Capacidade Ociosa Desafia Indústria
O que fazer com a capacidade ociosa de uma indústria? Se a decisão é vender as máquinas, pergunta-se: para quem e para quê? Esperar a volta dos bons tempos também não resolve, pois a mudança do mercado é irreversível e tudo o que valia ontem vai valer ainda menos amanhã. E nem adianta rogar praga contra a concorrência externa, porque o Brasil é signatário da Organização Mundial do Comércio e está comprometido com a globalização. Na área têxtil, essa é uma briga de vida ou de morte em todos os seus segmentos: malharia, tecidos planos, confecções, máquinas e equipamentos. A abertura para o exterior atingiu todos, sucessivamente, e quem sobreviveu não consegue extrair do chão de fábrica tudo aquilo que foi investido nele, com muito sacrifício. A saída é pensar como os sócios Ernesto Humberto e Valdir Schick e Mauro Bin, da Indústria e Comércio Schick Bin - www.schickbin.com.br - de Santo André.
Eles fazem parte da segunda geração da empresa, que foi fundada em 1956 por Guilherme e Roberto Schick e Ciro Umberto Bin e é especializada em fabricação e manutenção de equipamentos têxteis. Nos anos 90, o quadro de funcionários reduziu-se de 80 para 24 pessoas e a capacidade ociosa ficou em torno de 60%. Mas eles estão otimistas. No depoimento a seguir, Ernesto Humberto e Valdir contam por quê.
TAIWAN CHEGA COM TUDO
"Há quarenta anos, a empresa começou a produzir platina, uma peça que trabalha juntamente com a agulha para fazer o ponto do tecido. A partir daí, cada máquina que entrava no Brasil vinha com um determinado tipo de peça, então começamos a desenvolver tecnologia para atender essa demanda. Primeiro, partindo para modelos diferentes de um mesmo produto e, depois, diversificando para valer. Nosso forte hoje é a linha de produtos para manutenção de máquinas de malharias, mas temos condições de atuar em outros setores, como fiação e tecelagem. A modernização da área fez com que as máquinas obsoletas deixassem de ter consumo de peças e, por isso, esse ramo sofreu um processo de recessão, pois as máquinas chegam com contrato de manutenção dos fabricantes. Além disso, as tecelagens que quiseram continuar com produção própria praticamente fecharam, porque os importados entraram com um custo muito menor. Devido ao nosso custo alto em relação à concorrência estrangeira, paramos a fabricação de máquinas, pois, quando abriram a importação, foi possível comprar de tudo lá fora, até camiseta. A abertura foi muito grande. Quem fabricava parou de produzir ou importou. Hoje, esse processo já está-se revertendo. Mercadorias importadas atrasam na aduana e há, também, alguns problemas com qualidade e, por isso, muita gente quer voltar à produção nacional, desde que sejam praticados os preços internacionais."
TERCEIRIZANDO O CHÃO DE FÁBRICA
"Temos problemas sérios com a abertura na área têxtil, do jeito que foi feita. O setor de informática teve tempo para se preparar. Além disso, temos que enfrentar o Custo Brasil. A matéria-prima que compramos para fabricar a platina, por exemplo, tem 15% de imposto de importação, mas é possível importar a peça pronta com alíquota zero. Isso obriga-nos a trabalhar com o produto praticamente sem margem de lucro, apenas para mantermos nossa parcela de mercado, que é significativa. Apesar de todas as dificuldades, a empresa foi modernizada, implantou novos processos de trabalho, possui maquinário com tecnologia de ponta. Demos esse salto antes do Plano Collor, pois já estávamos preparados para a evolução. Mas a retração do mercado obriga-nos a pensar em algumas saídas para enfrentar a capacidade ociosa. Um dos projetos é desenvolver produtos para outras áreas. Chegamos a criar um rebobinador de fitas, um produto automático para o setor de estamparia. Pensamos, também, em terceirizar parte de nossa planta industrial para outras empresas. Temos boas oportunidades potenciais dentro da mecânica, da ferramentaria e da usinagem. Dispomos de uma gama de serviços para serem feitos, só que ainda estamos presos à tradição da área têxtil e não é muito simples começar uma diversificação."
A CONQUISTA DE NOVAS PRAÇAS
"Estamo-nos voltando para o mercado externo, exportando nossas peças para Itália, Espanha, Portugal e alguns países da América Latina. Internamente, estamo-nos reestruturando e contratamos um profissional para gerenciar as vendas. Isso já é uma mudança na cultura, porque numa empresa familiar você dificilmente traz alguém de fora para certos cargos. Tínhamos representantes que não eram dimensionados, não eram cobrados nem controlados. Hoje, nossos mercados fortes já não são somente São Paulo e Santa Catarina. Outros estados já passam a ter participação significativa, como Minas Gerais e Rio de Janeiro, entre outros. Começamos a reestruturar a empresa por volta de 1990, contratando consultoria externa, através do SEBRAE/SP. Havendo reaquecimento do mercado, temos condições de atender os clientes com menor custo e prazos de entrega mais curtos O governo deveria olhar um pouco mais para as empresas de pequeno e médio portes, porque as empresas grandes conseguem enfrentar as dificuldades. Elas tem 'lobby', financiamento. Os pequenos precisam ter mais acesso ao capital de giro para poder tocar a empresa."
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