura de 50% dos custos, até um teto de US$ 300 mil.
A rede de bancos que trabalha conosco pode emprestar um capital de arranque
para o projeto decolar, que corresponde a 20% de um máximo de US$ 1,2
milhão."
PROJETOS SELECIONADOS
"Esse é um sistema aberto, adequado às necessidades do setor
privado e não se limita a projetos de tecnologia. Atinge todos os setores
da vida econômica, como agricultura, indústria, mineração,
serviços etc. Para viabilizar esse tipo de mecanismo, precisamos de instituições
que façam a seleção dos projetos. Só na União
Européia, existem 16 milhões de empresas, e isso impossibilita
o acesso direto.
Temos no Brasil organismos institucionais, como o SEBRAE, para identificar as
possibilidades. Existe, inclusive, um fundo para a capacitação
de engenheiros para o estudo desses projetos. O problema é que temos
bancos em toda a Europa e em vários países da América Latina,
mas ainda nenhum no Brasil. Espero que isso seja solucionado em breve.
Outra iniciativa importante para acelerar o fluxo dos contatos é o programa
AL-Invest, que funciona há um ano. Em primeiro lugar, estamos criando,
através de organismos existentes, como câmaras de comércio
e federações patronais, uma rede de eurocentros de cooperação
empresarial. Já foram criados cinco desses eurocentros, em Porto Alegre,
em Curitiba, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em São Paulo. A idéia
é preparar os empresários para encontrarem um sócio europeu.
Em contrapartida, na Europa temos a Coopeco, que é uma rede de cooperação
econômica com 180 membros, específica para acompanhar os contatos
com a América Latina."
INSTITUIÇÕES FORTES "Os europeus
estão interessados na América Latina, que possui mercados emergentes
e onde é mais fácil trabalhar do que na Ásia, por exemplo,
pois temos uma cultura comum. É importante agir em sintonia para competir
a nível mundial. Os europeus querem, em primeiro lugar, uma associação
comercial para poder vender produtos no Brasil e, em segundo, uma forma de transferir
tecnologia.
O processo de integração é complexo e mais completo do
que o simples intercâmbio. Inclusive já estamos desenvolvendo,
há três anos, um programa especial de apoio ao Mercosul, transferindo
tecnologia de integração, orientação sobre problemas
aduaneiros, normas técnicas etc. Existe um Centro de Formação
e Integração Regional em Montevidéu para transferir essa
tecnologia de integração. Para isso, contamos com instituições
fortes de apoio, como a Comissão Européia e a Organização
das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI), entre
muitas outras."
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