Negócios Com o Mundo pelo Micro
Existe uma feira permanente de negócios em todo o mundo que pode ser acessada pelo computador. Não é preciso viajar nem ter despesas de grande empresário. Basta encarar a informação como insumo de ação estratégica, pois já existem instrumentos para que isso aconteça.
Mesmo sem participar diretamente dos negócios, os vários produtos de informação do TIPS - Sistema de Promoção de Informação Tecnológica e Comercial - confirmam essa tendência. Seu Banco de Dados tem 42 mil notas sobre tecnologia e comércio exterior, e seu sistema trabalha com informações sobre ofertas e demandas de produtos, serviços, tecnologias e fontes de financiamento de empresas, universidades e institutos de pesquisa em dezessete setores da economia, como construção civil, couros e calçados, têxtil, turismo, embalagens, entre outros.
Fundado em 1986 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o TIPS é uma Organização Não Governamental que está presente em 45 países. A sede mundial é Roma, e São Paulo é a sede nacional - Tel.: (011) 251-5199 . O diretor-geral é o jornalista Roberto Savio, que, na década de 60, foi chefe de imprensa de Aldo Moro e, na de 70, diretor-geral da Rádio e TV Italiana (RAI). Ele visitou o Brasil recentemente, na companhia de Esteban Valenti, diretor regional para a América Latina em Montevidéu. No depoimento a seguir, Savio fala das oportunidades que a tecnologia da informação abre para quem encara seriamente a globalização.
LIÇÃO CHINESA
"A globalização é um fenômeno que começa em 1989, com o fim da Guerra Fria, quando o capital tem condições de circular livremente. Antes disso, existia um equilíbrio em que o espaço nacional era muito forte. Hoje, já não é assim. A globalização significa que a transferência de tecnologia e dos capitais do Norte para o Sul tem aumentado num ritmo de 35% ao ano. Nessa situação, a China recebeu 22 vezes mais investimentos estrangeiros do que o Brasil. Aqui, ninguém se preocupou com isso. Eu me preocuparia muito.
Ninguém refletiu seriamente sobre as vantagens competitivas do Brasil, que são três. Primeiro, os recursos naturais, pois é um dos países que têm a maior proporção entre esses recursos e o tamanho da população. O segundo é que está situado estrategicamente numa zona que abre da América Latina para a África. Nisso, o Brasil fez muito pouco. Fora o Mercosul, que é novo, o Brasil não teve papel nenhum na integração latino-americana. Ficou afastado. A terceira vantagem é gente. O brasileiro, em termos intelectuais e profissionais, é muito capacitado. Mas por que o capital vai para a China? Porque lá existe uma política de captação de capital estrangeiro, mantendo um organismo especializado nessa tarefa. Aqui, não existe uma política desse tipo. O Itamarati é um organismo muito sério, mas muito nobre, não tem nada o que fazer com dinheiro. Quando você vai numa embaixada da China, encontra uma série de pessoas interessadíssimas. Na embaixada brasileira, você encontra gente que fala de cultura. O problema é que o movimento de capitais hoje é tão gigantesco e dinâmico que quem não estiver interessado nele vai ficar de fora."
A ALIENAÇÃO DOS BRASILEIROS
"Os empresários brasileiros não têm muita consciência desse processo. A nível institucional, são pouco agressivos, pouco dinâmicos. Estão ocupados tradicionalmente na expansão do mercado interno, que tem um potencial tão grande que parece ser infinito.
Nesta minha visita ao Brasil, vejo que o empresário fala do mercado mundial como algo longe, algo que não tem nada a ver com a vida diária das pessoas. O empresário brasileiro não tem informação nem consciência das possibilidades que existem para ele internacionalmente e vive com uma visão sensorial do mundo que ele conhece. Existem algumas indústrias brasileiras que são líderes internacionais em seus setores, mas são pouquíssimas. Quem se projeta internacionalmente não vem muito de uma experiência interna, brasileira, de uma cultura do Brasil profundo. Isso vai ter que mudar obrigatoriamente e se fará com muito sofrimento e problemas internos. Hoje, é possível fazer uma fábrica de sapatos na Indonésia com a quarta parte do custo do que é possível fazer no Brasil. Ninguém vai para lá. Quando isso acontece, é uma decisão isolada."
A FORÇA DAS ENTIDADES
"O TIPS é uma Internet que foi criada antes da Internet. Ele possui um material orientado para a ação. A idéia é possibilitar ao empresário enxergar as oportunidades e ajudá-lo. Por isso, criamos um sistema de apoio que, se o empresário brasileiro quiser ir à China, o TIPS tem lá dezessete escritórios. Nesta minha visita, formalizamos a entrega de equipamentos de informática aos oito Eurocentros do Brasil, que permitirão o acesso ao nosso Banco de Dados e aos das novas redes como a ETNA, voltada para tecnologias ambientais. Hoje, o papel das entidades é multiplicador, motivador, co-participador. Precisamos estimular as instituições para que tenham um papel mais dinâmico, imaginativo, criador. A força e a representatividade das organizações brasileiras são um grande instrumento de promoção e projeção de serviços para os empresários. Com o SEBRAE temos um convênio em que o TIPS fornece o serviço de respostas técnicas. Esse trabalho começou no Brasil e está estendendo-se para toda a América Latina."
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