O Efeito Dominó da Rede Familiar
Numa família
de empreendedores, tamanho pode ser decisivo para a diversificação
e o crescimento. O volume da mão-de-obra interna disponível para
o trabalho sugere a criação de novos espaços, até
que todas as pessoas estejam bem colocadas para garantir a prosperidade e a
sobrevivência. Às vezes, essa vocação revela-se no
registro da firma, como é o caso da empresa Nove Irmãos - Tel.:
(016) 729-5900 -, criada em 1970 em Ituverava, São Paulo.
De um pequeno empreendimento especializado em artigos de armarinho e de confecções,
a Nove Irmãos foi expandindo-se, até virar um grupo que possui,
também, uma construtora e uma firma de materiais de construção,
além de restaurante, loja de calçados, papelaria, perfumaria e,
futuramente, uma indústria têxtil. O princípio adotado é
simples: a necessidade de uma firma incentiva a abertura da seguinte, que é
administrada por um ou mais membros da família com novas responsabilidades.
Só que é preciso ter cuidado: nem sempre esse desdobramento significa
crescimento real. No depoimento a seguir, Marcus Vinicius da Silva fala
sobre a autocrítica que precisou aplicar no grupo Nove Irmãos
para erradicar vícios adquiridos ao longo do tempo. Segundo filho de
uma viúva que, ao perder o marido precocemente, precisou inaugurar os
negócios para garantir o sustento de todos, ele assumiu cedo o encargo
de ajudá-la e, mais tarde, administrar o empreendimento. Hoje tem consciência
de que, para ser empresário de fato, é preciso mudar radicalmente
de mentalidade.
INCHAR NÃO É CRESCER
"A maior dificuldade que temos, hoje, é transformar uma empresa
familiar em empresa propriamente dita. Muitos vícios foram acumulados
com o tempo. Isso costuma matar um empreendimento. Agradeço ao SEBRAE/SP
por estar ajudando-nos a profissionalizar a administração da Nove
Irmãos. Chega uma hora em que a gente começa a crescer desesperadamente,
mas não possui uma estrutura adequada para agüentar, então,
ocorre o inverso: você acaba indo para trás. Descobri, então,
que tinha inchado, não crescido.
É preciso estar bem estruturado para enfrentar as transformações
rápidas do mercado e da política econômica do governo. O
importante no trabalho dos consultores do SEBRAE/SP é que eles não
chegam falando o que você deve fazer. Eles conversam e fazem com que você
enxergue qual o caminho a ser tomado.
A consultoria não muda nada, se o empresário não tiver
cabeça para essa virada. A primeira coisa que precisa mudar no empresário
brasileiro, principalmente o pequeno, é a mentalidade. Isso não
é fácil de acontecer, especialmente aqui no interior. Com muita
dificuldade, estou aprendendo a ser empresário de fato. Se a cabeça
mudar, a ação também muda, e tudo pode ficar mais compatível.
Somente é preciso ter mais autoconfiança."
UMA FIRMA PUXA A OUTRA
"Até 1976 a Nove Irmãos permaneceu igual, um armarinho que
também vendia algumas roupas. Quando minha mãe faleceu, a própria
necessidade de custear a família obrigou-me a abrir mercado. Meus irmãos
- somos seis homens e três mulheres - eram todos menores, com
exceção do irmão mais velho, que estudava fora, quando
todo esse processo empresarial começou.
Eu não estou à frente de todos os negócios, atualmente.
Dei início à expansão da firma, que deslanchou a partir
de 1980, mas cada empreendimento - todos situados aqui em Ituverava -
é administrado separadamente, pois existe capacidade na família
para isso. Concentrei o empreendimento original no ramo de confecção
e hoje toco esse negócio diretamente com a ajuda de uma irmã,
já que as outras duas foram cuidar da loja de calçados.
Aqui, criamos um espaço de marketing bastante flexível. Vamos
montar nele uma galeria de arte, com obras de artistas locais, e uma passarela
para desfiles dos nossos lançamentos. Se for necessário, ele será
usado também para vendas. Antes, tínhamos, aqui, uma seção
de calçados, que agora é uma firma à parte. Aconteceu o
mesmo com a perfumaria, que, a partir de uma experiência nesta loja, transformou-se
numa franquia da L'Acqua de Fiori.
A loja de materiais de construção seguiu o mesmo caminho. Ela
é fruto das demandas da construtora, que, por sua vez, foi criada a partir
da necessidade de colocação de dois irmãos formados em
engenharia. Mas existem outros critérios: adquirimos a papelaria, por
exemplo, por ter sido uma oportunidade que merecia ser aproveitada. A montagem
dessas firmas foi facilitada por uma decisão tomada no início,
logo que minha mãe faleceu: adquiri a casa em que funcionava o armarinho,
e, com muito esforço, ela foi transformada num prédio, que é
a sede do grupo Nove Irmãos."
O CAMINHO É PRODUZIR MAIS
"Sou um dos fundadores da Associação Comercial da cidade
e acho que devemos pensar mais uns nos outros. É importante não
ficar só atirando pedra - o que é muito fácil -
e ser um pouquinho vidraça. Cada cidadão tem que participar junto
à sua comunidade, por menor que ela seja, pois depende de cada um tentar
melhorar a situação, independentemente dos políticos ou
do governo. A melhora da comunidade irá beneficiar o comércio.
Precisamos inclusive pensar nos nossos concorrentes.
Se um consultor vem aqui, eu o indico para outros comerciantes, pois sei que
eles têm a mesma necessidade. Se eu ajudo um concorrente a se estabilizar,
isso vai ajudar o meu estabelecimento também. Não adianta um só
pensar grande. Se mais de uma pessoa fizer o mesmo, deixa de ser um sonho para
virar realidade.
É importante também deixar de ser o comerciante cansado, que cuida
de tudo, das vendas, da cobrança, da contabilidade. O SEBRAE/SP ensinou
outra coisa, que é ter assessoria, delegar poderes. O restaurante, por
exemplo, que é uma atividade cansativa, hoje está mais fácil
de administrar, pois tem um gerente lá que toma decisões. A idéia
é cada vez produzir mais, e acredito que esse seja o melhor caminho para
o País."
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