Congelados Garantem Mesa Familiar
Prato
congelado é para quem tem o tempo contado e não pode, como antigamente,
dispor de alguém para cozinhar. Essa tendência mundial enfrenta
uma série de problemas no Brasil, como falta de regulamentação
normativa, que ajudou a queimar o mercado, pois permitiu a proliferação
do amadorismo e do oportunismo; conseqüente falta de credibilidade e de
qualidade; perda do poder aquisitivo da população, provocada pela
crise econômica; e mudanças de hábitos alimentares, que
fizeram do brasileiro um consumidor de sanduíches e de outras alternativas
inadequadas.
Mas comida congelada é tão irreversível quanto o computador,
e as próprias dificuldades acabam selecionando as firmas que optaram
por esse nicho, como a Casa de Tereza Produtos Alimentícios Supergelados
- tel.: (011) 278-7724 -, que, há dez anos, funciona no bairro da
Aclimação, em São Paulo.
O engenheiro de projetos industriais Rinaldo Zaina, ao sair da firma
em que trabalhava, em 1982, convocou toda a família para tocar a empresa,
baseada na experiência da sua esposa, Tereza, para os mistérios
da culinária. A empreitada deu certo, e hoje ele pode falar com segurança
da importância do negócio familiar para enfrentar a recessão.
E também conceituar a partir do acervo acumulado por esse trabalho, ao
longo dos anos.
REENGENHARIA É READMITIR A ENGENHARIA
"O lucro é necessário. Não para ser entesourado, pois
o dinheiro não tem essa função. O dinheiro é como
rio de planície, que precisa fertilizar a terra, produzir, gerar riqueza.
Quem só acumula é apenas especulador, que ganha dinheiro para
benefício próprio. O empresário é diferente, ele
usa o lucro para ampliar o negócio, fiel aos compromissos que assume
com clientes, fornecedores e funcionários.
A atividade do engenheiro assemelha-se muito à do empresário,
pois ele também é um realizador, embalado pela sua experiência
e sensibilidade. É preciso enxergar na frente, ver oportunidades onde
ninguém vê, compatibilizar recursos materiais e humanos e ter capacidade
de comando. Infelizmente, houve uma ruptura na profissão de engenheiro.
Muitos profissionais abandonaram o mercado e não voltaram mais, estão
em outras atividades.
Em geral, as empresas de engenharia descuidaram do aspecto técnico e
ficaram tirando lucro da especulação financeira, deixando de lado
a produção. Hoje, a atividade de prestação de serviços
de engenharia é de muito risco, pois a demanda é irregular, não
garante um faturamento permanente. Falta uma coordenação ampla
do trabalho nesse ramo e há confusão quanto à natureza
de atividades específicas. Um engenheiro de projetos, por exemplo, é
diferente de outro que cuida da manutenção. No fundo, o que chamamos
hoje de reengenharia é apenas a readmissão da engenharia, que
tinha sido abandonada."
A ESCOLA ESTÁ DENTRO DE CASA
"Minha esposa tinha vontade de iniciar uma atividade, e nós começamos
no ramo de chás e congelados. Tínhamos, inclusive, o kit completo
para o cerimonial do chá, com vários itens. Mas o chá exige
tempo de atendimento e mão-de-obra especializada difícil de encontrar.
Por isso, deixamos o chá de lado e dedicamo-nos só aos congelados.
Hoje, produzimos e comercializamos duzentos produtos, da entrada da refeição
à sobremesa, para clientes de toda a São Paulo e também
de outros estados.
A firma familiar foi uma escola para a família toda, especialmente nossos
dois filhos, que, na época da inauguração, estavam na faixa
dos 12 e 13 anos. Hoje, o mais velho é formado em administração
e continua trabalhando conosco. O mesmo ocorre com o outro, que tem um grande
tino comercial e cuida das vendas. A minha participação é
pequena, pois continuo trabalhando como consultor na área de engenharia.
O negócio só se viabilizou graças ao trabalho dos filhos,
que, desde cedo, se engajaram no projeto e ficaram muito mais preparados para
a vida com essa experiência.
Antigamente, os pais cuidavam da formação escolar, da graduação
na faculdade e sentiam-se, então, realizados, pois os filhos iam para
o mercado de trabalho. Hoje, isso não é mais suficiente, pois
não existe emprego. Então, um negócio familiar é
a melhor herança, é o que realmente fica. O importante numa firma
familiar é a flexibilidade. O grande desafio é comportamental,
administrar essa faixa que separa a vida pessoal e a profissional. Quando isso
é bem equacionado, a empresa consegue ser bem sucedida."
PORÇÃO É CONCEITO SUBJETIVO E ILEGAL
"Existe ainda muito congelado vendido com um padrão de medida incorreto
e até ilegal, que é a porção. O certo é o
peso líquido. Outro dado que causa desconforto ao consumidor é
que, no Brasil, o produto congelado não costuma ficar exposto. Na Europa,
o consumidor precisa ver o produto para levar. O problema é que, aqui,
muita gente faz congelado de qualquer maneira e, hoje, deixa-se de consumir
o produto, porque ficou essa imagem de falta de qualidade.
Desde o início, procuramos facilitar a vida do consumidor. Além
do cuidado com a qualidade, expomos todos os nossos pratos e desenvolvemos,
graças ao apoio do SEBRAE/SP e da USP, técnicas para tornar o
descongelamento mais prático, evitando que, por algum descuido, o alimento
estrague. Por exemplo: criamos, junto com o fabricante, um saco plástico
que envolve o congelado e pode ser colocado em água fervente, em que
a temperatura é constante. Num forno tradicional, a temperatura tende
a aumentar até 300 graus, e alguns minutos mais costuma comprometer o
sabor e a textura do alimento.
Nossos produtos podem ser colocados tanto no microondas quanto no forno elétrico
ou mesmo no convencional. Na solução que desenvolvemos, a embalagem
é a vácuo e nada se perde, nem mesmo o aroma. Felizmente, temos
um padrão de qualidade de nível internacional e pretendemos montar
uma unidade de produção numa escala maior. Esse projeto também
contou com o apoio do SEBRAE/SP."
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