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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 19 (09/03/1988)

Não Existe Caça ao Executivo

As empresas procuram executivos em qualquer tempo, não só quando a economia está em expansão. Quando a crise aperta, um profissional de alto nível é o mais indicado para encontrar a melhor maneira de contornar os problemas e criar soluções. Nas duas situações, o que predomina são as normas técnicas para definir o perfil adequado. Mas, para fazer a seleção, não basta querer, é preciso ser do ramo.
É o caso de Preben Vils, vice-presidente da Boyden do Brasil, empresa fundada em 1968 e que é independente em relação à novaiorquina Boyden International, mas mantém com ela vínculos técnicos sobre normas operacionais na delicada tarefa de selecionar candidatos para grandes corporações. Nascido no Brasil de pais dinamarqueses, que perderam negócios familiares no país de origem durante a Segunda Guerra Mundial, ele emigrou para os Estados Unidos e lá enfrentou dificuldades.
Mas a dedicação e o estudo fizeram com que entrasse para o quadro docente da Academia Militar de West Point, onde lecionou português e iniciou sua carreira de seleção na área de recursos humanos, pois contribuía para a avaliação dos cadetes. Voltou ao Brasil, onde trabalhou em várias empresas, como IBM, Price Waterhouse e Câmara de Comércio Americana, sempre voltado para o recrutamento de executivos.
No depoimento a seguir, ele explica como funciona esse trabalho e quais os critérios adotados para encontrar o executivo ideal.

UM LONGO APRENDIZADO
"Às vezes, quem está próximo demais não tem a perspectiva ideal para julgar o conjunto, mas eu diria que nesse - como em tantas outras circunstâncias de avaliação profissional - o selecionador tem de ser alguém do ramo. Senão seria impossível cumprir o papel que nossos clientes esperam de nós. Com as exceções de praxe, isso vale para qualquer outra função. Creio que essa capacidade de avaliação, que não é nenhum dom pessoal, mas produto de um longo aprendizado, se explica por minha própria experiência.
West Point significou uma reviravolta na minha vida. Trabalhava de manhã, deslocava-me por 85 quilômetros e fazia um bacharelado de ciências em francês e mestrado em italiano na Universidade de Columbia, sucessivamente. Para obter meu primeiro diploma, aproveitei seis meses de férias para ir à Europa e conseguir créditos em oito universidades, o que mais tarde foi aceito por Columbia, apressando a formatura. Fui o único professor do Departamento de Línguas Estrangeiras em tempo integral, e entre os cadetes que avaliei sob o ponto de vista humano e militar figuram dois generais.
Depois de onze anos nessa rotina, voltei ao Brasil, trabalhando em várias atividades dirigidas ao recrutamento. Foi também uma volta às origens, aos hábitos culturais, ao convívio que desenvolvi desde criança com comunidades anglo-saxônicas. São experiências que ajudam na hora de selecionar qualquer coisa, e não apenas executivos."

ROTEIRO DE SELEÇÃO -
"Nosso papel é estritamente profissional, porque hoje a oferta é múltipla e a clientela precisa ter segurança de que escolheu o melhor. A Boyden do Brasil - onde estou há nove anos - é uma empresa pioneira do setor que há 41 anos presta esse tipo de serviço em várias parte do mundo. É preciso que não sejamos confundidos com uma agência de empregos, porque, enquanto esta trabalha para o candidato, nós trabalhamos para a empresa.
Quando o cliente nos procura, fazemos uma reunião, obtemos todos os dados necessários, como função, responsabilidades, atribuições e perfil do candidato. Procuramos no nosso banco de dados e fazemos, também, uma busca acurada em relação a trabalhos recentes que são mais ou menos congêneres, porque há candidatos que já conhecemos e podem ser aproveitados. Se não conseguimos identificá-lo através desse procedimento padrão, começamos a contatar firmas que trabalhem no mesmo ramo. Muitas vezes, executivos colocados por nós fazem indicações.
Com o candidato identificado e verificado se ele tem as condições mínimas exigidas, convido-o a uma entrevista. Faço uma análise objetiva, verificando se o candidato tem uma carreira profissional em ascensão. Envio um relatório ao cliente, e posteriormente é marcado um encontro em território neutro."

O PERFIL IDEAL
"Um currículo profissional não precisa ter mais do que duas páginas. Nosso credo é o do cliente, mas o que nos pedem normalmente é um indivíduo que não tenha mais do que 45 anos, formado em universidade de primeira classe no Brasil - ou seja, USP, Mauá, FGV, Mackenzie e algumas federais. Além da competência técnica, grande senso de responsabilidade, compromisso em relação a ele mesmo e à empresa no sentido de avaliar continuamente a consecução de metas, ser um indivíduo voltado para resultados, dinâmico, com excelente interação com as pessoas abaixo, paralelas ou acima dele.
Deve ser, enfim, alguém que sabe ver a floresta apesar das árvores, traduzir em números pequenos o que isso significa para a empresa, interpretá-los. Deve ser também uma combinação de fatores e preferencialmente ter percorrido vários setores de uma empresa, tendo, assim, uma visão de conjunto. Fazemos testes psicotécnicos, mas temos de partir de referenciais. A competência aliada à estabilidade pessoal, psicológica e familiar é essencial. Não encaramos os parâmetros que nos são exigidos como preconceitos, mas como normas que se justificaram na prática.
As multinacionais, ao contrário do que se pensa, pedem crescentemente técnicos brasileiros, considerados bem treinados e bem formados. Cada vez mais eles substituem os executivos estrangeiros da mesma origem da empresa. Hoje, o Brasil não é mais para os estrangeiros o Eldorado dos anos 70, pois, com a economia em crise, é arriscado vir e não dar certo. Todos querem cercar-se de garantias."


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