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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 102 (20/03/1994)

A Ciência da Gestão Hospitalar

Um hospital é um conjunto de empresas: lavanderia, restaurante, farmácia, clínicas médicas, consultórios, pronto-socorro etc. São subsistemas que integram um conjunto maior e mais complexo e não podem, portanto, ser administrados de maneira amadorística. É preciso implantar controles em todos os níveis, do atendimento ao estoque, para tomar decisões baseadas em informações concretas. Assim, é possível garantir um desempenho razoável para a recuperação dos pacientes e a sobrevivência da instituição.
Com essa visão, a Sociedade Beneficente São Camilo (SBSC), entidade filantrópica, conseguiu fazer da gestão hospitalar uma aliada contra o sucateamento da saúde no Brasil. Criada em 1923, quando padres camilianos vieram da Europa trazendo a tradição de uma ordem dedicada há quatrocentos anos aos doentes, hoje administra 84 hospitais próprios e de terceiros, com aproximadamente 15 mil leitos, 20 mil funcionários e 5 mil médicos.
Em decorrência de numerosos pedidos de hospitais para obter uma assessoria que lhes desse informação e orientação para conduzirem bem a administração, foi criada em 1985 a Gerência Hospitalar, como departamento da SBSC, em São Paulo. Nos depoimentos a seguir, três pessoas fazem um diagnóstico da estratégia adotada na São Camilo: o superintendente, Niversindo Antonio Cherubin, que é padre camiliano; o diretor-geral da GH Central, Paulo Roberto S. Câmara; e o diretor da GH Sul, Naírio Augusto dos Santos.

NÃO PODEMOS ERRAR -
(Depoimento de Niversindo Antonio Cherubin)
"Percorremos o mundo todo em busca de informações e decidimo-nos pelo modelo americano de administração hospitalar, que foi adaptado às nossas condições e evoluiu para um perfil essencialmente brasileiro. O primeiro passo foi viabilizar a formação superior do administrador hospitalar, dando a ele condições de tomar decisões corretas, pois, em nossa atividade, não podemos admitir defeitos. Um erro poderá redundar em prejuízo da pessoa humana.
Apesar da falta de recursos, as entidades camilianas têm conseguido formar um contingente expressivo de administradores especializados, para que em todos os hospitais eles possam conviver em condições de igualdade com outros profissionais de nível superior, como os médicos. No Primeiro Mundo, esse problema não existe, pois há pessoal graduado na coordenadoria de todos os departamentos. O País inteiro carece dessa especialização, e em cada Estado deveria haver um núcleo formador de administradores hospitalares.
Devido a essa carência, o jovem administrador hospitalar acaba sendo uma espécie de preceptor, passando informações para seus subordinados e aumentando, assim, os desempenhos técnico, econômico, social e assistencial da instituição hospitalar. Sentimos falta desse tipo de profissional, inclusive na administração pública. Para funções administrativas, é costume convocar médicos ilustres que não estão preparados para essas atividades específicas.
Se isso fosse feito, teríamos uma aplicação de recursos mais equilibrada e um planejamento mais eficiente. Mas o que vemos é o contrário. Pioramos imensamente, desde 1984, com a mudança da forma de pagamento, que diminuiu a média de permanência hospitalar. O Brasil ainda não se convenceu de que a Saúde é prioritária, tanto que o percentual do PIB para o setor está em torno de 2,7%, um dos mais baixos do mundo. Essa situação vai agravar-se com a recente decisão de municipalizar a Saúde. O que pode fazer um município de 3 mil habitantes? As desigualdades vão acumular-se."

FIM DA ADMINISTRAÇÃO CASEIRA - (Depoimento de Paulo Roberto Segatelli Câmara e Naírio Augusto dos Santos)
"Esta é uma entidade filantrópica, mas com visão empresarial. Nos hospitais em que existe uma visão administrativa caseira, fazemos uma intensa profissionalização, implantando controles informatizados e conseguindo, assim, indicadores específicos para mensurar o desempenho do ponto de vista financeiro, social e assistencial. Todo o resultado colhido é revertido para a melhora da própria atividade.
Tendo em vista esse objetivo, na Gerência Hospitalar temos mais de 250 técnicos profissionais que dão suporte a toda uma estrutura específica, voltada para a gestão. Hoje, a remuneração do Sistema Unificado de Saúde aos serviços prestados nos hospitais é muito baixa, além de ser feita normalmente de forma defasada. Aliado à gestão caseira, esse problema é o principal foco de sucateamento da Saúde. Nós cuidamos da organização e da implantação do nosso sistema, ajudando, assim, a equilibrar os hospitais."

CONTROLE DE CUSTOS E CONSUMO

"É preciso cuidar de dois setores básicos: o de Recursos Humanos e o de Materiais e Medicamentos. Precisamos calcular adequadamente o volume de pessoal necessário para cada setor, pois, às vezes, vemos excesso de pessoal na lavanderia e falta na enfermagem. Existem indicadores para fazer a divisão adequada. A média é de 1,9 a 2,3 funcionários por leito ocupado, mas existem hospitais públicos em que esse índice sobe a 10. Havendo distorção, fazemos uma auditoria.
Na área de Materiais e Medicamentos também procedemos cientificamente. Como a São Camilo administra vários hospitais, é possível fazer as compras por meio de uma central - e nesse trabalho o SEBRAE/SP tem prestado uma consultoria valiosa. Entre cem itens, por exemplo, quinze correspondem a 70% do estoque. Então, controlamos esses quinze, e não os cem. Potencializamos a capacidade ociosa de uma empresa e fazemos um contrato de um ano com ela, a qual vai fabricar uma quantidade específica dos seus produtos só para a São Camilo. Essa política reduz os custos em 50%.
Criamos alternativas, como importar filme radiológico, mas o importante não é só o valor da compra mas também o controle de consumo, que deve ser feito dentro de especificidades técnicas. A idéia é administrar recursos escassos com eficiência."


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