Cientistas Aterrissam no Mercado
Há um sopro
de renovação nas atividades produtivas brasileiras, rompendo o
fosso existente entre a informação estocada nas universidades
e um mercado preso a velhas fórmulas. Empresas como a Job Engenharia
e Consultoria, de Campinas - tel.: (0192) 43-7378 - fazem a interface entre
os dois lados, desencadeando processos de múltipla criação
no mundo dos negócios.
Para os dois cientistas envolvidos nesse empreendimento, fundado em 1991,
Johnson Francisco Ordoñez e Olavo Oliveira Filho, a experiência
empresarial tem sido estimulante. Ambos são mestres em engenharia mecânica
que se especializaram em áreas diferentes. Johnson trabalha com criogenia,
que é o estudo e a aplicação de temperaturas 200 graus
abaixo de zero, em média, um conhecimento adquirido em indústrias
e instituições de pesquisa do Brasil e do exterior. E Olavo especializou-se
em ciências térmicas pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica,
tendo trabalhado por nove anos no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE).
Eles juntaram forças para fazer da Job Engenharia uma empresa que lida
com sistemas criogênicos, projetos térmicos e mecânicos e
tecnologia de vácuo. E aprenderam que o pequeno empresário precisa
diversificar suas atividades para manter-se vivo num mercado em mutação,
como eles contam no depoimento a seguir.
AS VANTAGENS DE SER FLEXÍVEL
"Toda pequena empresa precisa diversificar sua atuação, não
ficar restrita a setores e áreas. No nosso caso, só a consultoria
foi insuficiente. Foi preciso trabalhar com produtos e representações,
pois, assim, é possível ficar imune às oscilações
do mercado, graças a uma flexibilidade maior. Isso é importante
numa época como a nossa, em que existe uma reconsideração
mundial dos valores, e num país como o Brasil, muito mais aberto às
inovações do que os países ricos.
Lá fora, existe muita rigidez e também uma resistência enorme
das grandes corporações, que fazem pressão para que seus
interesses não sejam contrariados. O Brasil, por não ter uma diretriz
bem definida, cresce graças à iniciativa das pessoas. Aqui, existe
um terreno muito mais propício para implantarmos novos métodos
de produção e novos produtos na praça. O mercado brasileiro
abriu-se, já não depende mais dos mesmos projetos e fornecedores.
É preciso, então, que as empresas ofereçam um serviço
de melhor qualidade e uma tecnologia mais elevada para os consumidores.
O importante é quebrar essa cadeia de imobilismo, herança cultural
que o brasileiro enfrenta dentro de si, pois tende a ficar esperando o que os
outros vão fazer por ele. Mas, felizmente, até a própria
universidade está transformando-se, adaptando-se às novas condições
de exigência. Hoje em dia, devido à concorrência crescente
entre os profissionais, os alunos entram na faculdade já pensando no
mercado de trabalho. O relacionamento entre universidade e aluno está
ficando bastante prático."
A GELADEIRA ECOLÓGICA VEM AÍ "O
congelamento tradicional destrói a maioria das células do alimento.
O processo criogênico faz o contrário, mantém as propriedades
de sabor e nutrição, garantindo a qualidade do consumo. Queremos
disseminar a tecnologia do frio para, por exemplo, transformar freezers, geladeiras
e refrigeradores de ar em equipamentos modernos, adequados aos desafios atuais.
Além da eficiência, eles terão outra vantagem, que é
a eliminação dos compostos de CFC, que destroem a camada de ozônio.
No ano passado, nós publicamos um artigo numa revista americana, e o
presidente de uma empresa dos Estados Unidos veio conversar conosco. Foi uma
surpresa, pois esperávamos representá-lo no Brasil, mas ele queria
que essa representação fosse mundial. Ele tinha feito uma seleção
entre várias empresas, consultando as qualificações. Ficamos
gratificados.
Essa empresa investe muito em pesquisa e tem desenvolvido novos ciclos de refrigeração
e novas tecnologias na área de criogenia. Um dos projetos teve um financiamento
entre US$ 250 mil e US$ 300 mil, que inclui o custo do primeiro protótipo.
Eles estão repassando-nos os dados desse trabalho semanalmente, pois
querem que façamos uma interface, transpondo essa tecnologia acadêmica
para o nível industrial. Já temos feito alguns contatos e acreditamos
que haverá um interesse muito grande."
COMO ARMAZENAR O BIO-GÁS?
"Verificamos que não existia no mercado nacional nenhuma empresa
de consultoria na área de criogenia. É claro que existem empresas
estabelecidas do ramo, mas que fabricam produtos e prestam serviços acoplados
com as vendas. Nossa idéia foi dar assessoria técnica a todos
os profissionais e às empresas que necessitarem dessa especialização.
Decidimos, também, abrir o leque, entrando na modelagem térmica,
na tecnologia de vácuo e nos projetos mecânicos. Estamos também
lançando um novo produto, que são conexões de aperto manual,
utilizadas tanto para vácuo quanto para pressão de gás.
Um dos nossos trabalhos foi desenvolver o modelo e a simulação
térmica para a fabricação de lingote com um furo no meio,
para a Eletrometal. O objetivo desse produto é facilitar a indústria
de forjamento, beneficiando, por exemplo, a confecção de sondas
petrolíferas que precisam de tubos com alta resistência mecânica.
Outro projeto importante, pedido pela prefeitura de São Paulo, é
verificar a possibilidade de se liqüefazer o biogás, que vem do
lixo e não é aproveitado, em grande parte porque não existem
condições de armazenamento.
Se esse produto for transformado em metano criogênico, pode-se fazer o
armazenamento a menos 161 graus centígrados. Isso poderia ser aproveitado
nos ônibus municipais, caminhões e veículos da prefeitura.
O gás natural na forma criogênica é outro projeto que não
foi utilizado ainda no Brasil, porque não temos tradição
em criogenia. Felizmente, estamos contando com o apoio do SEBRAE/SP para divulgar
nosso trabalho, especialmente através de feiras internacionais. Ficamos
surpresos em contar aqui, no Brasil, com uma instituição como
essa, com nível de Primeiro Mundo."
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