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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 104 (03/04/1994)

Jogo Aberto no Design de Objetos

Artista não pode ficar esperando que o mercado o descubra. É preciso ir à luta para sobreviver do talento. Um dos caminhos para abrir espaço é criar uma empresa, opção rara na pátria onde a arte tradicionalmente é embalada no berço do Estado. A sorte do designer Christophe Spoto, de Araraquara, foi ter trabalhado dois anos na Itália no ramo de jóias, onde viu que sua vocação, as artes plásticas, poderia desenvolver-se em direção à satisfação artística e ao sucesso empresarial. Quando voltou ao Brasil, fundou, junto com o irmão Philip - que é escritor - a Studio Spoto Design Objetos para Decoração Ltda. - tel.: (0162) 36-8099 -, que cria obras exclusivas, utilizando materiais de primeira linha, como granitos, madeiras nobres, pigmentos importados etc., e conciliando técnicas tradicionais com a pesquisa permanente. O Studio Spoto já lançou produtos como luminárias e máscaras de parede, mas pode ampliar esse espectro. No depoimento a seguir, Christophe e Philip falam sobre esse trabalho e as dificuldades encontradas desde o início da empresa, em novembro de 1992, quando optaram pelo jogo aberto com funcionários e fornecedores e enfrentaram as restrições normais de um mercado escaldado pelo imediatismo e pela desconfiança.

PROTÓTIPO DETERMINA LINHA DE MONTAGEM
"Nosso slogan - 'Objetos nunca vistos' - define o perfil da empresa. Achamos que tudo tem que ser belo e tudo pode ser feito. A idéia de uma indústria de design foi obter colocação da arte num país que não tem tradição cultural. A arte tradicional, como a pintura, é mais difícil de trabalhar e fica na mão de poucos marchands e de consumidores que nem sempre sabem o que estão comprando. Achamos que seria possível fabricar produtos exclusivos, com uma produção planejada em série, inédita, feitos com capricho e dentro de padrões internacionais de qualidade. A partir do protótipo é que a gente desenvolve a linha de montagem, acabando, assim, com todos os bloqueios de produção. Para isso, utilizamos muito a consultoria com especialistas na engenharia de materiais e mantemos contatos com indústrias químicas multinacionais. Nem sempre os fornecedores estão acostumados a nossos pedidos, mas eles acabam chegando ao que nós queremos, orientando-nos sobre métodos de produção, a partir de uma idéia livre. Temos, por exemplo, uma empresa que corta e dobra o metal, outra que trabalha com pedras e faz o corte conforme o desenho proposto, cuidando, também, do polimento. Trazemos, então, tudo para cá e fazemos a montagem. Isso é complexo, mas o resultado final é gratificante. Fazemos coisas novas e com excelente acabamento e, por isso, temos chances no mercado mundial. Nem na Itália, que exporta design para o mundo inteiro, existe algo igual. É importante acreditar em nós mesmos e contrariar a mentalidade brasileira de que tudo o que vem de fora é melhor. Se não tivéssemos nível internacional, seríamos esmagados pelos importados no mercado interno."

LIBERDADE COM BOM SENSO

"Embora na Itália exista mercado sólido e conhecimento por parte dos consumidores, achamos que, no Brasil, a atividade empresarial é mais fácil, por vários motivos, principalmente o custo. Lá, tudo é mais caro, enquanto, aqui, conseguimos materiais de primeira qualidade extraídos no Brasil mesmo, a preços que nos permitem até ter um pequeno estoque. O importante em trabalhar na Itália é que lá é possível desenvolver uma obra erudita, que pode ser reconhecida. Mas as técnicas aprendidas na Itália e que foram implantadas na nossa empresa são bastante simples. A gente usa o bom senso, desenvolvendo o que quer. Preocupamo-nos como se fossem produtos artesanais, mas o modo de produção é quase industrial. Todas as peças são assinadas e numeradas. Dependendo do modelo, a tiragem é de duzentas peças. O produto é responsável pela nossa imagem, e ele é observado de maneira a satisfazer plenamente o cliente. Temos um show-room em São Paulo e nossas vendas são feitas essencialmente na capital, em Campinas e em Araraquara. Mas vendemos, também, para Belo Horizonte, Rio de Janeiro e um pouco para Cuiabá. Fazemos embalagens especiais, de madeira bem leve, já pensadas para a exportação. Temos uma linha clássica de máscaras para colocar na parede, com modelos inspirados em grandes mestres. Fazemos, por exemplo, uma escultura bem nova, com a mesma textura das pinceladas de Van Gogh. E também uma pátina-bronze, com a feição de Dante Alighieri. Todos os detalhes, como rugas e poros, aparecem nos nossos trabalhos. O modelo é reproduzido fielmente, mas nós alteramos o material, e isso cria outra diferenciação."

O IMEDIATISMO INCOMODA
"Um dos problemas do trabalho na Itália é que a empresa de lá crescia, mas isso não acontecia com os funcionários. Por isso, quando criamos o Studio Spoto, pensamos nisso, como pagar uma porcentagem do lucro líquido para quem trabalhasse conosco. Mas, aqui, as pessoas parecem não estar interessadas no trabalho a longo prazo. A idéia é ter gente com vontade de crescer junto com a empresa. Uma das maiores dificuldades é que as pessoas não ligam o trabalho delas ao empreendimento. Tivemos também dificuldades, no início, com fornecedores que demonstraram muita ganância quando souberam que pretendíamos exportar. Pode parecer ingênuo tomarmos essa postura de abrir o jogo com o fornecedor, mas essa é a nossa proposta. Queríamos fornecedores que mantivessem a qualidade e os preços, e esse problema, felizmente, foi resolvido. O SEBRAE/SP foi fundamental na criação da empresa, na parte administrativa e nas questões burocráticas. Cuidamos da parte artística e operacional e não queríamos perder tempo com as outras questões. Talvez não tivéssemos fôlego para fazer realmente tudo, se não fosse o apoio dado pela consultoria do SEBRAE/SP."


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