Home











...



« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 210 (09/04/1996)

O mestre Camiseiro Receita Qualidade

Roupa não é comércio, é serviço. O consumidor tem um custo permanente para andar vestido da maneira adequada. Esse valor deve ser medido não pela peça isolada - que, com o uso, acaba sendo substituída -, mas pelo atendimento correto da necessidade. É como ocorre com a saúde ou o cabelo: a eficiência do profissional acaba criando um vínculo com o cliente, que desenvolve um hábito e até mesmo uma amizade. No tempo em que todo mundo mandava fazer roupa sob medida, essa relação era clara, mas, como isso hoje é praticamente inviável, o serviço tornou-se invisível por trás das vitrinas padronizadas e impostas pela moda.
Mas o mestre camiseiro Júlio Rodrigues, de 65 anos, desenvolveu uma receita própria para atender a urgência da época e, ao mesmo tempo, manter o contato com os clientes. A camisaria que tem o seu nome - Tel.: (011) 842-4508 - só vende produtos prêt-a-porter, mas mantém o vigor e a qualidade dos bons tempos: personalização, estilo clássico, fibras de primeira linha e preços de shopping center, ou seja, média de R$ 85 por unidade.
Sua receita também é clássica: uma equipe pequena, afinada, realiza-se tocando o trabalho regido por um maestro. É o que ele conta a seguir.

MUDANÇAS DE ENDEREÇO

"Aprendi o ofício em empresas top de linha, como foi o caso da Camisaria Alfredo, talvez uma das melhores que existiram no Brasil. Depois, fui trabalhar por conta própria. Montei a Júlio Rodrigues Camiseiro, em 1959, na rua Marquês de Itu, depois, mudei para a Maria Antônia, rua da Consolação e, finalmente, o endereço atual, Antônio Carlos, 414. No início, confeccionava sob medida camisas sociais e esportes, cuecas e pijamas. Paralelamente, fazia atendimento de facção para algumas lojas de alto padrão estabelecidas em São Paulo e no interior do estado. Tive, também, uma loja no Shopping Morumbi, em sociedade com outra pessoa, mas desativei.
Entre 1976 e 1980, atuei como fornecedor de camisas de série. Resolvi funcionar como uma pequena indústria, mas o espaço aqui da loja era pequeno e eu não tinha o conhecimento administrativo. Nesse nicho, você enfrenta um problema muito sério, que é a concorrência, mas o preço da concorrência não bate com minhas despesas, então resolvi parar e comecei a fazer camisas para vender apenas na minha loja."

A MENSAGEM É O PRODUTO
"Não trabalhamos sob medida, mas podemos fazer, quando necessário, algumas adaptações. Optamos, também, pelo estilo clássico, que nunca sai de moda. Como somos pequenos e não temos muita verba para propaganda, conseguimos difundir nosso trabalho através de um serviço de mala direta e da propaganda boca a boca. Tenho hoje cadastrados 2 mil clientes. Para cada um deles, procuramos sempre passar uma mensagem, que é o nosso produto.
Eu faço uma mercadoria bem feita e, evidentemente, ela vai ter uma repercussão. Nosso produto diferencia-se pela qualidade, chama a atenção da esposa, por exemplo, que entende de costura e compara com as outras camisas. Ao mesmo tempo, procuramos preencher o interior da gente. Se você fez um bom produto, agradou seu cliente, isso é um prêmio, é um retorno. A confecção não é um trabalho individual, é de uma equipe. Os trabalhos feitos em equipe dependem muito da qualidade dos profissionais que você consegue somar. Sempre tive profissionais qualificados e tenho, inclusive, costureiras que trabalham comigo há vinte anos. Formamos uma espécie de linha de montagem, com sete pessoas. Pela repetição da tarefa diária, a pessoa adquire prática e, como as coisas não variam, já que trabalhamos com o estilo clássico, então conseguimos manter o padrão."

IDENTIDADE PRÓPRIA

"Na mala direta, envio sempre cartas criativas. Muitas delas foram confeccionadas pelo publicitário Carlito Maia, que é quase um irmão meu. É importante estreitar a distância entre a empresa e o cliente. De repente, você não é apenas o profissional que faz camisa, mas uma pessoa que se comunica com seu cliente. Esse relacionamento enriquece a nossa vida. Acho que você não pode vir para sua firma carregar uma cruz. Você vem na firma para dialogar com amigos e clientes, sentir seu dia-a-dia de uma forma diferente.
As empresas de confecção estão hoje mais voltadas para o lado do consumismo. Para elas, o importante é que seja um produto de aceitação rápida. Se é bom ou não, não importa. Existe muita compra por impulso, ou por indicação de outra pessoa. As lojas, em geral, estão muito padronizadas. Acho que poderiam criar um estilo próprio, ter uma personalidade. Cada profissional tem a sua identidade, e o seu público identifica-se com isso. O que vale, também, é o nível de atendimento, pois é muito comum você entrar numa loja e prometer nunca mais pisar lá. Acho o mercado de atendentes muito precário. Deveria haver mais preparo, mais treinamento. O empresário precisa, também, ser bem assessorado e fazer seus cursos. Aqui, na empresa, o SEBRAE/SP fez um Plano Diretor de Informática, de que eu gostei e implantei.
Quem atende a camisaria sou eu, minha esposa Angelina e meu filho Roberto. Estou há quarenta anos nessa atividade. Já queimei muita lenha e gostaria de pendurar a tesoura. Posso continuar no ramo, talvez desenvolvendo um trabalho de consultor, ensinando o que aprendi durante todo esse tempo."


« Entrevista Anterior      Próxima Entrevista »
...
Realização:
IMEMO

MANTENEDORES:

CNS

CRA-SP

Orcose Contabilidade e Assessoria

Sianet

Candinho Assessoria Contabil


Pró-Memória Empresarial© e o Programa de Capacitação, Estratégia e Motivação Empreendedora Sala do Empresário® é uma realização do Instituto da Memória Empresarial (IMEMO) e publicado pela Hífen Comunicação em mais de 08 jornais. Conheça a história do projeto.

Diretor: Dorival Jesus Augusto

Conselho Assessor: Alberto Borges Matias (USP), Alencar Burti, Aparecida Terezinha Falcão, Carlos Sérgio Serra, Dante Matarazzo, Elvio Aliprandi, Irani Cavagnoli, Irineu Thomé, José Serafim Abrantes, Marcos Cobra, Nelson Pinheiro da Cruz, Roberto Faldini e Yvonne Capuano.

Contato: Tel. +55 11 9 9998-2155 – [email protected]

REDAÇÃO
Jornalista Responsável: Nei Carvalho Duclós - MTb. 2.177.865 • Repórter: ;
Revisão: Angelo Sarubbi NetoIlustrador: Eduardo Baptistão

PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTAS ENTREVISTAS sem permissão escrita e, quando permitida, desde que citada a fonte. Vedada a memorização e/ou recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte da obra em qualquer sistema de processamento de dados. A violação dos Direitos Autorais é punível como crime. Lei nº 6.895 de 17.12.1980 (Cód. Penal) Art. 184 e parágrafos 185 e 186; Lei nº 5.998 de 14.12.1973


Hífen Comunicação
© 1996/2016 - Hífen Comunicação Ltda. - Todos os Direitos Reservados
A marca Sala do Empresário - Programa de Capacitação, Negócios e Estratégia Empresarial
e o direito autoral Pró-Memória Empresarial, são de titularidade de
Hífen Comunicação Editorial e Eventos Ltda.