Fim à Ditadura Econômica
Para quem acredita que o empresário brasileiro é uma espécie em extinção é bom saber que o setor produtivo está tornando-se atraente aos olhos do governo em razão do aumento do desemprego e do déficit assustador da balança de pagamentos, que já ultrapassou 4% do PIB. Esse foi o alerta de Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp/Ciesp - www.fiesp.org.br, durante o almoço-palestra realizado no dia 23 de março de 2000, em São Paulo, por iniciativa do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF/SP). Segundo ele, tão logo a economia volte a crescer, as oportunidades vão multiplicar-se para os empreendedores.
SEGUNDO PLANO
"A indústria brasileira ainda contempla de maneira um tanto atônita e desanimada o predomínio absoluto, especialmente em Brasília, do financeiro sobre o produtivo, do abstrato sobre o concreto. O Brasil nunca foi tão descuidado com a política industrial, sempre considerada de extrema importância pelas gerações anteriores a nossa, que lutaram contra os conservadores, que acreditavam em uma vocação meramente agrária para o País. Mesmo a opinião pública parece muitas vezes incapaz de alargar esse discurso, tendendo à banalidade. De alguma forma, conseguimos livrar-nos de uma ditadura política que consumiu boa parte das nossas forças, mas, por razões históricas, econômicas, políticas e até mesmo psicossociais, a partir do final da década de 80, os industriais nacionais vêm sendo ignorados pelos centros de poder. Tanto os setores de esquerda quanto os de direita passaram a não ouvir mais as justas reivindicações da indústria nacional, que acabou perdendo, no decorrer dos anos 90, a capacidade de se comunicar com a sociedade."
SINTONIA FINA
"Precisamos ter políticas específicas que possam estimular os empreendedores, especialmente os pequenos, espaço que ainda não existe no Brasil. No mundo inteiro, cada vez mais, a maior quantidade de empresários está nas pequenas empresas e a grande parte das atividades exportadoras vem dos empreendimentos de menor porte. Os jovens talentos e o capital internacional preferem o risco da pequena empresa e, no Brasil, ela é tratada como exceção. É preciso ajudar o pequeno e médio empresários a crescer, pois, afinal de contas, nós vivemos no capitalismo e, se ninguém criar empreendimentos de sucesso, porque parece que o lucro também se tornou palavrão por aqui, quem vai gerar riquezas neste país de dimensões continentais? O momento agora é de sintonia fina em termos de política industrial, o que significa descer da macro para a micro economias por meio de um grande feixe de ações setoriais, regionais e específicas, calcadas em estudos e em análises que respeitem o ambiente político e econômico que se instaurou com a democratização. Isso quer dizer que a liberdade de mercado tem que ser usada como instrumento de progresso e que o Estado não deve intervir mais com tanta arrogância e arbítrio nos negócios privados. Sua função é especializar-se em regulamentação e em vigilância. Nós já conseguimos livrar-nos da ditadura política, mas precisamos lutar agora contra a ditadura econômica."
SEM MARCHA A RÉ
"De nada adianta uma reação nacionalista emocional, na contramão da história, com pedidos de proteção indiscriminada e fechamento da economia em benefício do capitalismo doméstico. É claro que podemos discutir globalização, mas andar para trás é uma tolice. Existe uma concorrência em nível mundial, e é nesse contexto que devemos inserir as nossas empresas, em um ambiente que possa abrigar global players, em que as empresas nacionais também se tornem global players, mantendo aqui o centro de decisão sobre produtos com maior valor agregado. Trata-se de toda uma agenda para ser refletida em profundidade, com muita seriedade técnica, na intenção de capacitar as empresas brasileiras a serem mais competitivas interna e externamente. São necessárias políticas que criem estruturas legais e jurídicas para multiplicar as exportações e incentivar as cooperativas, as associações de crédito e, principalmente, os agrupamentos industriais, que se apresentam como uma saída arrojada e moderna para um país como o Brasil."
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