Receita Contra Empresa Temporária
Empresas "temporárias", que fecham antes de completar o primeiro ano de vida, carentes de estrutura mínima, de organização, de conhecimento do mercado e de elementares condições operacionais para que o negócio se firme e possibilite atingir, no decorrer do tempo, os objetivos estabelecidos - eis o resultado direto e imediato do generalizado estímulo à abertura de novos negócios, sob o pretexto de viabilizar o surgimento de empreendedores e, também, reduzir o desemprego. E não basta ao candidato a empresário ser movido pela forte predisposição de "liberdade e independência" e de ser o "seu próprio patrão". Além de boa idéia, é imprescindível contar com certa experiência e conhecimento do mercado, algum dinheiro e um pouco de sorte, de acordo com a "receita" de sucesso - com base na própria experiência - transmitida, em depoimento exclusivo, por Gervásio A. Hirata, sócio-proprietário da Hypar Comércio de Parafusos Ltda. www.hypar.com.br , empresa criada em 1989, em Campinas, fundamentada em estudo de movimentação estratégica e de viabilidade técnica. "Tudo foi conseguido com trabalho árduo: a partir do nada, "fizemos" o ponto comercial, as carteiras de clientes e de fornecedores e durante os primeiros três anos praticamente só pagamos contas", diz, no relato transcrito a seguir.
DECISÃO RACIONAL
"Em 1989, havia muita rotatividade no emprego e o costume das empresas, até então, era, a cada cinco ou seis anos, promover reciclagem do pessoal, substituindo os funcionários de topo de carreira por iniciantes com salários bem menores. Eu trabalhava como desenhista projetista e, à noite, dava aulas de desenho técnico em colégios e passei por duas dessas fases de 'renovação' de pessoal. Para não ter de começar novamente do 'zero' e repetir o processo, vislumbrei apenas duas opções, isto é, ir trabalhar no Japão como 'dekassegui', acumular dinheiro durante três anos e depois retornar e estabelecer-me, ou, então, de início, montar uma empresa. Como pela primeira alternativa somente retornaria três anos mais tarde a um mercado que, certamente, também seria completamente diferente, decidi pela imediata abertura do negócio. Eu já tinha um local em estudo (onde está a nossa matriz), numa área de forte comércio e muito trânsito de pessoas, com iguais possibilidades para papelaria, lanchonete ou loja de parafusos. Escolhemos a última."
PASSO A PASSO NUM CAMINHO ÁRDUO
"Abrimos a loja quase sem possibilidade de adquirir mercadoria, praticamente com capital só para pagar as instalações. À medida das possibilidades, colocávamos o produto na prateleira e esperávamos que girasse... Éramos novatos no ramo, por isso não tínhamos nem clientela, nem cadastro junto aos fornecedores. Também não contratamos nenhum funcionário que contribuísse com sua carteira de clientes ou de fornecedores; durante três anos só colocávamos dinheiro e o faturamento era de R$ 200 ou R$ 300, portanto, sem condição de efetuar qualquer retirada... Nosso marketing resumia-se em mala direta às oficinas da região, distribuição de panfletos e colocação de placas em postes. Quando procurávamos o fornecedor, recebíamos invariavelmente como resposta a afirmativa de que nosso cadastro era novo e só deveríamos telefonar 'dentro de seis meses...'. O pior desconto dos vendedores era para nós, mesmo assim necessitávamos comprar para fazer cadastro de bom pagador. Por isso, orgulhamo-nos sempre de ter começado apenas com nossos próprios esforços, sem a ajuda de nenhuma empresa."
ATUALIZAÇÃO CONSTANTE
"Procuro estar atento a técnicas e tendências novas, mesmo que não as adote num primeiro momento, porque se deve verificar se o mercado aceita as novidades e se elas se firmam. Minha estratégia é só aplicar no negócio técnicas e inovações que já foram testadas e aprovadas por outros mercados. Não é possível 'tocar' um negócio e enfrentar o mercado sem dispor de informações. Durante visita a um fornecedor, pude conhecer a revista 'Sala do Empresário' e informar-me sobre interessantes depoimentos de empresários dos mais variados segmentos transmitindo experiências pessoais nos negócios. A publicação põe ao alcance dos empresários - entre os quais me incluo - valiosos subsídios para aprofundar conhecimentos estratégicos do mercado e, o que é mais importante, tentar prever tendências futuras do negócio."
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