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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 175 (13/08/1995)

Arquiteto Recicla Lixo do Couro

O couro industrializado é eterno, porque o processo de beneficiamento utiliza o cromo, material cancerígeno que não se dissolve na natureza e acaba sendo enterrado junto com o refugo. A serragem poluente, denominada wet blue, que salta das lixadeiras na confecção de calçados, móveis e roupas, é um pesadelo ambiental em todos os países produtores de artefatos de couro.
É por isso que o governo canadense está investindo US$ 5 milhões em pesquisa na Funesp, Fundação da Universidade Estadual Paulista, para encontrar uma solução para esse problema. E é nos laboratórios da Funesp que está em teste final uma solução criada pelo arquiteto Emar Garcia Junior - tel./fax: (0162) 74-3969 -, de Franca, interior do Estado. Ele levou três anos pesquisando até chegar a um aglomerado de couro altamente resistente.
Seu segredo é um aglutinante vegetal que transforma o lixo do couro em um material com múltiplas utilidades, especialmente para a construção civil. No depoimento a seguir, Emar explica como desenvolveu esse trabalho, enfrentando descrença e preconceitos, e como pretende transformar-se num empresário, utilizando a nova matéria-prima no seu nicho profissional.

ESTRAGUEI O LIQUIDIFICADOR
"O wet blue, independentemente da quantidade, tem prejudicado o ambiente, contaminando as águas e gerando sérios problemas. Só em Franca, a produção desse resíduo é de 150 mil toneladas por mês - podemos imaginar a quantidade gerada no resto do estado, no País e no mundo. Isso tudo vai para o lixo, não tem aproveitamento nenhum.
Foi minha atuação como arquiteto que me definiu o tema da pesquisa. Minha preocupação era como usar esse refugo da melhor maneira, para evitar que ele nos prejudique, obtendo o melhor resultado com ele. A partir daí, o trabalho foi evoluindo de maneira muito penosa. Precisei realizar diversas experiências, pesquisando todo tipo de aglutinante possível. Até que, em determinado momento, obtive um aglutinante vegetal, de baixíssimo custo.
O importante é não desistir de uma boa idéia. Tem que dormir e acordar com ela, passar 24 horas pensando nisso. Se não for asssim, não resolve. E não interessa se os outros acreditam ou não, o importante é você acreditar. Quem está de fora do processo estranha, fica surpreso. Causei impacto em casa, quando coloquei a raspa de couro no liquidificador, quase precisei comprar um novo. Minha esposa ficou espantada com o aglomerado que não quebra e pode voltar quando alguém arrisca jogá-lo na parede. A leveza e a resistência da massa também impressionaram bastante meus colegas de profissão."

MATERIAL PARA CASAS POPULARES
"Depois das primeiras experiências e da obtenção do produto final, cheguei à conclusão de que a pesquisa foi além das expectativas e o produto tem inúmeras finalidades. Trata-se de uma massa que pode ser usada em blocos ou divisórias para construção civil e em móveis. É uma matéria-prima polivalente, pois pode adequar-se em qualquer molde ou fôrma, além de ter seu PH alterado de 3,9 para 6,5 depois de processada.
As opções são infinitas. Podemos produzir vaso, cadeira e até tijolo para casa popular. Como a matéria-prima é lixo, o custo é zero. Com a mão-de-obra barata que temos no Brasil, será possível fazer um bloco nas medidas 20x40x10 cm, que são o padrão quando utilizamos o concreto, gastando apenas dois centavos de aglutinante. Imagino que uma casa feita com esse material vai sair dez ou doze vezes mais barata.
Você pode argumentar que não existe nada mais barato do que o barro para o tijolo. Mas temos problemas ambientais com a exploração tradicional do barro. Então, nosso tijolo de couro também tem mais esse aspecto, de diminuir o impacto no ambiente provocado por soluções tradicionais.
Ficaria muito orgulhoso como arquiteto se as favelas desta cidade fossem substituídas por bairros onde as casas fossem feitas a partir do lixo que a indústria de Franca joga fora."

PARCERIAS PARA O FUTURO
"Meu maior problema foi a falta de recursos. Fui experimentando, testando, utilizando alguns artigos domésticos que comecei a ficar entusiasmado com os resultados. Usando o fogão lá de casa, descobri, por exemplo, que o material não é inflamável. Outro teste foi mergulhar a amostra numa solução de impermeabilizante, deixar num copo de água durante cinco dias e verificar que ela não afunda. Ao colocar pessoas com mais de cem quilos em cima do material, vi que ele também não quebrava.
Li, num jornal de Franca, uma reportagem sobre uma verba que viria do Canadá para a Funesp estudar esse problema. Procurei, então, o senhor Elil Palermo, diretor da Funesp em Franca, e consegui o apoio dele para que fossem realizados os testes. Outro bom parceiro foi o senhor Walter Moscão, do SEBRAE/SP, que me deu todas as orientações necessárias. Graças aos seus conselhos, registrei o invento em cartório e levei para o IPI patentear.
Falta, agora, mais um parceiro, que entre com os recursos para uma futura empresa de construção que utilize esse material. Isso vai gerar empregos, pois será preciso muita gente para trabalhar com a nova matéria-prima."


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