Brasil é Ideal para Fazer a América
Fala-se muito no
sonho americano, que atrai milhares de brasileiros empreendedores em busca de
oportunidades consideradas escassas por aqui. Mas a experiência de duas
brasileiras, que, há vinte anos, viajaram para os Estados Unidos e agora
voltaram para São Paulo revela outra versão dessa história.
Leoni A. Dornelles e Laura Bretoni descobriram a força do País
para os negócios, ao fundar, em agosto de 1993, a Lactona do Brasil Ltda. - www.lactona.com.br -, uma empresa de representação especializada numa linha completa de produtos odontológicos, como escovas de dentes de vários tipos, entre numerosos itens para higiene bucal.
Detentoras do Green Card, que garante a permanência de estrangeiros em
terras americanas, elas nunca deixaram de visitar o País. Nas visitas
periódicas ao Brasil, foram percebendo o crescimento tecnológico
e o interesse do povo brasileiro pelas facilidades que esse crescimento oferecia
e conseqüente progresso, até mesmo de novos investimentos, mostrando,
com isso, que as oportunidades não se encontram somente no exterior mas
também aqui. Ao mesmo tempo, foram seduzidas pela intensidade empresarial
dos Estados Unidos e pela ética com que são conduzidos os negócios
por lá. Na empresa que fundaram, estão unindo o potencial de crescimento
oferecido pelo mercado brasileiro com as práticas aprendidas no exterior.
No depoimento a seguir, Leoni - que atualmente cumpre o rodízio
combinado entre as duas sócias cuidando dos negócios em São
Paulo - explica essa estratégia, mostrando-se entusiasmada com as
perspectivas de vendas dos produtos Lactona.
QUAL É A VERDADEIRA INFLAÇÃO AMERICANA?
"Fui aprender inglês nos Estados Unidos e lá trabalhei na
Petrobrás e na Universidade da Pensilvânia, mas também cuidei
de crianças, fiz manicure e desempenhei atividades comuns da mão-de-obra
migrante. Laura tem uma experiência semelhante e sempre tivemos vontade
de voltar em definitivo. O que nos impulsionou, além de querer retornar
ao País de origem, foi notar que o Brasil evoluiu nestes últimos
anos.
Por exemplo: setores como o de supermercado - que estão mais bem
equipados, com um melhor atendimento ao público, não devendo nada
aos Estados Unidos -, telecomunicações, correios, serviços
de terceirizações etc. Vimos melhores oportunidades no Brasil,
apesar de existir mais obstáculos para montar uma firma, pois estávamos
desatualizadas em relação ao País e a toda a sua burocracia.
A idéia que se passa é que com um telefone, uma mesa, um espaço
para trabalhar e uma licença tem-se uma microempresa. Não é
verdade, pois os impostos e os encargos são os mesmos de uma grande empresa.
E a seqüência, em alguns processos (dependendo do segmento), é
quase impossível. Pensávamos que fosse como nos Estados Unidos,
onde com apenas uma licença pode-se operar uma microempresa e no final
do ano recolher os impostos.
A inflação americana é medida com outros parâmetros.
Não se leva em conta se a carne ou o café estão com o preço
alto, pois paga caro quem quer. Sempre existe alternativas para o povo defender-se
da inflação. Isso não quer dizer que os preços não
aumentarão. Mas, mesmo assim, aprendemos muito com os americanos, principalmente
que é do volume de vendas que saem os lucros. Aqui, as pessoas dão
o preço conforme a postura da concorrência e querem ganhar muito
em pouco volume de vendas. Lá, 20% ao ano é uma boa margem de
lucro.
Tivemos dificuldades com a contabilidade e outros serviços de rotina
e, graças à consultoria do SEBRAE/SP, conseguimos resolver uma
série de problemas."
REPRESENTAÇÃO É EMPRESA
DE VERDADE
"Começamos a pesquisar o mercado brasileiro, em janeiro de 1993,
pois sempre que viajávamos tinha alguém que nos pedia para trazer
produtos importados, especialmente os de higiene bucal. Vimos que as escovas
estavam muito pobres de opção e com os preços muito altos.
Quando formamos a idéia do que realmente queríamos, fomos aos
Estados Unidos e fizemos uma proposta para a Lactona, que é uma multinacional
especializada no setor. Queríamos apenas comprar e revender.
A nossa surpresa é que eles ofereceram representação exclusiva
para todo o Brasil. Laura foi muito corajosa, veio na frente e ficou um ano
aqui, implantando a empresa. Eu cheguei em abril deste ano e estou gratificada
com o trabalho. Estava sentindo-me fora de forma e tive que colocar a mão
na massa, preencher cheque, ir ao banco, acompanhar a contabilidade, conquistar
novos clientes. E também enfrentamos o descrédito na praça:
como vocês querem vender escovas num país de desdentados? Mas argumentávamos
que basta 1% de um país de 150 milhões de habitantes."
ESCOVA PARA FUMANTES
"Temos uma linha só
para dentistas e outra para farmácias e lojas de conveniência.
Temos escovas variadas, especiais para fumantes, de cerdas naturais, que facilitam
soltar a nicotina e limpar entre os dentes. Também as usadas por quem
tem aparelho nos dentes, as infantis, com sabores naturais de laranja e morango,
entre muitas outras.
Vendemos para alguns clientes importantes, como a Drogasil, que nos abriu as
portas e sempre renova os pedidos. Queremos crescer aos poucos, de maneira sólida,
fazendo uma representação séria. Temos condições,
também, de dar assessoria para quem quiser importar dos Estados Unidos,
pois fazemos muita pesquisa de mercado.
Esse é um desdobramento interessante das novas atividades empresariais,
pois adquirimos muita experiência nessa implantação de uma
empresa de representação no País. Estamos aqui para ficar
e queremos fazer um trabalho de longo prazo, permanente. Não temos a
filosofia imediatista de muitas iniciativas, que conseguem colocar alguns lotes
e depois somem do mercado. Optamos pelo mercado brasileiro, em sintonia com
as tendências internacionais."
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