Jogo Aberto no Design de Objetos
Artista não
pode ficar esperando que o mercado o descubra. É preciso ir à
luta para sobreviver do talento. Um dos caminhos para abrir espaço é
criar uma empresa, opção rara na pátria onde a arte tradicionalmente
é embalada no berço do Estado. A sorte do designer Christophe
Spoto, de Araraquara, foi ter trabalhado dois anos na Itália no ramo
de jóias, onde viu que sua vocação, as artes plásticas,
poderia desenvolver-se em direção à satisfação
artística e ao sucesso empresarial.
Quando voltou ao Brasil, fundou, junto com o irmão Philip - que é
escritor - a Studio Spoto Design Objetos para Decoração Ltda.
- tel.: (0162) 36-8099 -, que cria obras exclusivas, utilizando materiais
de primeira linha, como granitos, madeiras nobres, pigmentos importados etc.,
e conciliando técnicas tradicionais com a pesquisa permanente. O Studio
Spoto já lançou produtos como luminárias e máscaras
de parede, mas pode ampliar esse espectro.
No depoimento a seguir, Christophe e Philip falam sobre esse trabalho e as dificuldades
encontradas desde o início da empresa, em novembro de 1992, quando optaram
pelo jogo aberto com funcionários e fornecedores e enfrentaram as restrições
normais de um mercado escaldado pelo imediatismo e pela desconfiança.
PROTÓTIPO DETERMINA LINHA DE MONTAGEM "Nosso
slogan - 'Objetos nunca vistos' - define o perfil da empresa.
Achamos que tudo tem que ser belo e tudo pode ser feito. A idéia de uma
indústria de design foi obter colocação da arte num país
que não tem tradição cultural. A arte tradicional, como
a pintura, é mais difícil de trabalhar e fica na mão de
poucos marchands e de consumidores que nem sempre sabem o que estão comprando.
Achamos que seria possível fabricar produtos exclusivos, com uma produção
planejada em série, inédita, feitos com capricho e dentro de padrões
internacionais de qualidade. A partir do protótipo é que a gente
desenvolve a linha de montagem, acabando, assim, com todos os bloqueios de produção.
Para isso, utilizamos muito a consultoria com especialistas na engenharia de
materiais e mantemos contatos com indústrias químicas multinacionais.
Nem sempre os fornecedores estão acostumados a nossos pedidos, mas eles
acabam chegando ao que nós queremos, orientando-nos sobre métodos
de produção, a partir de uma idéia livre. Temos, por exemplo,
uma empresa que corta e dobra o metal, outra que trabalha com pedras e faz o
corte conforme o desenho proposto, cuidando, também, do polimento. Trazemos,
então, tudo para cá e fazemos a montagem. Isso é complexo,
mas o resultado final é gratificante. Fazemos coisas novas e com excelente
acabamento e, por isso, temos chances no mercado mundial. Nem na Itália,
que exporta design para o mundo inteiro, existe algo igual. É importante
acreditar em nós mesmos e contrariar a mentalidade brasileira de que
tudo o que vem de fora é melhor. Se não tivéssemos nível
internacional, seríamos esmagados pelos importados no mercado interno."
LIBERDADE COM BOM SENSO
"Embora na Itália exista mercado sólido e conhecimento por
parte dos consumidores, achamos que, no Brasil, a atividade empresarial é
mais fácil, por vários motivos, principalmente o custo. Lá,
tudo é mais caro, enquanto, aqui, conseguimos materiais de primeira qualidade
extraídos no Brasil mesmo, a preços que nos permitem até
ter um pequeno estoque.
O importante em trabalhar na Itália é que lá é possível
desenvolver uma obra erudita, que pode ser reconhecida. Mas as técnicas
aprendidas na Itália e que foram implantadas na nossa empresa são
bastante simples. A gente usa o bom senso, desenvolvendo o que quer. Preocupamo-nos
como se fossem produtos artesanais, mas o modo de produção é
quase industrial.
Todas as peças são assinadas e numeradas. Dependendo do modelo,
a tiragem é de duzentas peças. O produto é responsável
pela nossa imagem, e ele é observado de maneira a satisfazer plenamente
o cliente. Temos um show-room em São Paulo e nossas vendas são
feitas essencialmente na capital, em Campinas e em Araraquara. Mas vendemos,
também, para Belo Horizonte, Rio de Janeiro e um pouco para Cuiabá.
Fazemos embalagens especiais, de madeira bem leve, já pensadas para a
exportação.
Temos uma linha clássica de máscaras para colocar na parede, com
modelos inspirados em grandes mestres. Fazemos, por exemplo, uma escultura bem
nova, com a mesma textura das pinceladas de Van Gogh. E também uma pátina-bronze, com a feição de Dante Alighieri. Todos os detalhes, como rugas e poros, aparecem nos nossos trabalhos. O modelo é reproduzido fielmente,
mas nós alteramos o material, e isso cria outra diferenciação."
O IMEDIATISMO INCOMODA "Um dos problemas do trabalho
na Itália é que a empresa de lá crescia, mas isso não
acontecia com os funcionários. Por isso, quando criamos o Studio Spoto,
pensamos nisso, como pagar uma porcentagem do lucro líquido para quem
trabalhasse conosco. Mas, aqui, as pessoas parecem não estar interessadas
no trabalho a longo prazo. A idéia é ter gente com vontade de
crescer junto com a empresa. Uma das maiores dificuldades é que as pessoas
não ligam o trabalho delas ao empreendimento.
Tivemos também dificuldades, no início, com fornecedores que demonstraram
muita ganância quando souberam que pretendíamos exportar. Pode
parecer ingênuo tomarmos essa postura de abrir o jogo com o fornecedor,
mas essa é a nossa proposta. Queríamos fornecedores que mantivessem
a qualidade e os preços, e esse problema, felizmente, foi resolvido.
O SEBRAE/SP foi fundamental na criação da empresa, na parte administrativa
e nas questões burocráticas. Cuidamos da parte artística
e operacional e não queríamos perder tempo com as outras questões.
Talvez não tivéssemos fôlego para fazer realmente tudo,
se não fosse o apoio dado pela consultoria do SEBRAE/SP."
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