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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 91 (02/01/1994)

Conhecimento faz Sombra no Mercado

Pneu de automóvel não explode, porque o controle de qualidade é automatizado, sem margem de erro. Acontece o mesmo com remédios e alimentos que não matam ou produtos químicos que não pegam fogo. Para qualquer produto sério, existem sistemas aperfeiçoados pela indústria que garantem a segurança do consumidor. Os documentos que registram essa tarefa são os gráficos de controle de qualidade para instrumentação técnica e científica.
Eles podem ser fabricados em forma de "cartas", que são diagramas circulares e retangulares, e também em forma de rolos e sanfonas. Esses gráficos atestam que o controle foi feito e, por isso, são documentos obrigatórios, principalmente nos contratos de exportação. Por se tratar de diagramas complexos, até há um ano eram exclusivamente fabricados por empresas multinacionais.
Até que entrou em cena a Regisbras, Registros Gráficos Brasileiros Ltda., tel.: (011) 842-8751, situada na Vila Sônia, em São Paulo, idealização do amazonense Rui de Matos Dantas, que, por muito tempo, trabalhou como gerente de produção numa grande empresa de formulários contínuos. Seu conhecimento do setor gráfico tornou-se significativo através de uma prática de muitos anos e uma dedicação diária acima da média. Chegou a ser convidado para consertar máquinas em fábricas no exterior, já que consegue enxergar soluções em situações consideradas de impasse total.
Esse conhecimento gerou a segurança necessária para Rui começar a fazer sombra no mercado: entre seus clientes atuais estão nomes como Pirelli, Goodyear, Votorantim, Firestone, Nestlé, entre outros. Segundo seu depoimento, a seguir, essas empresas pagam hoje pelos gráficos um preço menor do que há três anos, pois a Regisbras, com apenas oito funcionários, implantou a concorrência onde antes havia monopólio.

A CRIATIVIDADE VEM DA INSEGURANÇA -
"Quando eu era funcionário, aspirava a uma casa própria, a um mínimo de dignidade, mas isso é impossível. Paga-se mal, e a cada momento podem demitir. Você começa a ver amigos sendo despedidos e imagina que vai ser difícil quando chegar a sua vez. Estudando o funcionamento das grandes empresas, da margem brutal que elas têm e dos erros que cometem, pode-se imaginar uma saída, e foi o que fiz.
Queria comprar uma máquina pequena, mas acabei comprando uma mais rudimentar. Trabalhando direito, nunca atrasando serviço e conhecendo o ramo, foi possível comprar máquinas melhores, apesar de antigas. A solução que encontrei para manter a empresa na vanguarda do setor foi adaptar essa infra-estrutura para as exigências atuais. Para isso, contei com meu conhecimento na área.
Desenvolvi as ferramentas necessárias para cada produto e hoje fabrico gráficos que podem ser utilizados na impressora a laser. Fiz isso utilizando uma máquina alemã com 50 anos de idade. São os clientes que fazem essas exigências, e nós precisamos atendê-los. Somos bem sucedidos porque fazemos produtos difíceis de confeccionar.
Desenvolvi, por exemplo, uma bobina numerada para tirar passagens de ônibus num sistema informatizado. O cliente tinha a máquina, mas não tinha o sistema. Ninguém fazia no Brasil esse tipo de bobina para processamento de dados, com numeração. Quando soube da história, falei que poderia encontrar a solução. O brasileiro tem condições de enxergar longe, pois ele depende disso para sobreviver. No fundo, a criatividade vem dessa carência.
Encontrei operários brasileiros em Israel, falando hebraico, trabalhando felizes no setor gráfico. Eles são muito benquistos lá. No mundo todo, essa flexibilidade que a mão-de-obra brasileira tem, essa capacidade de aprender rapidamente por não sermos bitolados, recomenda-nos muito no exterior."

NINGUÉM CONSEGUE COMER DINHEIRO
"Peregrinei muito pelos bancos atrás de financiamento e tomei uma grande canseira preenchendo formulários, fazendo documentos, perdendo tempo. Na hora em que você consegue chegar em frente a um gerente para conversar, ele nem entende a sua linguagem. Cheguei a lutar por uma verba que existe no Banco Mundial para tecnologia de ponta, pois queria comprar máquinas de última geração, mas eles alegavam que existia muita inadimplência e eu precisava dar dois apartamentos de garantia.
Contra-ataquei, dizendo que, se tivesse dinheiro para comprar dois apartamentos, eu estaria no mercado financeiro, vivendo tranqüilamente de juros. Só consegui ver uma luz quando o SEBRAE/SP me recebeu e conseguiu, em duas semanas, encaminhar-me para um empréstimo de US$ 25 mil, para pagar em 36 vezes, depois de um ano de carência. Fiquei deslumbrado e pensei que estava no Primeiro Mundo. Quando vejo funcionários nas grandes empresas com capacidade para empreender, mas com medo de arriscar, proponho que procurem o SEBRAE/SP.
Hoje, eu estou fazendo treinamento lá, tirando todos os cursos possíveis, pois uma instituição dessas é um exemplo para este país. Já comprei uma máquina nova, o que gerou mais quatro empregos aqui dentro, e vou comprar ainda mais quatro equipamentos. Precisamos de apoio, pois somos muitos milhares em todo o Brasil, com mais força do que as grandes. Nosso endividamento foi a zero, pois ninguém dava crédito. Se você quiser descontar duplicata para pagar os funcionários e os impostos, acaba entrando em desespero. Muitos gerentes querem viver de agiotagem. Eu gostaria até que eles um dia não tivessem o que comer para ver se o dinheiro servia de alimento. Eles esquecem que tem gente trabalhando no campo, no comércio, na indústria, para todos poderem sobreviver."

GOVERNO É O NOME DA RECESSÃO

"O Japão deve 110% do seu PIB e tem deflação. O Brasil deve 10% do PIB e tem inflação de 40%. Isso certamente é um bom negócio para alguém. Enquanto a corrupção come solta, tem um assaltante em cada esquina. Desse jeito, o que adianta ficar rico, se existe a ameaça de ser seqüestrado? Eu gostaria que cada político brasileiro, ou funcionário público, soubesse o que é crédito e o que é débito. Quando houver consciência disso, este país vai dar certo.
Acredito que as pequenas empresas que tomarem dinheiro emprestado, dentro dos novos programas de financiamento, não serão inadimplentes, como os grandes devedores da Previdência ou as instituições que são administradas por filhos de deputados. É preciso difundir uma nova mentalidade, pois é dela que surgirão mais empresas preocupadas com a qualidade, com a alta tecnologia e com o trabalho. O Brasil já provou que tem condições de se superar. Aqui existem regiões miseráveis, mas também temos lugares que são exemplos mundiais. Considero que há mais progresso no interior de São Paulo, por exemplo, do que na Califórnia."


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