Importação: O Caminho das Pedras
Comprar produtos importados é fácil. O difícil é saber como importar, gastando o menos possível e conseguindo artigos com o máximo de qualidade. Não basta ir a uma loja especializada - pode sair caro demais - ou depender do velho hábito do contrabandista. Com a abertura do País para o exterior, o brasileiro já não depende de expedientes ilegais, nem de viagens obrigatórias para Miami. A única coisa que ele precisa é de informação.
E, é claro, de ética. Esses são os dois trunfos de Wellington Soares Campanha, diretor da Market & Co., uma empresa de São Paulo que funciona como suporte indispensável para o complicado processo de importação direta da fonte. "Conheço os meios legais sem tentar obter os lucros das lojas e sem correr o risco dos contrabandistas", define-se Wellington, que, aos 28 anos, oferece, principalmente, para microempresas e pessoas físicas um serviço de despachante aduaneiro diferenciado.
Trata-se de uma consultoria especializada que pesquisa preços dos artigos e dos fretes e cuida de toda a burocracia. Ele não compra nem vende nada, apenas abre caminho para que o negócio seja efetuado com a total satisfação das partes interessadas. O que é essencial no trabalho de Wellington é sua absoluta transparência, pois ele acredita na vantagem comercial da ética. Para ele, a melhor propaganda é a de boca a boca, um marketing que está aos poucos transformando seu trabalho numa lucrativa bola de neve.
Neste depoimento, ele, literalmente, mostra o caminho das pedras para importar desde utilidades domésticas - um mercado pouco explorado pelos brasileiros, em sua opinião -, até sofisticados tacos de golf ou específicos produtos químicos para a indústria. E também comenta o grande potencial varejista desse tipo de produto em lugares como o interior de São Paulo.
MINHA MATÉRIA-PRIMA É A INFORMAÇÃO
"Costumo acessar bancos de dados que estão à disposição de todo mundo, mas que ainda não foram totalmente descobertos. Um dos meus maiores contatos é a Câmara de Comércio do Estado da Flórida, que oferece gratuitamente uma relação de lojas e uma lista de preços. Você fica sabendo, através deles, onde comprar, como pagar e, se for o caso de viajar para lá, informam as hospedagens com respectivos preços.
Tenho acesso à lista telefônica de Miami, com a relação das empresas. Escolho entre dez e quinze e, via fax, faço uma comparação. O custo desse tipo de comunicação fica bem em conta, pois eu pago preços da AT&T dos Estados Unidos, e não da Telesp. Ele fica 40% mais barato, e o direito de uso custa só US$ 100 ao ano.
Como já trabalhei numa empresa de produções esportivas, posso usar a biblioteca deles, que recebe todas as revistas de esporte do mundo, com todas as informações sobre artigos e lojas, que eu repasso ao cliente - já vendi muitos tacos de golf para clubes e pessoas físicas e também raquetes de tênis, armas de paint-ball e material de mergulho de primeira linha. E também utilizo o cadastro da antiga Cacex, que indica quem fabrica e quem pode trazer qualquer produto para cá."
A INFORMATIZAÇÃO AINDA NÃO RESOLVEU OS PROBLEMAS - "Quando trabalhei como funcionário de um agente aduaneiro, pequenas empresas e pessoas físicas faziam consultas para importar, pois, na época, era um processo muito difícil. Mas a empresa deixava isso para lá, argumentando que o serviço é tão pequeno que não compensa. Eu achava que esse mercado, sendo melhor atendido, poderia proporcionar boas chances de faturamento. Os clientes tinham esse direito, para não precisar correr atrás de contrabandistas. Os trâmites no exterior são muito mais desburocratizados, mas a maioria desconhece isso. Lá fora, a aduana é do governo, mas a parte documental é toda privatizada. Assim, conseguimos um documento de exportação ou importação em duas horas, enquanto, aqui, a gente precisa de uns dois ou três dias. Estão anunciando a informatização dos processos de importação para junho, mas o Syscomex, para exportação, está funcionando desde janeiro, mas eu prefiro usar o método tradicional.
Existem uns terminais no aeroporto de Cumbica, na área da Infraero, mas é um pouco cansativo, pois gastam-se quatro dias tirando documentos que autorizam a utilização do sistema. Claro que ele facilita, pois, antes, era preciso 36 vias de documentos, agora é só uma. Além disso, existe um número de registro, que torna a coisa mais lógica. Mas falta um bom programa operacional, pois cai a linha a toda hora. E empresário não pode perder tempo."
O MERCADO EXTERNO ESTÁ CHEIO DE OFERTAS
"A grande arma no comércio não está em vender, mas em comprar. Quem compra bem, vende bem. O importante é ter uma visão clara do mercado. Hoje, existe essa tendência de empresas de prestação de serviços de importação pelo correio, o que está gerando várias franquias. Eles têm muito capital e trabalham com curiosidades, procurando atingir, principalmente, o pessoal do interior do estado.
Só que os comerciantes que utilizam a franquia não têm acesso à parte documental e desconhecem o preço original. O mercado lá fora está cheio de grandes ofertas, e, sabendo procurar, a gente pode achar artigos mais baratos. Existem empresários que possuem franquias, mas abrem outra loja em nome da esposa, consultam-me e vão levando as duas até decidir qual é a mais vantajosa.
Eles ficam cutucando o mercado para ver onde dá mais, justamente para ver se cortam o cordão umbilical com o franqueador, que monopoliza o processo, oferecendo uma lista fixa de preços. As lojas cobram US$ 25 de frete para cada mercadoria, mas o frete mínimo até 10 quilos de Miami para São Paulo, por exemplo, é de US$ 50. Dentro dessa faixa, dá para colocar muita coisa. Se você comprar deles uma caneta esferográfica, você paga US$ 25, um fax mais US$ 25, e assim por diante.
Eu consigo colocar uma série de coisas no nome do usuário, e ele não fica pagando o intermediário. Eu cobro pela prestação do serviço. Uma pesquisa de mercado, por exemplo, fica em 25 UFIR. O lucro, lá fora, é de 3 ou 4%, em média, mas, aqui, através de intermediários, o normal é 35%, no mínimo."
A REVOLUÇÃO DOS ABRIDORES DE LATA
"Existe um potencial de crescimento, principalmente no interior do Estado de São Paulo. Fiz um levantamento para pessoas que estão montando lojas de artigos importados, em Itu e Monte Alto, na região de Jaboticabal. Lá existe uma sede por artigos importados, e muita gente acaba indo fazer compras em Miami.
Costuma-se vender artigos eletrônicos, brinquedos, coisas que piscam luzes e fazem barulho, e existe pouco interesse por artigos mais úteis e superiores tecnologicamente. Um abridor de latas, que nem precisa pilhas, por exemplo, é vendido a 40 cents de dólar e é superior aos similares nacionais. O empresário brasileiro é muito acomodado e precisa dessa concorrência.
Acho que a mudança de mentalidade virá dos pequenos empresários, e isso vai influenciar as grandes corporações. Entre nós, os pequenos, ninguém quer mais economia informal, e todos estão atrás de registro. Nesse trabalho, é fundamental o apoio do SEBRAE/SP, que tem indicado muitos clientes para a Market & Co.".
|