Vanguarda Migra para os Negócios
Vanguarda é uma palavra normalmente ligada às manifestações culturais, enquanto conservadorismo ou prudência estão intimamente relacionadas com administração e negócios. Nos últimos anos, essa situação está mudando. Talvez não exista nada mais radical e avançado hoje do que o mundo dos negócios, como atestam a eliminação das fronteiras econômicas, o desmantelamento das velhas estruturas hierárquicas e aquilo que William Bridges, numa antológica reportagem de capa da revista Fortune, de setembro de 1994, chamou de "O Fim do Emprego".
Bridges alerta para as novas relações profissionais que surgem a partir de um avassalador dinamismo, em que o relógio de ponto é substituído por equipes especialmente formadas para tocar projetos adequados à expansão dos mercados e à demanda personalizada de consumidores exigentes. Disso, nem o Brasil escapa. Nesta terra de muito trabalho e de poucos empregos, ciclicamente fustigada pela crise, a estabilização, a terceirização, a tecnologia e a abertura comercial liberam novas forças que se engajam na atual virada desenvolvimentista.
Existem empresas que aproveitam o maior número possível dessas forças para poder trabalhar sem sustos, como é o caso da Ignis Comunicações Indústria e Comércio Ltda. - tel.: (0162) 72-3094 -, filiada à Fundação ParqTec de São Carlos, que tem o apoio do SEBRAE/SP.
Os empresários Guilherme Mascaro da Silva e Marcos Elias - que tocam a firma junto com outro sócio, Celso Luís Gonçalves - falam sobre esse trabalho no depoimento a seguir.
UM PRODUTO DESENCADEIA SERVIÇOS
"Começamos, em 1989, produzindo o Balum, um dispositivo que dispensa os caros e volumosos cabos coaxiais nas redes com computadores de grande porte, permitindo o uso de fios comuns de telefone. Esse conector representa economia de 70% nas instalações. A IBM dispôs-se a testar o produto, abrindo caminho para uma parceria que se desdobrou em numerosos negócios, todos ligados à terceirização.
Hoje, a Ignis é a maior fabricante do País desses conectores, sendo responsável por 35% do mercado nacional do setor. O cliente desse produto possui uma rede de computadores e precisa que alguém faça a manutenção. Fazemos, então, prestação de serviços sob contrato, colocando funcionários nossos trabalhando nas empresas-clientes.
O resultado desse tipo de desdobramento é que hoje o Balum representa apenas 10% do nosso faturamento. Somos uma empresa que vende soluções. Pela experiência acumulada, fazemos treinamento de pessoal e atendemos qualquer tipo de empresa, de qualquer porte, e propomo-nos a resolver os problemas do cliente, abrangendo diversos setores, com exceção de restaurante e segurança. A chave desse trabalho é a terceirização. Hoje, nossas principais atividades são: terceirização de mão-de-obra especializada e gestão de processos de terceirização; venda, projeto, instalação de redes de microcomputadores; manutenção corretiva e preventiva em redes computacionais e de telefonia; consultoria e assessoria em implantação de projetos para melhora de qualidade."
UMA ESTRATÉGIA FLEXÍVEL -
"Uma grande empresa que queira terceirizar alguns setores nos chama e, num primeiro momento, fazemos uma análise e fornecemos um diagnóstico da situação, mostrando onde deve ser feito esse trabalho e quanto a empresa vai economizar com ele. Dentro das nossas áreas de atuação, dispomo-nos a assumir algumas atividades terceirizadas. Temos condições de trabalhar em manutenção predial, manutenção de redes, serviços administrativos em geral, implantação de sistemas de qualidade e parte de auditoria de processos.
Em agosto de 1994, recebemos o prêmio Destaque IBM, que é o reconhecimento anual dos fornecedores que desempenham suas funções com excelentes níveis de qualidade. O sistema de medição é o Market Driven Quality (MDQ), que qualifica como excelentes apenas as empresas que atingem 3,4 erros em cada milhão de operações realizadas. Somos agora "key suplliers", ou fornecedores-chave, e a única empresa brasileira que atingiu o nível exigido na área de manutenção de redes de teleprocessamento.
Cuidamos de toda a rede de dados da IBM no Estado de São Paulo, onde está o maior Centro de Processamento de Dados da América Latina. Isso significa aproximadamente 3,2 mil usuários e mil quilômetros de cabo. E auditamos não só os outros fornecedores como também a própria IBM. Passamos a ser parceiros, fazendo parte da solução que a IBM oferece aos seus clientes, que vende a Ignis."
COLABORADORES GERAM NEGÓCIOS
"Dos nossos duzentos funcionários, trabalhamos diretamente com apenas trinta. Os outros são residentes nas empresas-clientes. Mas temos esquemas criativos de trabalho. Funcionários que se destacaram na prestação de serviços, como instalação de redes e serviços de grande porte em eletricidade ou hidráulica, acabam virando empresários. Nós abrimos a empresa para eles, fazemos todo o meio de campo e comprometemo-nos, através de contrato, a oferecer um mínimo de faturamento para cada um deles. E eles conseguem formar rapidamente equipes para tocar os projetos que vamos vendendo e, tendo autonomia, expandem seus próprios negócios, criando, a curto prazo, independência em relação à Ignis.
Isso gera novas empresas e livra-nos de encargos sociais pesadíssimos. Ficamos apenas com gerentes e supervisores, os líderes que coordenam todos os processos. Tudo funciona graças a esse pessoal-chave e aos ex-funcionários, que, como pequenos empresários, nos fornecem a mão-de-obra básica.
Na área comercial também implantamos um esquema dinâmico. Estamos criando um modelo de escritório em Campinas, que faz parte de um projeto de marketing para conseguir aumentar as vendas da Ignis em outras regiões do País sem a necessidade de ter funcionários-chave. É uma espécie de franquia, à qual damos todo o apoio a parceiros que funcionam como unidades geradoras de negócios."
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