Investir Sempre é Garantir Sobrevivência
A presença das multinacionais no Brasil depende sempre de investimentos maciços e contínuos, que só geram lucros e empregos se houver eficiência administrativa. É disso que grandes corporações como a Ciba-Geigy precisam para continuar atuando no nosso mercado. O diretor-presidente da empresa no Brasil, o suíço Norbert Gmuer, argumenta que a estratégia desenvolvida aqui é para continuar produzindo e equilibrar as importações da empresa com o que ela exporta. Mas isso não é tão simples como possa parecer.
Especialidades químicas e diversificação de produtos são os dois vetores fundamentais da atuação da Ciba-Geigy, que desenvolve quatro tipos de atividade, completamente diferentes um dos outros: corantes, produtos farmacêuticos, agroquímica e plásticos e aditivos.
A seguir, Norbert Gmuer, formado em direito na Universidade de Berna, na Suíça, e que fez carreira dentro da empresa, fala sobre as dificuldades e as perspectivas do seu trabalho.
ABASTECEMOS PAÍSES LATINOS
"O segmento em que nossa presença é mais marcante é o da agroindústria, responsável por 35% das nossas vendas no ano passado. Estamos bem situados também no setor de corantes, sendo, talvez, o número dois na área. A mesma coisa ocorre no setor farmacêutico, pois somos a terceira ou a quarta empresa do mercado. E, com nossas especialidades em matérias plásticas, ocupamos também forte posição. Esse somatório é a nossa força.
Dependemos em grande escala das importações, por isso temos que fazer um grande esforço de exportações. Como somos uma empresa de especialidades químicas, ainda é muito difícil montar essas operações aqui. Falta escala. Temos duas unidades em Camaçari, uma para aditivos - onde já alcançamos economia de escala interessante - e outra para herbicidas - as triasinas -, que já atende bem o mercado interno. Em Resende, operamos juntos com a Sandoz, em uma 'joint venture' onde se fabricam substâncias farmacêuticas para o mercado interno e para abastecer Argentina, México, Espanha e Portugal com alguns produtos.
Trata-se de uma operação para criar exportações. Nesse esforço, o grupo resolveu delegar o abastecimento do mundo latino para o Brasil. As nossas importações praticamente empatam com as exportações. Aí está nosso grande problema. De um lado, as divisas são escassas. E das importações ainda depende a sobrevivência da empresa. Pensamos em exportar mais para equilibrar nosso balanço comercial. Já no início da década de 80, pensamos em fazer investimentos pequenos para ajudar nossas exportações. Hoje, sabemos que não são suficientes."
REMESSA DE LUCROS?
A nossa meta é chegar a uma proporção ideal entre importação e exportação, talvez uma relação de dois para um - importar 100 e exportar 50. No ano passado, alcançamos 30. Mas temos que dobrar essa relação. É engano pensar que essa é uma estratégia para manter a possibilidade de transferir dinheiro. Nosso constrangimento é não podermos produzir aqui. E não conseguimos isso porque não encontramos matéria-prima.
No momento, negociamos com outra empresa do setor químico para que fabrique um produto que nos permita verticalizar a produção. Mas o custo dele seria o dobro do produto que hoje é importado. É claro que queremos fabricar o que pudermos aqui, só que vamos admitir que a pesquisa é feita na Suíça e precisa ser paga. Então, sempre tem que ser mantido um fluxo de mercadorias entre o centro - onde se pesquisa - e a nossa produção. Pesquisa e produção estão interligadas. Esse é um fluxo comercial normal, tem um preço composto de vários elementos. É preciso considerar, ainda, que é um negócio entre matriz e filial com uma margem de lucro. Não se pode comparar sequer a uma remessa de lucros.
Tudo o que for possível não comprar da matriz compramos fora, estamos livres para isso. Mas, naturalmente, temos muitas especialidades que vendemos sob nossa marca, em que a especificação só existe na casa matriz ou em empresas do grupo. Compramos especialidades desenvolvidas e protegidas pela empresa e temos que respeitar essas restrições."
O BRASIL É UMA ILHA
"Na área de recursos humanos, achamos que todo executivo deve sair de dentro da empresa. Raramente é contratado alguém de fora para um cargo de responsabilidade. E temos interesse em que os nossos colaboradores fiquem o maior tempo possível conosco. O novo presidente do grupo mundial é um homem que começou como eu, que, depois dos seus estudos, fez carreira dentro do grupo. Há um requisito indispensável para se chegar à cúpula: é preciso ter trabalhado no exterior e ter passado também pela matriz, por um certo tempo, para ser conhecido e seu trabalho julgado.
A empresa opera em cem países, e a indicação para os altos cargos está baseada na confiança. No Brasil, temos nove cargos, e o meu objetivo é ocupar a maior parte deles com brasileiros. A grande dificuldade no Brasil de hoje é que o brasileiro é muito ligado ao seu país, à sua esposa, e sente dificuldades de se desligar, embora temporariamente, da sua família. É um drama enfrentado por nós aqui. Para nós, suíços, europeus, emigrar é inerente aos nossos países, é quase uma tradição. Julgo o Brasil uma ilha, uma ilha lingüística, de pensamento - sem contexto negativo. A fronteira do Oeste é intransitável, na do Leste existe o mar. Isso acaba criando um espírito isolado."
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