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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 70 (08/08/1993)

A valorização das Micro e Pequenas Empresas

Para que a democracia não signifique recessão e crise, o Brasil precisa dar um tratamento diferenciado às empresas de pequeno porte, responsáveis por 59% da oferta de emprego, 42% dos salários pagos e 48% de tudo o que é produzido no País. Esses números, segundo o diretor-presidente do SEBRAE, José Augusto de Assumpção Brito, provam que a proliferação dos negócios e a ampliação do mercado beneficiam a população. E podem também significar estabilidade institucional, desde que as leis não atrapalhem.
Mas, para que isso aconteça, o Congresso precisa, na tão esperada reforma constitucional, a partir de outubro, inaugurar um novo tempo para as micro e pequenas empresas nas questões dos tributos, do crédito e da previdência. E, o que é mais importante, a sociedade deve conscientizar-se e fazer pressão. "Acho que ainda não existe, nem entre a maioria dos empresários, uma noção do que esse segmento representa para o País", diz Brito. "É por isso que estamos batalhando em cima desses índices esmagadores. Eles revelam que a pequena empresa é a força social da economia brasileira."
No depoimento a seguir, esse ex-oficial da Marinha, formado em Engenharia Mecânica e Administração, revela o trabalho do SEBRAE feito em parceria com numerosas entidades, para mudar a postura dos brasileiros, através de técnicas e recursos específicos. Ele acha que isso poderá alavancar o desenvolvimento e arrancar o País do impasse. Mas faz questão de advertir: a mudança não passa pelo paternalismo, pela isenção tributária e por outros equívocos.

O IMPACTO DAS MUDANÇAS
"Nosso trabalho de conscientização não e só para o proprietário da pequena e microempresas. Dirigimo-nos a toda a sociedade, através de cinco programas prioritários.
O primeiro é facilitar o acesso ao mercado, que é a essência da atividade econômica. O segundo é a capacitação gerencial, para que as pessoas tenham condições de administrar tanto uma padaria quanto um estabelecimento de microeletrônica. O terceiro é o desenvolvimento tecnológico, dando especial atenção para a qualidade total. E não cuidamos apenas de high-tech, mas de processos simples, como secar madeira ou fazer olarias com barros especiais.
As 27 unidades do SEBRAE, em todo o País, têm conselhos com um ou mais representantes de pesquisas de desenvolvimento. Estamos trazendo a Universidade para sentar junto com os empresários, apoiando incubadoras dentro do campus e participando dessa mudança que se está processando na cabeça de professores e alunos em relação às empresas de base tecnológica.
O outro programa é a democratização da informação, através de mais de 350 Balcões SEBRAE, que, até o final do ano, serão 500. Atualmente, estamos com 6,5 mil atendimentos por dia, levando oportunidades para todos os estados oferecerem serviços e produtos. E o quinto programa é o da desburocratização e desregulamentação. Esse é um problema que não podemos resolver diretamente, mas pode ser eliminado através de ações junto às câmaras de vereadores, prefeituras municipais, assembléias e governos estaduais, além do Congresso e do governo federal.
Em junho, por exemplo, foi aprovada a Lei nº 8.666/93, que trata das compras públicas. É possível agora às micro e pequenas empresas terem acesso a esse mercado, avaliado em US$ 100 bilhões por ano. É uma maneira de descentralizar e diversificar a compra governamental, gerando empregos e evitando a burocracia e a corrupção."

MAIS MERCADO, MAIS DEMOCRACIA
"Acho que o Brasil está mudando, desestatizando-se, democratizando-se. Mas, para que essa mudança seja completa e tenhamos instituições estáveis, é preciso que o mercado se alargue. O mercado brasileiro, hoje, não representa a sociedade, se considerarmos que, de uns 80 milhões de eleitores, aproximadamente apenas 4 milhões são contribuintes de impostos e, destes, 2,5 milhões são assalariados. Temos que fazer os trabalhadores se tornarem consumidores, mas isso só será possível com a participação da sociedade nas grandes discussões, legitimando as instituições e o poder.
Precisamos sair definitivamente de uma pseudo-economia de mercado, em que o governo bancava tudo e era dono da fatia maior. A situação econômica não permite que o pequeno empresário tenha acesso ao financiamento. Os bancos não são culpados, pois, se fizerem assistencialismo, quebram. Temos de criar um sistema de garantia complementar, já que o dono da empresa de pequeno porte não possui o necessário para cobrir o crédito.
Não estamos pregando o paternalismo. Proteção pura e simples não prepara ninguém para competir; no momento em que você soltar a corda, a pessoa vai à falência. Não estamos aqui para abrigar a ineficiência. Nossa obrigação é fazer com que se crie um ambiente propício para a pequena empresa concorrer em pé de igualdade. Nesse enfoque, não defendemos, também, as isenções tributárias, pois uma empresa isenta quebra a cadeia de responsabilidades que existe no mercado, e ela acaba sendo discriminada. Lutamos é por uma desburocratização tributária, na qual a carga fiscal seja adequada à capacidade de pagamento de cada um. Isso evita a sonegação e também poderá ratificar uma tendência: a de que as pessoas de menor poder aquisitivo são mais assíduas no cumprimento de suas obrigações financeiras."

NÃO SOMOS CONTRA AS GRANDES EMPRESAS -
"Fizemos uma pesquisa e descobrimos que as pequenas empresas que se preocupam com a qualidade são as exportadoras ou as fornecedoras para grandes companhias. A grande empresa tem, portanto, um papel extraordinário nesse processo de transformação, principalmente através da terceirização. Em todo o mundo, em torno dos grandes grupos gravita uma escala de empreendimentos menores. No primeiro anel estão centenas de empresas médias, que são atendidas por milhares de pequenos negócios, que, por sua vez, estão ligados a dezenas de milhares de microempresas.
Hoje, segundo outra pesquisa de junho deste ano, 60% dos responsáveis pelas micro e pequenas empresas têm nível superior. Isso é uma mudança fantástica e importantíssima no Brasil, pois as pessoas com diploma estão pensando em trabalhar por conta própria. Elas são levadas a essa decisão porque precisam achar alternativas, elevar seu padrão de vida e adequar-se às novas tendências, como é o caso da terceirização, que está longe de ter natureza desempregadora.
Nossa missão é atender essa demanda através de um quadro de colaboradores eficiente, dedicado e extremamente operoso, contando também com a participação e a ajuda da sociedade. Graças a isso, o SEBRAE está dando certo, pois acredito que as pessoas fazem as instituições."


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