Gestão Moderna Renova Pneu Usado
Recauchutar pneu
é aproveitar sua estrutura e aplicar uma camada de borracha em cima,
suficiente para que ele possa rodar mais alguns milhares de quilômetros.
Não é o mesmo trabalho da borracharia, que apenas tapa furo e,
quando o estabelecimento não é de confiança, risca a base
do pneu para que ele pareça novo. Isso parece óbvio, mas muita
gente costuma confundir as duas funções. Só quem é
do ramo percebe as manhas, os equívocos, os vícios e também
as potencialidades do setor.
É o caso de Alfredo José Martins da Conceição,
um economista de 27 anos que assumiu as funções de diretor administrativo
da firma em que seu pai, Manoel, e seu tio, Antônio, são sócios-proprietários.
Na Recauchutagem de Pneus Renovar Ltda., - tel.: (011) 427-3300 -, localizada
em Jandira, na Grande São Paulo, que tem 35 funcionários, ele
foi convocado para criar soluções contra os efeitos da crise.
Em vez de admitir a decisão mais comum, corte de pessoal, Alfredo procurou
fazer um levantamento dos custos, para saber onde estavam os ralos do desperdício.
Descobriu, junto com a direção e os funcionários, sucata
no meio das rotinas de trabalho, tempo ocioso dos equipamentos ligados, dificuldades
na área de vendas, deficiências no atendimento, entre outras coisas.
No depoimento a seguir, ele fala sobre diagnóstico e tratamento num setor
que precisa sair do imobilismo.
RENOVAR É FAZER O ÓBVIO
"A família era do ramo de padaria e resolveu mudar radicalmente,
comprando essa empresa, em 1975. Trabalho aqui, há sete anos, e aos poucos
meu espaço foi-se ampliando. De três anos para cá é
que modifiquei minha função, passando a trabalhar mais ativamente
na administração. A resistência a novas idéias é
muito forte nesse setor, mas ela cede, à medida que a crise aperta. O
empresário, então, pergunta o que fazer.
Para iniciar esse trabalho, pedi suporte técnico e orientação
da consultoria do SEBRAE/SP. O que tento fazer hoje é mudar o conceito
da empresa, fazer as pessoas pensarem de maneira mais simples. Não adianta
colocar computador, se você não consegue modificar a postura e
o comportamento dos funcionários. Introduzir a cultura da mudança,
apostar na modernidade, não é tornar a empresa modernosa, é
simplesmente fazer o óbvio.
Remanejamos, por exemplo, a produção, adaptando a idéia
das células, fazendo com que o funcionário trabalhasse por pneu
recauchutado, aumentando, assim, sua responsabilidade diante do resultado final
e tentando acabar com os problemas antes que eles acontecessem. A maior dificuldade
é conseguir mudar de fato os hábitos, pois, se num dia tudo corre
bem, no dia seguinte as coisas voltam ao de sempre.
Outra providência foi tirar todos os materiais para fora e colocar para
dentro só o que realmente era usado. O que sobrou era sucata, que foi
vendida. Com o dinheiro, comprei material necessário para se trabalhar
com mais eficiência. Faltava apenas olhar a coisa no seu detalhe."
INFORMAÇÃO, INSUMO BÁSICO
"A falta de comunicação costumava provocar vários
problemas. Foi difícil fazer uma planilha de custos que batesse com a
realidade. Isso foi, aos poucos, mudando, graças à colaboração
da direção e dos funcionários. Só depois de conseguir
disseminar a informação é que começamos a comprar
computador. O primeiro que adquirimos causou um rebuliço. Era apenas
para tirar nota fiscal, mas sofremos um ano de suspiros de saudades do procedimento
anterior, principalmente quando faltava luz. Alguns até acharam que o
equipamento era para jogar videogame.
Esse tipo de reação é muito natural, e o importante é
que os proprietários estavam apostando na mudança. Para incentivar
a participação dos funcionários, procuramos criar novas
condições de trabalho, pois você não pode pedir produtividade,
se não existe um ambiente saudável para produzir. Aqui, eles aprendem
praticamente tudo, já que não temos, no Brasil, uma escola de
recauchutagem.
O importante, nessa tentativa de tornar o funcionário seu parceiro, é
não blefar, é começar um processo e ir até o fim.
Temos sido persistentes e, se as coisas voltam para trás, começamos
de novo, só que, desta vez, num patamar um pouco mais acima. Assim, as
mudanças começam a ocorrer de fato. Criamos novos referenciais,
como a conversa franca sobre os procedimentos e cobrança na hora de erro,
para o funcionário sentir que estamos falando sério."
PRODUTO INÉDITO FACILITA REFORMA
"O importante é o conceito que as pessoas têm da empresa em
que trabalham. Estamos modificando esse conceito, para melhorar o atendimento
e a imagem da empresa no mercado. Nosso forte são os clientes de transporte
de carga, mas queremos ampliar esse espectro, pois trabalhamos com 30 a 40%
de capacidade ociosa. Podemos reformar entre 2,55 mil a 3 mil pneus por mês,
mas estamos com uma média de 1,8 mil.
Temos uma equipe de seis vendedores, que trabalham com caminhões que
fazem o recolhimento do material. Estamos, também, organizando melhor
essa área, pois é preciso ter alguns critérios para trabalhar
em vendas, e não depender apenas do 'feeling' do vendedor.
O problema é que existe muita desconfiança na praça e também
muitos vícios. Muitos clientes costumam ver apenas preço, não
se dando conta de que a concorrência predatória, que oferece vantagens,
também distribui falta de qualidade.
Um dos nossos trunfos para enfrentar a concorrência é o uso de
um novo produto que foi criado internamente e vamos lançar no mercado.
Trata-se de uma câmara-de-ar adaptada à estrutura interna do pneu,
que facilita o manuseio da recauchutagem, dispensando a prensa. Usamos um aro
adaptado, que é também patente nossa, e a câmara. Esse processo
ocupa menos espaço, e a produção fica mais simples, pois
o trabalho pode ser feito de pé. Para viabilizar o produto, criamos uma
empresa nova, ainda sem nome definido."
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