Encare o Adversário como um Cliente
Concorrente
não pode ser visto como um inimigo para toda a vida. Quem segura um confronto
direto por tempo prolongado num mercado mutante e problemático? Não
só as pequenas e médias empresas precisam encontrar novas soluções
para continuar vivas mas também as grandes, que, diante dos ciclos recessivos,
já se acostumaram a agir como se fossem de menor porte. As dificuldades,
os desafios, as transformações colocaram todos na mesma arena.
Sobrevive quem se adapta mais rapidamente, e não quem procura exibir
força.
Essa foi a lição que salvou a Decorplaste Ind. e Com. Ltda.
tel.: (011) 296-9677 -, de São Paulo, especializada em decoração
de produtos de plásticos (injetados e soprados). Os sócios Wanderlei
J. Lopes e Sérgio Gregório viram, em 1990, no furacão
Collor, que teriam poucas chances de sobrevivência se não mudassem
o enfoque da indústria que fundaram, em 1985. Sua especialidade é
o hot-stamping, aplicando a combinação do princípio tempo,
pressão e calor. Também o transfer, espécie de decalcomania
com tecnologia de ponta, aplicado sobre o mesmo princípio.
Mas a crise, a verticalização do setor implantada pelos transformadores
de plástico e a concorrência mudaram tudo. A saída foi vender
insumos de hot-stamping. Hoje, a Decorplaste aluga seus equipamentos para os
antigos concorrentes e vende para eles bobinas de hot-stamping, clichês,
placas e rolos de silicone. Mas não abriu mão de antigas especialidades
e oferece uma diversificação ainda maior. Os detalhes dessa estratégia
são enfocados por Wanderlei no depoimento a seguir.
UMA LIÇÃO DEIXADA PELO FARAÓ
"Até a Segunda Guerra, quando surgiram as primeiras
resinas termo-plásticas, o princípio do hot-stamping - guardadas
as devidas proporções - era o mesmo usado desde a época
dos faraós egípcios. Um suporte, ou matriz, com uma camada de
ouro em pó colado no verso, era depositado sobre um papiro. Com um instrumento,
fazia-se a punção para impregnar no papiro a impressão
pretendida. A partir dos anos 40, surgiram novas tecnologias, as quais permitiram
que as fitas de hot-stamping - que utilizavam ouro como matéria-prima
- fossem substituídas por materiais sintéticos derivados
do petróleo, aliados ao uso do processo a vácuo por alumínio.
As modernas fitas são sanduíches de materiais que incorporam as
mesmas resinas que servem para fabricar as peças de plástico.
Peguei o vírus dessa tecnologia quando trabalhava na Manufatura de Brinquedos
Estrela e vi nela a possibilidade de realizar um sonho da infância: ser
industrial.
A Decorplaste produz, hoje, placas de silicone para gravação de
peças com superfície de alto-relevo; clichês para desenhar
extensões, marcas, logotipos ou contornos de alta precisão; rolos
de silicone, ideais para grandes superfícies e aplicação
de fitas transfers com desenhos contínuos. Fabricamos, também,
fitas transfers para decoração de peças plásticas
e distribuímos fitas de hot-stamping utilizadas na marcação
de validade nas embalagens alimentícias, entre outras aplicações.
E temos um produto sensacional, que é a fita transfer, denominada comercialmente
como "Transplaste", que possibilita decorar qualquer formato de peça
plástica em até seis cores em uma única operação.
Esse material que fabricamos aqui, no Brasil, bate em preço e qualidade
em comparação com os coreanos, que eram considerados os mais baratos
do mundo. Mas não ficamos só nisso. Dominamos a tecnologia de
sublimação para teclados de informática e de telefonia,
que resistem a 15 milhões de toques a 60 gramas/força. Esse tipo
de decoração não sai com o uso, só se você
raspar o topo das letras. E oferecemos máquinas de hot-stamping com vários
acessórios, todos com assistência técnica permanente."
FATURANDO MAIS COM MENOS "Atuamos em todos os
segmentos que usam plástico, como biofarmacêutico, brinquedos,
higiene oral, cosméticos, eletroeletrônico, informática,
gráfica, couro, linha branca, indústria montadora, auto-peças,
bijuterias, brindes etc. Estamos, agora, montando um esquema de representantes
para podermos expandir negócios em todo o Brasil e incrementar nossos
planos de exportação.
Nossa decisão de mudar o perfil da atuação foi tomada a
partir do Plano Collor. Começamos a estudar onde éramos fortes,
onde poderíamos diferenciar-nos e onde buscar apoio. Graças ao
SEBRAE/SP, conseguimos informatizar a empresa e tivemos acesso a um financiamento
do Banco do Brasil. Agora, estamos entrando num processo de busca de qualidade
total. Numa parceria com uma empresa americana, estamos pensando também
em abrir mais uma fábrica de hot-stamping no Brasil, que, por enquanto,
possui apenas três, e um preposto de origem européia.
Tornamo-nos uma empresa enxuta e ágil. Tínhamos 48 funcionários
e, hoje, faturamos mais com apenas doze funcionários"
AUTOCRÍTICA MOSTRA O CAMINHO
"Aprendemos muito com nossos erros, que foram: primeiro um plano mal conduzido
de participação nos lucros, em que todo mundo queria ser chefe
e ninguém queria ser o executor; e, segundo, faltava-nos planejamento
financeiro, o que criava um mistério, pois circulava muito dinheiro e
praticamente não tínhamos lucro. Terceirizamos a contabilidade,
o que eliminou uma grande carga de trabalho interno. Hoje, temos um responsável
pela contabilidade que dedica apenas 20% do seu tempo a isso; o resto é
feito por uma empresa especializada.
Definimos, assim, nossas prioridades de vida: a empresa está em primeiro
lugar; o conhecimento, em segundo; a saúde e o bem-estar, em terceiro;
e a família vem em quarto lugar. Pois, se a empresa está bem,
todos os outros três itens estão bem. Para isso, é preciso
ficar atento ao mercado. Devido à recessão, à concorrência,
ao poder de compra do consumidor, à grande empresa comportando-se como
pequena, é necessário um planejamento flexível, ajustando-se
permanentemente às necessidades de nossos clientes, sempre com projetos
e produtos que permitem simplificar a decoração no plástico."
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