« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 538 (28/07/2002)

Pela Conquista do Ensino Contábil

Apesar de o Conselho Nacional de Educação (MEC) querer a redução da carga horária mínima para os cursos de contabilidade, a categoria contábil brasileira vem reagindo e manifestando-se contra essa iniciativa que compromete a qualidade do ensino contábil em nível superior. Após quatro anos à frente da presidência do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), José Serafim Abrantes, diretor da Orcose - Contabilidade e Assessoria - www.orcose.com.br -, fala, em depoimento exclusivo, sobre a ênfase e as conquistas da sua gestão na formação do contabilista num momento em que o mercado e a sociedade exigem desse profissional cada vez mais competência e uma participação ativa como elemento de proteção, haja vista os escândalos recentes provocados pelos balanços fraudulentos de grandes companhias americanas que abalaram a confiança mundial na economia dos Estados Unidos.

MUDANÇA POSITIVA
"A partir do momento em que os executivos financeiros, conforme o presidente dos Estados Unidos está afirmando em seus discursos, passarem a ser os responsáveis em primeira mão pelos balanços das empresas norte-americanas, independentemente se vão compartilhar ou não essa responsabilidade com terceiros, teremos uma grande mudança em âmbito mundial. Trata-se de uma inovação na economia, com a tendência de se propagar de forma rápida, porque os interesses estão muito entrelaçados. Mesmo que o governo brasileiro venha a implementar de forma tardia essa medida, as empresas passarão a adotá-la de imediato. Até hoje, os conselhos corporativos estavam protegidos, porque a responsabilidade ficava por conta das empresas de auditoria que costumam trabalhar com indenizações altíssimas. Como não há relatório de auditoria que, antes de se tornar efetivo, não passe pelas mãos dos executivos contratantes desses serviços, essa nova postura vai trazer resultados bastante positivos para o mercado como um todo, se esses profissionais passarem a ser os principais responsáveis."

CONVÊNIOS
"Quando assumi a presidência do CFC, de 1998 a 2001, a única maneira de ganhar tempo era despender tempo nos dois primeiros anos, realizando encontros no Brasil inteiro com a intenção de motivar o profissional da contabilidade a evoluir e a acompanhar as mudanças. Para isso, dedicamo-nos muito à educação continuada, mas não só na área de eventos, porque nos seminários são indicados os caminhos, porém as pessoas ficam com um espaço muito aberto para segui-los. Nós precisávamos fazer mudanças para que os caminhos fossem obrigatórios, e isso tornou-se possível por meio do estabelecimento de parcerias com as faculdades e da interferência nos currículos escolares, incluindo sugestões ao MEC. Nesse esforço para melhorar a qualidade do ensino superior em ciências contábeis, chegamos a fazer uma série de convênios com o objetivo de formar mestres e doutores em contabilidade, bancando pelo menos um terço das bolsas de estudo. Buscamos instituição por instituição, e hoje temos anualmente cerca de 250 mestres em formação e mais de 1.500 alunos matriculados em cursos de especialização."

VISIBILIDADE
"A partir do momento em que começamos a ofertar melhores condições de ensino, isso trouxe como complemento a necessidade de um exame de suficiência, que foi instituído no ano 2000. Trata-se de uma grande vitória que tem por objetivo central aprimorar o ensino superior em ciências contábeis e não avaliar os profissionais da área. Outro aspecto fundamental da minha gestão no CFC foi colaborar para a repercussão da Lei de Responsabilidade Fiscal, que veio com um atraso de doze anos. Em parceria com o Instituto Ethos, descobrimos formas de brigar para que essa lei, que permite o acompanhamento dos balanços fiscais dos municípios e dos estados, não fosse combatida e que realmente desse certo em todo o Brasil. Atualmente, a lei está em pleno vigor, premiando as prefeituras que melhor trabalharam com um certificado de responsabilidade. Esse engajamento com a educação, com a qualificação profissional e com a legislação proporcionou maior visibilidade à categoria contábil, conferindo a ela o destaque merecido."