Conhecimento faz Sombra no Mercado
Pneu de automóvel
não explode, porque o controle de qualidade é automatizado, sem
margem de erro. Acontece o mesmo com remédios e alimentos que não
matam ou produtos químicos que não pegam fogo. Para qualquer produto
sério, existem sistemas aperfeiçoados pela indústria que
garantem a segurança do consumidor. Os documentos que registram essa
tarefa são os gráficos de controle de qualidade para instrumentação
técnica e científica.
Eles podem ser fabricados em forma de "cartas", que são diagramas
circulares e retangulares, e também em forma de rolos e sanfonas. Esses
gráficos atestam que o controle foi feito e, por isso, são documentos
obrigatórios, principalmente nos contratos de exportação.
Por se tratar de diagramas complexos, até há um ano eram exclusivamente
fabricados por empresas multinacionais.
Até que entrou em cena a Regisbras, Registros Gráficos Brasileiros
Ltda., tel.: (011) 842-8751, situada na Vila Sônia, em São
Paulo, idealização do amazonense Rui de Matos Dantas, que,
por muito tempo, trabalhou como gerente de produção numa grande
empresa de formulários contínuos. Seu conhecimento do setor gráfico
tornou-se significativo através de uma prática de muitos anos
e uma dedicação diária acima da média. Chegou a
ser convidado para consertar máquinas em fábricas no exterior,
já que consegue enxergar soluções em situações
consideradas de impasse total.
Esse conhecimento gerou a segurança necessária para Rui começar
a fazer sombra no mercado: entre seus clientes atuais estão nomes como
Pirelli, Goodyear, Votorantim, Firestone, Nestlé, entre outros. Segundo
seu depoimento, a seguir, essas empresas pagam hoje pelos gráficos um
preço menor do que há três anos, pois a Regisbras, com apenas
oito funcionários, implantou a concorrência onde antes havia monopólio.
A CRIATIVIDADE VEM DA INSEGURANÇA - "Quando
eu era funcionário, aspirava a uma casa própria, a um mínimo
de dignidade, mas isso é impossível. Paga-se mal, e a cada momento
podem demitir. Você começa a ver amigos sendo despedidos e imagina
que vai ser difícil quando chegar a sua vez. Estudando o funcionamento
das grandes empresas, da margem brutal que elas têm e dos erros que cometem,
pode-se imaginar uma saída, e foi o que fiz.
Queria comprar uma máquina pequena, mas acabei comprando uma mais rudimentar.
Trabalhando direito, nunca atrasando serviço e conhecendo o ramo, foi
possível comprar máquinas melhores, apesar de antigas. A solução
que encontrei para manter a empresa na vanguarda do setor foi adaptar essa infra-estrutura
para as exigências atuais. Para isso, contei com meu conhecimento na área.
Desenvolvi as ferramentas necessárias para cada produto e hoje fabrico
gráficos que podem ser utilizados na impressora a laser. Fiz isso utilizando
uma máquina alemã com 50 anos de idade. São os clientes
que fazem essas exigências, e nós precisamos atendê-los.
Somos bem sucedidos porque fazemos produtos difíceis de confeccionar.
Desenvolvi, por exemplo, uma bobina numerada para tirar passagens de ônibus
num sistema informatizado. O cliente tinha a máquina, mas não
tinha o sistema. Ninguém fazia no Brasil esse tipo de bobina para processamento
de dados, com numeração. Quando soube da história, falei
que poderia encontrar a solução. O brasileiro tem condições
de enxergar longe, pois ele depende disso para sobreviver. No fundo, a criatividade
vem dessa carência.
Encontrei operários brasileiros em Israel, falando hebraico, trabalhando
felizes no setor gráfico. Eles são muito benquistos lá.
No mundo todo, essa flexibilidade que a mão-de-obra brasileira tem, essa
capacidade de aprender rapidamente por não sermos bitolados, recomenda-nos
muito no exterior."
NINGUÉM CONSEGUE COMER DINHEIRO
"Peregrinei muito pelos bancos atrás de financiamento e tomei uma
grande canseira preenchendo formulários, fazendo documentos, perdendo
tempo. Na hora em que você consegue chegar em frente a um gerente para
conversar, ele nem entende a sua linguagem. Cheguei a lutar por uma verba que
existe no Banco Mundial para tecnologia de ponta, pois queria comprar máquinas
de última geração, mas eles alegavam que existia muita
inadimplência e eu precisava dar dois apartamentos de garantia.
Contra-ataquei, dizendo que, se tivesse dinheiro para comprar dois apartamentos,
eu estaria no mercado financeiro, vivendo tranqüilamente de juros. Só
consegui ver uma luz quando o SEBRAE/SP me recebeu e conseguiu, em duas semanas,
encaminhar-me para um empréstimo de US$ 25 mil, para pagar em 36 vezes,
depois de um ano de carência. Fiquei deslumbrado e pensei que estava no
Primeiro Mundo. Quando vejo funcionários nas grandes empresas com capacidade
para empreender, mas com medo de arriscar, proponho que procurem o SEBRAE/SP.
Hoje, eu estou fazendo treinamento lá, tirando todos os cursos possíveis,
pois uma instituição dessas é um exemplo para este país.
Já comprei uma máquina nova, o que gerou mais quatro empregos
aqui dentro, e vou comprar ainda mais quatro equipamentos. Precisamos de apoio,
pois somos muitos milhares em todo o Brasil, com mais força do que as
grandes. Nosso endividamento foi a zero, pois ninguém dava crédito.
Se você quiser descontar duplicata para pagar os funcionários e
os impostos, acaba entrando em desespero. Muitos gerentes querem viver de agiotagem.
Eu gostaria até que eles um dia não tivessem o que comer para
ver se o dinheiro servia de alimento. Eles esquecem que tem gente trabalhando
no campo, no comércio, na indústria, para todos poderem sobreviver."
GOVERNO É O NOME DA RECESSÃO
"O Japão deve 110% do seu PIB e tem deflação. O Brasil
deve 10% do PIB e tem inflação de 40%. Isso certamente é
um bom negócio para alguém. Enquanto a corrupção
come solta, tem um assaltante em cada esquina. Desse jeito, o que adianta ficar
rico, se existe a ameaça de ser seqüestrado? Eu gostaria que cada
político brasileiro, ou funcionário público, soubesse o
que é crédito e o que é débito. Quando houver consciência
disso, este país vai dar certo.
Acredito que as pequenas empresas que tomarem dinheiro emprestado, dentro dos
novos programas de financiamento, não serão inadimplentes, como
os grandes devedores da Previdência ou as instituições que
são administradas por filhos de deputados. É preciso difundir
uma nova mentalidade, pois é dela que surgirão mais empresas preocupadas
com a qualidade, com a alta tecnologia e com o trabalho. O Brasil já
provou que tem condições de se superar. Aqui existem regiões
miseráveis, mas também temos lugares que são exemplos mundiais.
Considero que há mais progresso no interior de São Paulo, por
exemplo, do que na Califórnia."
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