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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 253 (09/02/1997)

Dificuldade de Entender o Momento

Raramente, quem vive o dia-a-dia da história consegue, em tempo real, compreender e avaliar, com lucidez e profundidade, a extensão das contínuas mudanças na sociedade, no País e no mundo. Especialmente se tais processos impõem radicais alterações de conceitos, posições e comportamentos fortemente enraizados e cristalizados na cultura nacional. Porque, somente algumas poucas pessoas - além da rara capacidade de observação e de análise isenta e imparcial - dispõem daquela característica mental definida pelo sociólogo americano Wright Mills como "imaginação sociológica" que, trocando em miúdos e sem rigor científico, se pode considerar a capacidade de "entender o que está-se passando". Um desses observadores diferenciados é o empresário paulistano Mario Amato, presidente do Grupo Springerwww.springer.com.br –, que, em depoimento exclusivo, analisa o processo de evolução da indústria e do empresariado brasileiros, no contexto de uma economia interna tendente à estabilidade e da irreversível onda de globalização dos mercados internacionais.

A EMPRESA COMO BEM PÚBLICO
"Ninguém é mais dono absoluto da empresa. Ela é um bem público, em que os empregados são os parceiros. Na divisão social do trabalho, o empresário é apenas parte, sendo os empregados, como parceiros, a outra. Se você não tem parceria, mas somente inimigos na fábrica, não produz. Você tem que ter companheiros, parceiros no trabalho, porque eles precisam ter consciência do que estão fazendo. Ele não é mais um quase-autômato que chega à fábrica e vai apertando parafusos, simplesmente. Ele precisa saber que está apertando parafusos com uma finalidade específica e para quê. Antigamente, nas fábricas americanas, cada operário tinha a sua especialidade, que era exercida num setor de trabalho exclusivo. Isso também está mudando: agora buscam operários de generalidades, 'especialista em generalidades', que podem cumprir diversas tarefas e também disponham da visão de conjunto. Todos podem ser responsáveis pelo assemble (montagem) do produto final. O bom empresário, em minha opinião, é aquele que antevê as novas tendências e procura administrar, sem maiores traumas, a busca e a adaptação aos novos caminhos."

FIM DO "PAIZÃO"
"Evidentemente, as mudanças não se processam rapidamente - e também são dolorosas. Meu filho talvez seja mais liberal do que eu, meu neto ainda mais do que seu pai... Prevalecia o paternalismo nas relações entre patrões e empregados. Ao final do ano, numa grande empresa paulista, por exemplo, o dono recebia os empregados para o 'beija-mão' e, em contrapartida, recebiam as bênçãos do 'paizão' e gratificações, cestas de Natal, presentes. Havia hora para entrar, não para sair. Hoje não existe mais 'paizão', porém obrigações legais. Além disso, hoje o empresário 'precisa do mercado'. Com as leis de defesa do consumidor e do meio ambiente e os certificados de qualidade, o cliente passa a ser senhor do mercado. No passado, o empresário gozava de muitos privilégios: se você produzia um tecido especial, ou cimento, aço etc., o cliente precisava habilitar-se a obter uma cota. Ele era vendedor, ditador do mercado... Se queria retaliar, suspendia-se a cota."

AS CRISES DEPURADORAS
"É muito importante o papel das crises e das dificuldades como fatores de melhora e crescimento, ao possibilitar o conhecimento da verdadeira dimensão das necessidades. Meu pai perdeu todos os bens com a crise de 1929 e, pessoalmente, considerei isso uma felicidade, porque os problemas e as necessidades geram sabedoria e ousadia para vencer ou morrer. Quem consegue sobreviver é um vencedor. Nessas circunstâncias, os conflitos surgem geralmente por deficiência de educação em sentido amplo. No meu entender, a base de um processo educativo efetivo e verdadeiramente sólido está na pré-escola. A última e mais importante contribuição social que pretendo dar será disseminar a pré-escola entre nós. O que é aprendido na pré-escola jamais se esquece: os dez mandamentos que se aprende bem cedo você respeitará para sempre, convertendo-o no juiz de sua própria consciência, o instrumento que lhe permite conviver num mundo com regras e disciplina, direitos e deveres."


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