Receitas para Gerenciar Edifício
Dezoito andares podem virar um problema insolúvel, se não forem
administrados de maneira eficiente. Isso costuma acontecer com freqüência,
como atestam numerosos exemplos largamente explorados pela atual cultura da
catástrofe. Por isso é importante difundir experiências
bem-sucedidas em condomínios de grande porte, para que o público
tenha uma visão mais correta da capacidade brasileira de criar soluções
nesse setor.
O segredo, revelado no Condomínio Palácio Quinta Avenida, localizado
na venida Paulista, em São Paulo, é o gerenciamento estratégico
com visão empresarial. Com quarenta funcionários, um excedente
mensal de CR$ 300 mil em setembro e uma estrutura de invejável eficiência,
ele só se diferencia de uma empresa por dois aspectos: não visa
o lucro e a administração depende da participação
e das resoluções das assembléias. Mas se aproxima do perfil
dos empreendimentos modernos.
À frente desse trabalho, liderando uma equipe afinada com os objetivos
comuns, está Luís de Oliveira Purchio, um dos usuários
do edifício. Ele é o proprietário da Adutec Assessoria
Aduaneira Ltda. e assumiu a responsabilidade há quatro anos, quando
havia um grave problema com os elevadores, sintoma da então visível
decadência do prédio. Este era um dos motivos que poderiam empurrar
o Quinta Avenida para o impasse, com problemas de segurança, manutenção
e estacionamento.
No depoimento a seguir, este funcionário, aposentado do Ministério
das Comunicações e empresário há dezoito anos, conta
como conseguiu reverter a situação, colocando todos os departamentos
em dia e projetando uma série de medidas para o futuro. Seu depoimento
é uma receita de como proceder em casos complicados como esse.
CRIAMOS NOVAS FONTES DE RECEITAS
"Existem dez unidades em cada um dos dezoito andares, fora lojas, sobrelojas
e uma agência bancária que está instalada aqui. É
um prédio exclusivamente comercial, onde a maioria das unidades é
utilizada pelos proprietários. No início da nossa gestão,
tivemos que resolver o problema dos elevadores, o que deu um novo alento, inclusive
para ampliar a participação dos associados.
Com a ajuda do SEBRAE/SP, fizemos uma série de treinamentos para os nossos
funcionários, melhorando o nível do atendimento. Criamos na portaria
um serviço de identificação, pois tínhamos sido
vítimas de vários assaltos. Implantamos, também, um serviço
diuturno de segurança. E começamos a dar aos nossos colaboradores
um prêmio para os que não faltam e conseguem um melhor desempenho,
correspondente a 20% do salário.
Criamos também novas fontes de receitas. Alugamos uma antena no prédio
para a Rádio-Táxi e cobramos pela exposição da logomarca
do banco instalado aqui. No estacionamento, que era reservado aos visitantes,
instalamos uma firma especializada, que passou a controlar o movimento e a cobrar
dos usuários. Isso nos evitou muitos problemas, pois algumas pessoas
largavam o carro o dia inteiro, sem nenhum custo para elas.
Fizemos uma pesquisa e descobrimos que o preço do nosso condomínio
é um dos mais baixos da avenida Paulista, exatamente em razão
dessa receita extra. Isso prova que a experiência empresarial pode ser
aplicada no condomínio, desde que haja interesse dos associados. Outra
coisa fundamental é a transparência: qualquer pessoa do condomínio
pode vir aqui e checar as finanças, pois temos cópias dos cheques
e de todas as notas fiscais. Estamos sempre abertos às críticas,
mas, naturalmente, funcionamos apoiados pelo voto da maioria."
SERVIÇOS INTERNOS GERAM EMPREGOS
"Informatizamos nosso setor administrativo, que agora é interno,
com três funcionários, e não mais contratamos gente de fora.
Na parte operacional, temos o zelador e um supervisor, ambos no mesmo nível
hierárquico, que atendem os serviços de comunicação,
da portaria e dos ascensoristas. O supervisor percorre todas as dependências,
atende as reclamações, fazendo os contatos iniciais para o assunto
ser estudado e resolvido.
Temos uma oficina de manutenção, que presta serviços para
o condomínio e para os usuários. São três profissionais:
um eletricista, outro para a pintura e outro para serviços hidráulicos.
Se houver um problema, nosso funcionário faz um orçamento e, se
for aprovado, realiza o serviço. O pagamento é no final do mês.
Isso também evita problemas, pois existe mais agilidade, preços
menores e evita trazer muita gente estranha para dentro do prédio.
Procuramos facilitar a vida dos condôminos. Acho que os prédios
residenciais muito grandes poderiam ter uma série de serviços
que atingiriam esse objetivo e dariam emprego para várias pessoas. Implantamos
aqui, por exemplo, um auditório de quarenta lugares, para reuniões
e assembléias, e pretendemos criar uma central de comunicação,
com xerox, fax e talvez telex, além de um serviço de mensageiros.
São concepções modernas que a gente vai absorvendo e adaptando
às nossas condições."
O BRASIL ESTÁ MELHORANDO
"Como conseguimos um excedente na receita, tentamos criar uma cooperativa
para que os funcionários pudessem fazer empréstimos, mas o Banco
Central não permite que se faça esse tipo de coisa. A cooperativa
tem que ser controlada diretamente pelo Estado, é um processo complicadíssimo
e não conseguimos levar isso adiante. Esses impedimentos legais prejudicam
os funcionários, pois, em vez de adiantamento salarial, eles poderiam
fazer empréstimo para pagar suavemente.
O governo deveria deixar os empresários mais à vontade para criar
soluções como essa. Sentimos que hoje existe mais dinamismo, e
isso deve ser correspondido pelo governo. A abertura de mercado, por exemplo,
está gerando muitos negócios. Nós, que trabalhamos numa
firma de prestação de serviços de desembaraço aduaneiro,
somos testemunhas da intensificação do comércio. Existe,
agora, um novo ânimo, e vejo que o Brasil está acompanhando uma
reação mundial a favor de mais atividades produtivas.
Vemos que a proliferação de feiras e exposições
é um sintoma desse crescimento. Apesar dos nossos grandes problemas,
a atividade empresarial está empurrando a área política
para se modernizar. Acho que essa pretensão de sermos um grande país
vem exatamente das empresas. Os empresários estão forçando
todo esse trabalho. Aí está a solução.
Basta conferir o balancete das grandes empresas e o número de novos negócios
que estão sendo abertos. Temos formas de agir e de improvisar que podem
dar certo. Às vezes, estamos dependendo do governo e aparecem empresários
que acabam superando o problema. Precisamos de gente arejada, ousada, moderna,
que participe e tome conta do processo político. Acho que estamo-nos
aperfeiçoando, e isso está fazendo o País melhorar."
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