Outros Setores Inspiram Boas Idéias
Qual a relação
entre camiseta e pizza? Fora a evidência de que é possível
jantar vestindo-se informalmente, existem poucos fatores de comparação,
como, por exemplo, o fato de que é preciso satisfazer o cliente com um
produto bem feito. Mas não é só isso. Um setor de atividade
pode influenciar outro com soluções adaptadas, desde que o empresário
tenha os olhos livres o suficiente para tentar o que, às vezes, pode
parecer uma excentricidade.
Quando o empresário é jovem, como o universitário e futuro
advogado Socrates Spyros Patseas, de 20 anos, essa transposição
de enfoque é quase natural. Foi num "brain storm" com colegas e familiares
que ele criou sua Camizzeteria, nome inspirado nas pizzarias, onde se desenvolve
uma atividade popular, democrática e de grande sucesso, ligado ao lazer
e à alimentação barata e de qualidade.
Mas, se a idéia surgiu naturalmente, viabilizá-la exigiu esforço
e apoio da família, de origem grega. Seu pai arquiteto também
é lojista do ramo de confecções e, junto com outros membros
da clã e da comunidade grega, ajudou-o a transformar num sucesso de vendas
um pequeno empreendimento herdado do avô. Instalado no Bom Retiro, num
ponto um pouco à margem do fluxo comercial do bairro, ele produz camisetas
confeccionadas nos fundos da loja e comercializa outras peças feitas
por terceiros.
Sua pequena Patseas Ind. e Com. de Malhas - tel.: (011) 220-8444 - atraiu
outros empreendimentos semelhantes, expandindo, assim, a circulação
de clientes da região e criando novas alternativas de consumo. É
sobre essas mudanças que Socrates fala no depoimento a seguir.
ROMPENDO CICLOS DE PRODUÇÃO
"Esse era um ponto pequeno, onde meu avô estampava através
de uma velha estufa e vendia, principalmente, para o pessoal aqui do bairro.
Ele tinha uma ajudante, ocupava uma sala pequena e alugava a garagem para um
vizinho da rua. Mas ele faleceu, em 1990, e eu tive que dividir meu tempo na
Faculdade de Direito do Mackenzie com o trabalho de industrial e lojista.
Mesmo reconhecendo que esta parte do bairro é mais pacata, resolvi tentar
uma mudança. Mas eu só vendia camisetas que eram feitas internamente,
de maneira muito limitada. Pedi, então, auxílio tecnológico
na Universidade de São Paulo, e essa consultoria mudou tudo. Aqui dentro,
eram feitas peças para outros lojistas, num esquema que foi considerado
desgastante, pois rendia pouco. Fui orientado para quebrar esse ciclo de produção,
colocar as pessoas que já estavam trabalhando aqui para produzir só
para a minha loja e dividir os lucros.
Ao mesmo tempo, terceirizei os processos de estamparia e bordado e começamos,
também, a vender biquínis e bermudas, vindos de outras confecções.
Caprichamos nas camisetas, que são, hoje, uma grife de qualidade a preços
acessíveis para todos os públicos. Investimos em publicidade,
fechamos acordos com outros empreendimentos - como uma danceteria que faz
marketing com nossas camisetas - e, com os lucros da loja, iniciamos um
trabalho de ampliação do espaço industrial."
GOSTARIA DE GERAR MAIS EMPREGOS
"Hoje, temos cinco funcionários, mas os encargos sociais não
me permitem ampliar o quadro. Gostaria que houvesse melhores condições
para o empregador, pois, assim, poderíamos repassar melhor o dinheiro
para os trabalhadores que constroem conosco o sucesso da empresa. Nossa intenção
é ampliar a produção, que, por enquanto, está por
volta de 2 mil camisetas por mês.
O plano de estabilização da economia permitiu um planejamento
mais elaborado da produção. Podemos comprar matéria-prima
com até dois meses de antecedência e, se estivesse mais capitalizado,
poderia ter margem de manobra ainda maior. Já estamos começando
a diversificar, fazendo bermudas, por exemplo. Graças à orientação
do SEBRAE/SP, melhoramos o atendimento, que, hoje, é totalmente personalizado,
levando em consideração todo o tipo de cliente, sem fazer nenhuma
restrição. Começamos, também, a abrir domingo, quando
veiculamos alguma promoção na mídia.
Isso ajudou a formar uma clientela fiel e atraiu muita gente que vem aqui para
verificar a qualidade, a criatividade e o preço de nossas confecções.
Desenvolvemos internamente um clima gostoso de relacionamento que nunca é
repetitivo ou monótono. Procuramos atender, e não induzir o cliente
a comprar o que ele não quer ou não precisa. E também ouvimos
suas sugestões para aplicar nas camisetas, pois cliente bem tratado fica
satisfeito e sempre volta.
Ao mesmo tempo, desenvolvemos embalagens próprias para presente. Muita
gente não sabe, mas, hoje, o Bom Retiro está criando e lançando
moda, como acontece nos Jardins. Nosso apelo é: camisetas de grife pela
metade do preço."
CHEGA DE PESSIMISMO
"É preciso melhorar a produção, diversificar, unir
os empresários e ir à luta, deixando o pessimismo de lado. O SEBRAE/SP
fez-me ver novas oportunidades. Anunciar, por exemplo, que antes nem estava
nos meus planos, é um investimento barato e provoca uma repercussão
enorme. Como também vendo no atacado, hoje tenho clientes de fora do
estado.
Recebo bastante apoio da comunidade grega, que tem o comércio no sangue
e conseguiu prosperar aqui, no Brasil. Meu avô lutou na Segunda Grande
Guerra, tinha uma grande sapataria na Grécia, mas precisou vir para cá
para escapar das dificuldades. No Bom Retiro, tem muito armênio, grego,
judeu, todos trabalhando bastante para a prosperidade da região.
Acho que é possível fazer o País crescer, desde que nos
determinemos a isso. Tenho procurado informar-me muito sobre negócios,
lendo livros de marketing e procurando ajuda nas pessoas da minha geração.
Acho que os jovens, se forem incentivados, podem surpreender nos negócios.
Tenho colegas, inclusive de outras áreas, que estão dando força
para as minhas iniciativas e colaborando diretamente no desenvolvimento de novas
idéias."
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