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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 57 (09/05/1993)

Três Pedidos Para Salvar o Dia

Aquele vendedor não estava numa fase favorável. Não conseguia vender nada, nem para seus clientes mais antigos e fiéis. Mas ainda restava a última esperança: a sala de espera de um grande comprador. A secretária, porém, foi logo avisando:
- O chefe mandou dizer que não quer nada hoje.
- Como não? Diga que preciso ser recebido de qualquer jeito.
Foi atendido, mas também não conseguiu nenhuma encomenda.
Desesperado, ele saiu para a rua, praticamente chutando pedra, pensando no que iria dizer para seu patrão e como fechar seu próprio faturamento naquele mês. Foi quando, num chute a esmo, uma garrafa voou, quebrou e de dentro saiu um Gênio, todo envolto em fumaça colorida:
- O senhor agora é meu dono, disse o Gênio. Tem direito a três pedidos.
- Espere um pouco, gritou o vendedor, entusiasmado. Deixa eu pegar meu talão para preencher os dados.
Antonio Emanuel do Vale Leitão e Anselmo Soares, dois dos quatro sócios da Indústria de Cosméticos Naturais Calantari Ltda., gostam de contar essa piada para explicar o perfil da empresa, situada no município paulista de Diadema. "Somos essencialmente vendedores", diz Anselmo. "É por isso que nossos produtos são encontrados desde a pequena farmácia até o grande supermercado."
Não foi fácil para eles conseguirem conquistar clientes num setor dominado pelos grandes fabricantes. Foi preciso colocar na roda a experiência adquirida em bem-sucedidas carreiras na Gillette, onde aprenderam a ter e a exigir desempenho de multinacional. Neste depoimento exclusivo, os nordestinos Anselmo e Emanuel explicam como conseguiram coragem para pedir demissão, montar um negócio de representação e, a partir do capital levantado, investir na Calantari. Tudo isso sem ajuda de nenhum Gênio.

COMO DESMONTAR UMA FUNDAÇÃO

"Hoje somos especializados em desodorantes do tipo spray e creme, colônias, perfumes e lavandas e nos apresentamos no mercado principalmente através da marca Aromatíssimo. Mas nem sempre foi assim. Tivemos que definir nossa linha de atuação logo que assumimos a empresa, em 1989, quatro anos depois da sua fundação. Existiam sete sócios, todos com outras atividades, e ninguém com disposição de dedicar-se a ela em tempo integral.
Parecia até uma fundação, com os envolvidos trabalhando apenas à noite ou nos feriados e fins de semana. Eram profissionais que queriam ser empresários, mas não tinham o sangue dos empreendedores. Isso não nos servia. Era muito cacique para nenhum índio e, o que é pior, cacique sem vontade de assumir o comando. Resolvemos, então, colocar as cartas na mesa: quem estava disposto a trabalhar na firma ficava, senão caía fora. Ou, então, nem nos interessava entrar no negócio.
Depois de resolver o problema societário, tivemos que irrigar um pouco a empresa, pagar alguns débitos e torná-la apta para começar a deslanchar. E, finalmente, partimos para o desenvolvimento de novos produtos - hoje, temos quatro linhas de atuação - com novas embalagens e uma política agressiva de vendas. Produzimos 160 mil unidades por mês, com a colaboração de 24 funcionários."

VENDEDOR TEM VOCAÇÃO DE ARTISTA

"Nossa publicidade é o vendedor quem faz, no 'front' do mercado, no próprio ponto-de-venda. Ninguém vira vendedor, o sujeito nasce com a vocação. Ele é um verdadeiro ator, precisa transformar-se em cada ato da sua visita, pois existe um palco diferente em cada situação. Tem cliente que gosta de falar sobre esporte, outro sobre política, então, o profissional precisa participar, estar atualizado sobre tudo, entrar na conversa para poder tirar o pedido.
Conseguimos implantar-nos no mercado graças às novas tendências. A abertura do mercado para os produtos internacionais de perfumaria abriu ainda mais os olhos dos consumidores brasileiros para grandes variedades de essências existentes. O problema é que o preço desses produtos normalmente são proibitivos, por isso criamos alternativas mais baratas para atender essa demanda, que foi ampliada com a importação. A qualidade, é claro, não é idêntica, mas oferecemos produtos honestos a preços dez vezes mais baixos do que os similares estrangeiros.
Descobrimos, também, que existia a oportunidade para produtos populares, principalmente no mercado consumidor do Norte e Nordeste, onde o clima favorece o consumo de cosméticos. Lançamos uma linha com uma variedade de quatro fragrâncias refrescantes. São perfumes tropicais que estão tendo grande aceitação lá e agora começam a ser vendidos também por aqui, na região Sudeste."

O EMPRESÁRIO BRASILEIRO QUER MUITA MORDOMIA -
"Antes da crise, quem abria uma empresa no Brasil já queria estar, no dia seguinte, de posse de um carro zero quilômetro, um apartamento à beira-mar, uma fazenda em Mato Grosso e uma lancha de luxo na represa. Hoje, ainda existe esse tipo de mentalidade, mas os déficits, os problemas de caixa não permitem mais sonhos mirabolantes.
Felizmente, nossa formação foi numa multinacional, onde os dirigentes pensam de outra maneira. Eles prevêem um crescimento gradativo, um acompanhamento rígido dos funcionários e um treinamento constante para que eles possam estar atualizados e oferecer serviços diferenciados. Eles investem tanto que nem compensa mais demitir as pessoas. Conosco aconteceu o mesmo.
Anselmo, por exemplo, chegou a ser gerente de vendas, mas não estava satisfeito, pois seria reconhecido sempre pelo nome da empresa e não pelo seu próprio nome. Resolvemos, então, partir para uma firma de representação, onde conseguimos abrir caminho para vários tipos de produto. Só que cansamos de ser recompensados com uma dispensa, pois as empresas beneficiadas pelo nosso trabalho resolviam montar sua própria equipe de vendas, o que saía bem mais em conta para eles. Precisávamos de produtos próprios, de uma empresa nossa."

O NORDESTE TEM PIQUE EMPREENDEDOR
"Graças a essa mentalidade aberta, adquirida numa multinacional, pudemos amoldar o pessoal interno a uma filosofia de atuação mais dinâmica e conseqüente. Temos, inclusive, acompanhamento de um consultor do SEBRAE/SP, que vem aqui e passa tarefa para todos e depois cobra resultados, o que tem sido muito bom para modificar hábitos e aumentar a produtividade. Esse trabalho de conscientização tem sido altamente positivo, pois damos provas de que, aqui, todos podem crescer junto com a empresa.
Vimos como funciona o preconceito no nosso trabalho anterior. Muitas vezes, apesar de existir no Nordeste gente qualificada para promoções, esses cargos eram preenchidos normalmente por pessoas que estavam em São Paulo ou no Rio, mais próximas da diretoria. Quando alguém é transferido para o Nordeste, costuma ficar desesperado, esquecendo que temos grandes centros urbanos e numerosos exemplos de empresas bem-sucedidas.
Hoje, temos também uma firma no Recife, só que não é mais de representação, e sim de distribuição. A vantagem de ser pequeno é que não dependemos da opinião da matriz no exterior, decidimos na hora, no momento certo, o que nos dá muita agilidade."


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