O Arquiteto de Mercados
A dimensão continental do Brasil e sua diversidade sócio-econômica atraem a atenção do mundo inteiro. Mesmo com todo o potencial de desenvolvimento que se apresenta diante dos nossos olhos, ainda é preciso que profissionais vindos de outros países enxerguem as grandes oportunidades de mercado que o País tem a oferecer. Esse foi o caso de Ricardo Jorge C. Santos Neto, fundador do Grupo Brasil Rio - e-mail: [email protected] - Tel.: (11) 3234-7730. Há 28 anos, ele deixou Portugal em busca de novos horizontes profissionais em terras brasileiras e não se arrependeu da escolha que fez. Aqui chegando, com sua visão de arquiteto europeu especializado em projetos de modulação e de padronização para ambientes comerciais, ele logo percebeu o quanto havia por ser feito em termos de modernização dos pontos de venda. Seu primeiro e grande desafio foi abrir uma empresa e convencer os lojistas nacionais da possibilidade de tornar o negócio mais versátil e lucrativo pela reformulação visual, chegando a montar mais de mil lojas espalhadas pelo território nacional. Em depoimento exclusivo, ele fala da sua vocação para descobrir nichos mercadológicos e conta como surgiu a idéia de criar a Fispal, considerada hoje a segunda maior feira mundial da indústria de alimentos.
PORTA DE ENTRADA
"Como a minha grande vocação era tratar de mercados, percebi que o Brasil era um país fantástico e, ao mesmo tempo, tão maltratado na sua implementação industrial. Eu tinha que colaborar com mudanças e sabia que as feiras seriam uma grande porta de entrada e uma estratégia eficaz para que o Brasil pudesse entrar numa nova era, a exemplo do que tinha sido feito na Europa no pós-guerra. Era uma forma moderna de um imigrante ajudar um país a ser reconstruído. Antes de ser produtor de feiras, eu fui montador desses eventos e, como já tinha sistemas que funcionavam bem para a montagem de lojas padronizadas, seria capaz de montar feiras. Juntei as reservas que já tinha da empresa de montagem de lojas e comecei a produzir equipamentos para a montagem desses eventos. Consegui fazer parceria com todos os promotores de exposição do País e conheci os bastidores das feiras entrando pela porta dos fundos. Por isso, pude ver as falhas que o Brasil tinha em termos de produção comercial e, sobretudo, o Anhembi, com os seus erros graves de funcionalidade."
ENCONTRO
"A Fispal era um produto que tinha que ser feito, porque o Brasil é um país eminentemente de vocação agroalimentar. Pensei em fazer um trabalho novo que conseguisse agregar, com o passar do tempo, as pequenas e médias empresas para fazer uma grande feira de alimentos. Aí nasceu a Fispal em 1984, e eu verifiquei que eu teria que trabalhar não só o produto acabado mas também toda a cadeia integrada, porque os parques industriais brasileiros estavam completamente obsoletos. O evento cresceu e passou a ser o grande ponto de encontro do setor. Em 2003, nós tivemos quase 5 mil expositores e geramos acima de R$ 5 bilhões a curto e a médio prazos. As feiras têm a função de salvar o ano das empresas. Como o primeiro semestre normalmente é fraco, esses eventos promovem as iniciativas para as compras, as vendas e para a conquista de novos clientes."
EVOLUÇÃO
"Hoje estamos fazendo duas Fispais, não mais simultâneas, mas sim alternadas. Na primeira quinzena de junho, fazemos a de tecnologia e, na segunda, fazemos a de alimentos. O ano de 2004 será muito especial, porque fechamos uma parceria com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), que está fazendo 40 anos e elegeu a Fispal para mostrar aos 190 países em desenvolvimento que boa parte deles também possui vocação agroalimentar e como se pode fazer um grande projeto integrado nesse sentido. Estamos partindo também para iniciativas regionais, iniciando pelo Nordeste, com o objetivo de incentivar as pequenas e médias empresas para que elas saiam do regionalismo e venham para o nacionalismo. Para aquelas que já têm condições, precisamos prepará-las para exportar com inteligência e seriedade. Em 2005, já temos o projeto para lançar a Fispal Miami, que vamos chamar de Feira Internacional das Américas para alimentação."
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