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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 43 (28/01/1993)

A Fábula da Consultoria Contábil

Era uma vez o guarda-livros, que virou contador e, um dia, resolveu trabalhar por conta própria. Saiu de uma empresa para montar, primeiro, um pequeno escritório, tipo sala-mesa-telefone, onde atendia alguns poucos clientes. Com o tempo, seu trabalho foi sofisticando-se. Deixou de ser apenas o especialista em números, o profissional dos ritos mecânicos e intrincados, o contabilista excessivamente voltado para departamentos estanques de um empreendimento.
Tornou-se um consultor, que, graças aos seus conhecimentos, participa da gestão empresarial, com informações e conselhos. E transformou-se num empresário de múltiplas atividades, que, através da consultoria e da informática, pode influir nos processos de terceirização, por exemplo. Ele conseguiu impor-se no mercado, comportando-se como um empreendedor criativo, detectando nichos, oferecendo serviços de qualidade total e ampliando seu espaço para níveis nunca imaginados pelo antigo guarda-livros.
É por isso que Irineu Thomé, presidente do SESCON-SP, gestão 1990/1993 www.sescon.org.br , não aconselha hoje nenhum contador de empresa a tentar sozinho a sorte nesse mercado. É preciso que já tenha, antes, passado por um moderno escritório de contabilidade, onde, na opinião de Irineu, é possível aprender os segredos de um segmento que, no Brasil, se tornou um dos mais avançados do mundo.
Em um depoimento exclusivo, ele traça a rota desse trabalho indispensável para o funcionamento de qualquer atividade produtiva. E sai em defesa dos empresários, que sofrem com o apetite fiscal do governo, um sócio compulsório parecido com o lobo mau da velha fábula.

NÓS CRESCEMOS JUNTO COM O CLIENTE
"A relação profissional do empresário com seu contador, seja ele um empregado ou dono de uma firma de contabilidade, é baseada na confiança. A clientela cresce por indicação, ninguém vai para o primeiro escritório contábil que aparece. O cliente é, portanto, um patrimônio e, se ele cresce, minha tendência é acompanhá-lo.
Comecei com minha empresa em 1962, depois que notei estar atendendo numerosos negócios pelo mesmo salário. Hoje, temos 140 clientes, o que nos caracteriza como um escritório de porte médio. Existem no Estado de São Paulo, inclusive no interior, escritórios grandes, com mais de duzentos funcionários atendendo oitocentos clientes ou mais. Isso não existe nos outros países da América Latina e mesmo em muitos países do Primeiro Mundo, como Canadá, por exemplo.
Evoluímos em função do serviço que é prestado aos empresários, que sai mais barato do que empregar um profissional. Para atender uma pequena empresa, um escritório de contabilidade cobra honorários que se situam na faixa que vai de um a dois salários mínimos. É um custo pequeno para um serviço garantido, pois, enquanto o funcionário pode adoecer ou entrar em férias, uma empresa contábil estará sempre presente. Existe também a capacidade profissional, já que estamos constantemente nos atualizando para prestar um serviço de qualidade. Além disso, responsabilizamo-nos pelos eventuais erros cometidos por nossos funcionários, arcando com as multas."

O EMPRESÁRIO CONSULTA-NOS ANTES DE ALGUMAS DECISÕES -
"Numa empresa como a nossa, contabilidade é um dos produtos que oferecemos. Outro é consultoria. Tudo o que é possível imaginar o cliente pergunta-nos. Costumo dizer que, se o empresário, um dia, resolver separar-se da mulher, ele fala primeiro com seu contador sobre os efeitos da separação nos seus negócios, depois vai cuidar do aspecto jurídico.
Funcionamos como uma espécie de clínico-geral, que encaminha o cliente para outros profissionais, se o assunto for advocacia ou engenharia, por exemplo. Existem escritórios que atendem um só tipo de negócio, como redes de loja, escolas ou padarias. E, graças à tecnologia, ao computador e ao fax, dá para atender clientes em todo o Brasil."

TEM MUITA GENTE QUE É OBRIGADA A SONEGAR
"Existem dois tipos de sonegador. O primeiro é o contumaz, aquele que tem condições de pagar e não paga, o picareta, o emissor de notas frias que monta empresa só para dar golpe na praça. Esse não nos interessa, pois não compactuamos com a falcatrua, e o nosso negócio é manter uma estrutura de atendimento permanente. O segundo é aquele cuja carga tributária excede a sua capacidade de contribuir e é empurrado para a sonegação ou para o mercado informal.
A sonegação não é um produto da empresa de contabilidade nem do empresário, é um produto do governo. Existe um limite, uma capacidade contributiva que é superada pelos três grandes conjuntos de impostos existentes no Brasil - um sobre circulação de mercadorias, outro sobre mão-de-obra e o terceiro sobre a renda. Uma empresa grande calcula tudo isso e repassa para os preços, e é por isso que tudo aqui custa caro.
Mas, numa empresa pequena, como pode o empresário passar o ano todo trabalhando e no final ser taxado em 50% do lucro? O pequeno e o médio empresários não podem repassar toda a carga tributária para o preço final. O mercado não aceita. Só lhes resta, então, para sobreviver, a sonegação ou o mercado informal."

O BRASILEIRO PREFERE PAGAR IMPOSTOS A SONEGAR -
"O brasileiro prefere pagar imposto a sonegar. O que não suporta é ver como eles são aplicados. Pagar traz-lhe tranqüilidade, pois existe uma grande preocupação com a fiscalização. Se pudesse pagar, a grande maioria pagaria, não sonegaria, mas o problema está na falta de capacidade do contribuinte de enfrentar as taxas altíssimas a que é submetido.
Acompanhei diversas tentativas de pequenas empresas de saírem da economia informal e estabelecerem-se regularmente. Depois de superar as exigências burocráticas de instalação e não conseguir repassar para os preços os tributos e os custos da atividade legalizada, voltaram, frustradas, para a economia informal ou desistiram da atividade."

EM BRASÍLIA, SOMOS CONHECIDOS COMO O SINDICATO CHATO
"É preciso fazer uma reforma geral, mas os homens do poder mudam, e o pensamento continua o mesmo. A nova lei do Imposto de Renda teve uma tramitação recorde de nove dias. Isso não acontece nas verdadeiras democracias. O apetite arrecadatório do governo é insaciável. Para todos os problemas, a solução oficial é sempre a mesma: aumentar os impostos. Questões fundamentais, como a redução de gastos públicos, a redução do tamanho do Estado, por exemplo, sequer são cogitadas como solução para muitos problemas.
No aspecto tributário, estamos cansados de colocar-nos à disposição para ajudar a modificar esse quadro. Nosso sindicato já conseguiu resultados positivos, pois começamos a gritar. Resolvemos ser chatos, e é assim que somos chamados em alguns gabinetes em Brasília.
A inflação e a recessão estão criando bolsões de pobreza e miséria. Reflexo disso é a violência crescente nas grandes cidades. Já ouvi opiniões de que estamos caminhando para algo parecido com a situação dos franceses nos primórdios da revolução, só falta mandarem o povo comer brioche, na falta de pão".


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