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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 174 (15/01/1995)

Sebrae é um Instrumento da Mudança

O Brasil mudou. O modelo político e econômico autoritário, centralizador, tornou-se obsoleto, e sua ruína gerou um vácuo político, que está sendo preenchido pela dinâmica de uma sociedade empreendedora que se organiza em todos os níveis. O SEBRAE atua no olho do furacão, valorizando um herói nacional, o cidadão que monta o próprio negócio.
O presidente do Conselho Deliberativo do SEBRAE/SP, professor Sylvio Goulart Rosa Junior, faz essa análise a partir das raízes e da evolução de um processo histórico que hoje se situa na sua fase decisiva. A crise brasileira, nessa visão, pode ser comparada ao embate entre uma realidade que emergiu mas ainda luta contra forças atuantes do passado.
No depoimento a seguir, o professor Sylvio - físico da Universidade de São Paulo e que assumiu a presidência do Conselho em 1º de fevereiro - traça o perfil dessa transformação profunda e radical e aponta os caminhos a serem trilhados para que ela se consolide da melhor maneira possível entre nós.

NOVOS AGENTES ENTRAM EM CENA
"O modelo fechado de substituição de importação, baseado na industrialização, tem suas origens em fatos ocorridos na Primeira Guerra Mundial. Foi quando o Brasil, que obedecia à clássica relação de país subordinado a um poder colonial - no caso, a Inglaterra -, ficou isolado dos seus fornecedores. Quem percebeu com mais clareza a necessidade estratégica de implantar esse modelo foram os militares.
O movimento tenentista manifesta essa questão, como uma questão de soberania, segurança nacional e sobrevivência. A Revolução de 1930 rompe o poder dos grandes fazendeiros, e Getúlio Vargas fortalece o processo de industrialização, principalmente a partir da Segunda Grande Guerra. E quem leva o modelo ao limite é Ernesto Geisel, o último tenente. O esquema bem-sucedido realmente industrializou o País. O Estado é, ao mesmo tempo, planejador, financiador, executor e fiscalizador.
Esse modelo esgota-se em conseqüência de três fatos: a crise do petróleo, a dívida externa e o esgotamento do regime militar. Como conseqüência desse colapso, o modelo vai à falência e enfrentamos quinze anos de vácuo político. O Estado perde sua funcionalidade e é obrigado a encolher. Esse espaço, então, começa a ser ocupado por novos agentes políticos e econômicos."

CULTURA ESCRAVAGISTA SOBREVIVE

"A Grande São Paulo é o produto mais bem acabado do modelo antigo, que é centralizador de gente, de renda e de oportunidades e, portanto, excludente e sem nenhuma sensibilidade social. A sociedade, majoritariamente urbanizada, começa a se organizar através de vários mecanismos, que podemos chamar genericamente de organizações não governamentais, para fazer reivindicações e prover os serviços de que a sociedade necessita.
Nas pequenas cidades, iniciativas de geração de renda pelo exercício de atividades econômicas informais têm um efeito catalisador. Quem planejou isso? Ninguém, pois o Estado perdeu essa capacidade estratégica. Nem as prefeituras, às vezes, conseguem capitanear esse processo.
Em várias regiões, foram criados pólos de produção, com agentes econômicos pequenos que se aglutinaram. A busca da geração de empregos é decorrência da insatisfação dos desempregados e assalariados. Salário no Brasil ainda é uma manifestação da cultura escravagista, fruto de uma visão distorcida da relação capital-trabalho que perdura até hoje. No interior de São Paulo, surgem experiências variadas, negócios feitos sem o envolvimento do governo. Por exemplo, não existe a Sucobrás, mas o interior paulista exporta cerca de US$ 1 bilhão de suco. Há vários exemplos, no Estado de São Paulo, de iniciativas bem-sucedidas. É o caso da região de Votuporanga, com seu pólo moveleiro; de Ibitinga, na área de bordados; Americana, no setor têxtil; Franca, no setor de calçados; e São Carlos, reconhecido pólo de alta tecnologia, entre outros. Só uma sociedade moderna organiza-se dessa maneira."

DISTRIBUIR PARA CRESCER
"Ao abrir espaço no mercado, os pequenos empresários começam a delinear um novo modelo, que gera novas relações sociais. Esse novo regime tem que pagar a dívida social acumulada, deve ser, necessariamente, um modelo de desenvolvimento distribuidor, no qual a maior escada de ascensão social é a pequena empresa, pois pessoas empreendedoras existem em qualquer lugar. Apoiá-las é, dessa maneira, contribuir para eliminar as tensões sociais. O empreendedor deve ser olhado com um herói nacional, o novo bandeirante.
O SEBRAE participa da mudança, sendo um instrumento de modernidade, lidando com esse novo agente econômico que não é percebido. Por isso, na minha gestão, uma das missões é desburocratizar e ajudar a criar um cenário macroeconômico pró-negócio, eliminando a fúria regulatória de cima da microempresa. Não se trata de criar privilégios, mas de dar um tratamento diferenciado, apropriado à capacidade de cada um. Só assim todas as obrigações poderão ser cumpridas integralmente.
Para fomentar a microempresa, o objetivo do SEBRAE é oferecer seus serviços com qualidade e a preços acessíveis a todos os micro e pequenos empresários do Estado de São Paulo. Queremos entender, integralmente, o nosso cliente, o nosso negócio e a geopolítica desse novo cenário."


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