Home











...



« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 121 (31/07/1994)

Embarque Numa Viagem sem Retorno

Tem gente que ainda pensa em montar um negócio para deixar de trabalhar e ficar rico no máximo em um ano. Quem realmente resolve encarar uma atividade empresarial acaba descobrindo outra realidade, composta de dedicação total e exclusiva, empate integral do patrimônio pessoal e paciência infinita diante dos riscos. Nessa viagem sem retorno, no qual diariamente a capacidade profissional é posta à prova, o que vale a pena é ver o empreendimento ganhar vida própria, apesar de todas as ameaças e todos os conflitos.
Para quem está no jogo, nenhuma emoção se compara a essa experiência de vida e morte diante do mercado. Nem mesmo ganhar na loteria. É o que garantem os sócios José Henrique Telles Bellini e Heron Frossard Santos, da F&B Plastic, ou Frossard & Bellini Indústria e Comércio Ltda., de São José dos Campos - tel.: (0123) 31-9224. Se recebessem a sorte grande, não hesitariam em colocar tudo na empresa, uma pequena indústria com duas extrusoras e nove funcionários e capacidade de fabricar setenta itens, especialmente para material de construção, como mangueiras e perfis de PVC, incluindo conduítes sanfonados, que são seu sucesso de venda.
Ex-funcionários de estatais - Bellini trabalhava na Embraer e Frossard na Petrobrás -, eles fizeram da F&B Plastic a concretização de um sonho antigo, de infância. E descobriram coisas muito mais importantes do que pensar em dinheiro fácil ou trocar de carro todo ano. É o que eles contam no depoimento a seguir.

CONCORRENTES MOSTRAM O CAMINHO -
"Tivemos facilidade e incentivo para sair dos empregos e vimos, aí, a oportunidade de montar uma indústria que não tinha similar aqui na região. Nosso início foi bastante problemático, pois não sabíamos como trabalhar na área escolhida. Nosso referencial foram os concorrentes, como eles agiam, faziam as vendas, quem eram os clientes. Fizemos algumas modificações, mas, principalmente, procuramos conhecer como era o mercado e como eram feitos os negócios.
O mercado de São Paulo, capital, é muito concorrido, e até hoje temos dificuldade de entrar nele, devido à existência de grandes fabricantes do ramo. Resolvemos fugir um pouco daqui e vendemos mais para o interior do estado, Nordeste, Brasília e Goiás. Concentramo-nos em preço, qualidade e atendimento. Os clientes têm conosco um atendimento personalizado inexistente nos grandes fornecedores, e isso é um diferencial importante. Conseguimos alguns clientes, concentramo-nos neles e fomos aos poucos aumentando.
Comprar as máquinas e a matéria-prima inicial exigiu tudo o que tínhamos, todo o nosso patrimônio - e mais algumas coisas. Não é apenas comprar, fabricar e vender. Existe um lapso de tempo até você receber, e nesse intervalo você não pode parar de produzir. Em dois anos e meio de trabalho, não deu para reaver tudo. Acho que só conseguiremos repor o que gastamos em cinco ou seis anos de firma. Depois de iniciada essa atividade, não há mais volta. Se pararmos agora, pior do que não termos construído nada, ainda será a perda de tudo o que havíamos alcançado antes."

INFORMAÇÃO INCENTIVA O BOM SENSO
"As pessoas falam que essa preocupação em reinvestir todo o lucro na empresa é uma espécie de vício. Inclusive notam que, há mais de dois anos, não trocamos de carro. Mas só assim é possível crescer. Não vamos comprar barco para deixar em Angra, pois isso não é necessário. É gratificante ver o que estamos fazendo aqui, gerando empregos, vendo famílias inteiras sobreviver desse empreendimento. Quando compramos o primeiro lote de matéria-prima, ficamos preocupados em pagar. Eram 500 quilos. Hoje, consumimos, às vezes, 20 mil quilos por mês só de PVC e mais de 20 mil quilos entre outros produtos, como polietileno (PE) e polipropileno (PP).
Temos, por exemplo, uma máquina que funciona o dia inteiro, 24 horas, fazendo esse tubo sanfonado, que chamamos de corrugado. É um material muito barato e com grande saída. Levamos algum tempo para nos convencer a fabricá-lo. Esse é um processo de aprendizado contínuo, em que não existe rotina. Aliás, se implantamos uma atividade interna que vira rotina, imediatamente delegamos esse serviço para outra pessoa fazer, pois nossa hora é muito mais cara do que a de um funcionário. Aqui você aprende todo o dia, é como qualquer outra profissão.
Isso tudo contraria a visão que tínhamos de que iríamos abrir um negócio para parar de trabalhar, ou que, em um ano, um empresário já está nadando em dinheiro. Nesse aprendizado, contamos, desde o início, com o apoio do SEBRAE/SP, que nos deu um curso de iniciação empresarial e depois nos ensinou a fazer o controle da produção e das vendas e nos orientou no processo de fixação do preço final. Hoje, não colocamos mais o mesmo preço do concorrente. O bom senso é inerente à pessoa, mas, tendo maiores informações, o discernimento fica muito melhor."

MERCADO DITA AS REGRAS
"Precisamos sempre nos preocupar em encontrar um ponto de equilíbrio entre crescer e não dar um passo maior do que as pernas. Demos um salto muito grande em dois anos, mas tivemos que nos reciclar em muitas coisas. O tubo corrugado vende muito bem, mas, no início, não nos dedicávamos a esse tipo de produto. O mercado impôs isso, pois chegou uma hora em que nosso material mais sofisticado, o PVC, não vendia tanto quanto esperávamos, foi quando tivemos que procurar novos produtos para a nossa linha. Continuamos produzindo a mangueira de PVC, que é de ótima qualidade, e outros produtos mais acessíveis, pois o consumidor exige isso. Não queremos ter um só tipo de cliente, fabricando um espectro reduzido de produtos.
Estamos na batalha por distribuidores de grande porte e de novos representantes comerciais. Temos 26 em todo o País, de Santa Catarina ao Maranhão. Além de São Paulo, capital e interior, e sul de Minas Gerais, precisamos de gente que trabalhe com nossos produtos no litoral sul do estado, como Peruíbe, Mongaguá, Santos, Bertioga. Queremos pessoas que agreguem novos itens à sua carteira e precisem conquistar novos clientes. Precisamos de gente que venda, e não apenas dos tradicionais tiradores de pedido."


« Entrevista Anterior      Próxima Entrevista »
...
Realização:
IMEMO

MANTENEDORES:

CNS

CRA-SP

Orcose Contabilidade e Assessoria

Sianet

Candinho Assessoria Contabil

Hífen Comunicação


Pró-Memória Empresarial© e o Programa de Capacitação, Estratégia e Motivação Empreendedora Sala do Empresário® é uma realização do Instituto da Memória Empresarial (IMEMO) e publicado pela Hífen Comunicação em mais de 08 jornais. Conheça a história do projeto.

Diretor: Dorival Jesus Augusto

Conselho Assessor: Alberto Borges Matias (USP), Alencar Burti, Aparecida Terezinha Falcão, Carlos Sérgio Serra, Dante Matarazzo, Elvio Aliprandi, Irani Cavagnoli, Irineu Thomé, José Serafim Abrantes, Marcos Cobra, Nelson Pinheiro da Cruz, Roberto Faldini e Yvonne Capuano.

Contato: Tel. +55 11 9 9998-2155 – [email protected]

REDAÇÃO
Jornalista Responsável: Nei Carvalho Duclós - MTb. 2.177.865 • Repórter: ;
Revisão: Angelo Sarubbi Neto • Ilustrador: Novo

PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTAS ENTREVISTAS sem permissão escrita e, quando permitida, desde que citada a fonte. Vedada a memorização e/ou recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte da obra em qualquer sistema de processamento de dados. A violação dos Direitos Autorais é punível como crime. Lei nº 6.895 de 17.12.1980 (Cód. Penal) Art. 184 e parágrafos 185 e 186; Lei nº 5.998 de 14.12.1973


Hífen Comunicação
© 1996/2016 - Hífen Comunicação Ltda. - Todos os Direitos Reservados
A marca Sala do Empresário - Programa de Capacitação, Negócios e Estratégia Empresarial
e o direito autoral Pró-Memória Empresarial, são de titularidade de
Hífen Comunicação Editorial e Eventos Ltda.