A Suave Arte Marcial do Mercado
Valther Hermann entrou em cinco faculdades e saiu de todas. Mas, enquanto tentava sucessivamente cursar engenharia, geologia, física, matemática e filosofia, jogava tênis. Foi na quadra, onde ele passou a maior parte do tempo, que acabou curando sua timidez, estabelecendo relações humanas duradouras e, no fim, desenvolvendo seu tino empresarial.
Já que não teve paciência para ser um profissional de canudo na mão, ele criou um empreendimento que é a sua cara: a Hermann's Light Tennis, que arrenda quadras de terceiros para introduzir seus clientes - especialmente empresários e executivos enrolados com a falta de tempo e o excesso de stress - num método de sua autoria, que mistura ginástica, terapia e esporte.
Para isso, teve que lutar contra preconceitos dos adeptos do tênis tradicional - baseado mais na força e na competitividade e sem nenhuma preocupação filosófica. Mas Hermann garante que está participando com seu público - que ele chama de "geração do terceiro milênio" - de uma experiência inédita que proporciona relaxamento, agilidade e autoconhecimento. Nessa atividade, que batizou de "tênis light", conta com a ajuda da esposa e de quatro professores, prospectando clientes junto às empresas preocupadas com o bem-estar dos seus profissionais.
Além disso, já abriu mais uma empresa de apoio, a HLT Pro Shopp, que vende artigos esportivos para tênis e squash. Neste depoimento exclusivo, Walther Hermann conta como seu cansaço com as faculdades empurrou sua curiosidade para uma formação autodidata, que operou o milagre de unir as técnicas centenárias da arte marcial chinesa Tai-Chi-Chuan com a ginástica terapêutica do tênis light em pleno ambiente estressante da capital paulista.
EXISTEM POUCOS TRABALHOS VOLTADOS PARA OS EXECUTIVOS
"Sempre gostei de ciência, mas não tinha paciência para seguir o ritmo da escola. Infelizmente, fiquei oito anos vinculado às faculdades por puro preconceito familiar. Há alguns anos, para garantir um salário acima de US$ 2 mil bastava um diploma de engenharia, medicina etc. Hoje, já não é bem assim. Quem antes me dava conselhos sobre como tirar o canudo está aposentado e tendo que trabalhar para sobreviver.
Entrei nessa área com uma visão empresarial para atender um público totalmente inexplorado. O que existe normalmente são professores de tênis, que foram pegadores de bolas ou ex-jogadores sem noção das necessidades e limitações dos executivos. Na maioria das vezes, nosso cliente não quer competir numa quadra, valorizando muito mais o relacionamento social, o sol que ele vai tomar, o quanto vai correr, o esporte que vai praticar. O tênis, então, não é um objetivo em si, é um instrumento de lazer.
Foi pensando nesse público que resolvi ser uma empresa de tênis que investe em outros setores. Já tivemos aqui estagiários de educação física, comprei alguns aparelhos de ginástica e meu critério é investir e buscar material didático fora, como fitas de vídeo, para aprimorar o trabalho. A idéia é mexer na sensibilidade e na percepção do executivo, treinar a cabeça, a vontade e a garra dele."
EDUCAR É PERMITIR QUE O OUTRO APRENDA
"O light tênis é um subproduto da cultura oriental. O que a gente conhece aqui, no Brasil, de Tai-Chi-Chuan é que é uma ginástica, um relaxamento, com movimentos lentos. Mas é muito mais, pois isso é apenas a introdução à arte marcial do mesmo nome, que percorre um caminho contrário ao karatê e ao judô. Estes começam com muita rapidez e terminam num clima de tranqüilidade, quando o guerreiro se recolhe.
O Tai-Chi começa lentamente, treinando concentração e sensibilização, até chegar à agilidade extrema. Trata-se de uma arte marcial muito eficiente, que é recente, tem apenas 300 anos de idade e, por isso, acabou pegando tudo o que existe de bom das outras modalidades.
Resolvi, então, ensinar conceitos de uma forma suave para a pessoa aprender o processo, treinando a sensibilização. Transformei o tênis num instrumento para ensinar Tai-Chi. Esse treinamento pode ser usado no dia-a-dia pelo executivo, se ele entender alguns processos corporais, da estrutura do aprendizado. Mas ele não precisa chegar na fase de alta agilidade, basta jogar um tênis com mais inteligência, sem tanto esforço.
Hoje, o que está na moda é o tênis-força, mas minha idéia é resgatar o tênis-arte. Com o Tai-Chi, adotamos uma prática extremamente pedagógica, em que para tudo o que precisa ser aprendido é criado um processo para aprender. O enfoque é o seguinte: ninguém ensina ninguém, o educador é aquele que permite que o outro aprenda, desenvolvendo estruturas de exercícios educativos que conduzam a pessoa a perceber uma determinada habilidade."
NINGUÉM VEM AQUI PARA MALHAR
"Nossos clientes jogam tênis e aprendem numerosos exercícios de percepção. É como aprender a escrever. A pessoa vai sendo conduzida, e cada um faz de maneira diferente. Tive um mestre chinês, que é menos formal do que o japonês, vai mais na essência do aprendizado. O público que gosta do meu trabalho nem pensa em vir aqui para malhar, pois o que eu vendo é uma filosofia da prática desportiva.
Muita gente joga tênis com um braço só, mas eu tento ensinar as pessoas a usar o corpo todo. Cada arremesso da bola exige esforço da musculatura das pernas, do abdômen, das costas, todos coordenados, para que nenhuma parte seja sobrecarregada. O resultado é que já tive alunas que tiveram regressão de tendinite, graças a exercícios de reeducação de postura.
Todo o gesto é um comportamento aprendido e, se a pessoa aprendeu a usar a musculatura de maneira forçada, vai ter que encontrar outro caminho para evitar a dor, jogando fora seus hábitos antigos. Por isso, também acho que é uma forma de terapia que desenvolvemos aqui, pois é um trabalho de conscientização corporal. As pessoas acabam saindo mais relaxadas e menos cansadas. Posso dizer que é uma terapia anti-stress."
ESTA EMPRESA É UM TRABALHO DE CRIAÇÃO
"As pessoas que nos vêm procurar acham o tênis violento e buscam alternativas. É gente que tem um padrão cultural elevado, mais 'soft' na maneira de ser e muito exigente. Procuro, então, aprimorar cada vez mais o meu trabalho. Depois que desenvolvi o método, encontrei justificativas científicas para ele nos livros 'A consciência pelo movimento', de Moshe Feldenkrais, e 'Futebol, ano dois mil e um', do Gaiarsa, um psiquiatra brasileiro de vanguarda que propõe numerosas práticas alternativas para desenvolver a percepção do jogador.
Atualmente, estou lendo livros de programação neurolingüística, que é uma arma muito poderosa de comunicação, que deve facilitar, assim, o meu trabalho. Tenho, então, fundamentação nas ciências terapêuticas e corporais. Não conheço outra empresa similar, apesar de existirem academias de tênis fundadas principalmente por estrelas brasileiras desse esporte. Não sou proprietário de academia, mas de uma empresa prestadora de serviços e, como atinjo um público de lazer, vendo meu método como o Playcenter vende seus pacotes."
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