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« Memória Empresarial • ANO XXVIII - Ed. 140 (11/12/1994)

O Especialista Luta pelo seu Mercado

Especialidades são, tradicionalmente, departamentos estanques, isolados entre si pelas barreiras funcionais. Mas isso está mudando. Hoje, a tendência não é especializar-se em funções, mas em processos. Isso cria um paradoxo: o especialista está ficando, cada vez mais, parecido com um clínico-geral, embora jamais possa ser confundido com um generalista. Vamos tomar o exemplo de um engenheiro-clínico. Trata-se do profissional que cuida da interface entre o equipamento médico e o paciente. Poderia haver algo mais especializado?
No entanto, ele precisa aliar outras especialidades da engenharia e da medicina ao gerenciamento da tecnologia dirigida aos cuidados com a saúde. Isso significa fazer a conexão de diversas atividades científicas para atingir um objetivo, como a segurança hospitalar, por exemplo, que já é uma especialidade dentro da engenharia clínica. É o caso de Lúcio Flávio de Magalhães Brito, um dos quatro sócios da Engenharia Clínica Consultoria e Comércio Ltda. - tel.: (011) 881-1250.
Ele faz parte de uma elite de cinco engenheiros-clínicos brasileiros com certificação internacional que cuidam da formação de novos quadros e procuram sensibilizar os hospitais sobre a necessidade desse trabalho, fundamental para diminuir o índice de erros que ocorre na área da saúde, no Brasil. Junto com o irmão Tales e Paulo Roberto Najas - todos engenheiros -, ele, praticamente, descobre um mercado, lidando com consultoria, treinamento, planejamento, inspeção de segurança, instrumentação biomédica e marketing. É disso que ele fala a seguir.

COMO EVITAR O ERRO MÉDICO
"A engenharia clínica como profissão é relativamente nova, com um currículo escolar desenvolvido nos anos 70. A profissão foi definida pelo American College of Clinical Engineering (ACCE), que fica em Houston, Estados Unidos, e do qual faço parte desde 1991. Ela é fruto da combinação multidisciplinar da engenharia - química, mecânica, elétrica, computação - com as ciências da vida, que, usualmente incluem bioquímica, biologia, fisiologia e anatomia. É uma especialização da engenharia biomédica, que, por sua vez, atua nos projetos de novos equipamentos.
É diferente da bioengenharia, que pesquisa a compatibilidade de novos materiais com o tecido humano. E também da engenharia hospitalar, que age na infra-estrutura de um hospital. O engenheiro hospitalar preocupa-se com tudo o que existe entre o poste de luz até a tomada, e o clínico cuida da tomada para dentro dos equipamentos, valendo o mesmo raciocínio para os sistemas de gases medicinais, água etc. Mas é preciso ter uma visão global do processo, pois, às vezes, o erro médico não está ligado diretamente ao equipamento, mas, por exemplo, a defeitos nas instalações elétricas, o que, neste caso, deixa de ser um erro médico. O fato é que ninguém desconfia disso.
Como montar um sistema de ar comprimido medicinal com equipamentos convencionais lubrificados a óleo? Ou um freezer em uma sala de medicamentos? Quais os cuidados com a iluminação? Como implantar os equipamentos para beneficiar o paciente? O engenheiro-clínico cuida dessas coisas para o administrador, o arquiteto e o engenheiro hospitalar."

ROMPENDO AS BARREIRAS PROFISSIONAIS

"No Brasil, muitas vezes, precisamos assumir tarefas de outras especialidades, pois não podemos deixar de fornecer informações para o administrador. Devido à escassez de profissionais no mercado, sou uma pessoa multidisciplinar. O fato de estar num hospital é uma vantagem, pois é um ambiente que congrega muitos especialistas. Procuro romper com as barreiras interprofissionais, pedindo ajuda a quem detém o conhecimento.
Digo o seguinte: 'Vim para ajudar você, e você me ensina. Se precisar estudar eu estudo, se precisar comprar um livro eu compro'.
Esse perfil múltiplo da engenharia clínica costuma provocar espanto. Sinto isso nos cursos que ministro na Universidade Federal da Paraíba, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Unicamp e na USP. Mas, em geral, somos bem aceitos pelos outros especialistas, pois não viemos tomar o lugar de ninguém. Viemos para que o médico faça mais medicina e o enfermeiro mais enfermagem. Já treinei mais de quinhentos médicos, enfermeiros e engenheiros e ajudei a formar 65 engenheiros-clínicos, que estão no mercado, abrindo espaço e procurando especializar-se ainda mais.
No meu caso, estou fazendo mestrado em engenharia biomédica com ênfase na engenharia clínica aplicada à segurança do ambiente hospitalar, que é um problema sério em todo o mundo. Elaborei para o Ministério da Saúde um manual sobre esse assunto, que mostra desde os aspectos legais até um glossário geral com normas de qualidade e informações. A maioria dos hospitais no Brasil é carente de segurança, por vários motivos. Além disso, aliado à imperícia médica, existe o mau uso ou a subutilização dos equipamentos, o que nos abre a perspectiva de contribuir com grande parte do processo relacionado a esta área, como as especificações técnicas em licitação, manutenção preventiva, reposição de peças, treinamento etc."

ENGENHEIRO PRECISA SABER ADMINISTRAR

"Eu acredito que estamos formando um mercado, que é potencialmente muito grande, ajudando, inclusive, na sua divulgação através de artigos e da organização de eventos. Estima-se que cerca de 20 a 40% de todos os equipamentos médicos existentes no Brasil, com valor aproximado de US$ 1,5 bilhão, estão parados por falta de instalação, acessórios, peças de reposição e serviços de manutenção. Nossa intenção é formar técnicos que cuidem dos equipamentos em regime de parceria conosco.
Podemos cuidar, também, do planejamento e da tecnologia hospitalar, assumindo tarefas de quarteirização, ou seja, checar o trabalho de firmas que prestam serviços para os hospitais em regime de terceirização. Contamos com o apoio do SEBRAE/SP para implantar esses processos."


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